segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mercado de carnes brasileira em busca de fiéis

Desde a eclosão da crise financeira mundial, no final de 2008, o mercado árabe emergiu como uma espécie de "porto seguro" para os frigoríficos brasileiros. Um dos grupos que viu suas vendas para a região decolarem foi o Minerva, que hoje exporta para 14 países árabes, dentre eles Líbano, Arábia Saudita, Argélia, Egito e Líbia, que importam principalmente carne bovina in natura desossada e congelada do Brasil. "Hoje, sem dúvida, o Oriente Médio detém uma fatia muito expressiva, que chegou a atingir quase 40% do volume total exportado no segundo trimestre de 2010", afirma Fernando Galetti de Queiroz, presidente do Minerva, ressaltando que R$ 655 milhões da receita bruta de R$ 920,2 milhões (+35,8%) consolidada do segundo trimestre de 2010 corresponderam às exportações de carne.
Porém, colher os frutos da relação comercial com os países árabes exige um esforço por parte das empresas brasileiras exportadoras de carne bovina e de frango no sentido de adaptar sua linha de abate de animais ao padrão religioso halal (em árabe, "permitido", "lícito"). O alimento Halal é produzido de acordo com os preceitos e as normas ditadas pelo Alcorão Sagrado, especificadas na Lei Sharia, não podendo conter ingredientes proibidos, tampouco parte deles. Também não pode ser consumidos pelos islâmicos todo e qualquer tipo de alimento modificado geneticamente, assim como produtos minerais e químicos tóxicos que causem danos à saúde. Especificamente com relação ao abate Halal, a Sharia especifica que ele deve ser realizado por meio de equipamentos e utensílios próprios, devendo ser provocado a sangria única do animal seccionando-se a traqueia, o esôfago e as veias jugulares para evitar o sofrimento do animal, que deve estar com a cabeça voltada para Meca durante o sacrifício. O abate é realizado somente por um muçulmano que deve entoar uma oração enquanto realiza a degola do animal. Segundo o supervisor-geral da Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal (Cibal) Tamer Mansur, atualmente, mais de cem frigoríficos do País estão cadastrados junto à entidade. Só o Minerva abate por mês cem mil cabeças de boi no padrão Halal em suas unidades. Dentre outras grandes empresas brasileiras aptas a exportar para os países islâmicos estão a Frangosul, a Seara e a Brasil Foods (fusão da Sadia com a Perdigão).
Esforço que vale a pena, já que só em 2009, o mercado de alimentos Halal movimentou US$ 578 bilhões em todo o mundo, segundo Dib Ahmad El Tarras, gestor do núcleo de desenvolvimento do conceito e sistema Halal do Brasil. E tudo indica que o nicho deve expandir-se ainda mais nos próximos anos. Segundo Abbas Bendali, diretor da Solis, consultoria especializada em minorias étnicas, a venda de alimentos industrializados Halal deve crescer 10% ao ano, acima da taxa média de 2% esperada para o setor em geral.
Vender para esse mercado representa atingir 2,2 bilhões de muçulmanos vivendo ao redor do globo, 340 milhões somente nos países árabes, aponta Michel Alaby, secretário da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Além do mais, os muçulmanos já ultrapassam os 6% e mais de 3% da população na França e na Inglaterra. A América Latina e principalmente o Brasil (principal exportador do bloco para os países árabes) já embarcam US$1 bilhão com destino a esse mercado, aponta Chaiboun Ibrahim Darviche, do Serviço de Inspeção Islâmica.
No Paraná - principal Estado exportador de frango brasileiro - dos atuais 26 abatedouros associados ao Sindicato das Indústrias dos Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), 21 já abatem segundo os preceitos da religião islâmica. Entre janeiro e junho de 2010, o Estado embarcou 477 mil toneladas de carne de frango obtendo receitas de US$ 780,5 milhões, um resultado 0.71% superior ao verificado no mesmo período do ano passado, aponta a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). Boa parte do desempenho do Estado deveu-se a uma maior aproximação com países do Oriente Médio, principalmente o Iraque, os Emirados Árabes, a Arábia Saudita e o Irã.

FONTE: AgroCIM

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