terça-feira, 30 de novembro de 2010

Margem Bruta e Taxa de Reposição

Correria, caro leitor, correria... Estou mexendo com gado, andando nos pastos, verificando saldos, estoques, enfim, finalizando o ano de 2010 e já definindo o que vamos fazer em investimentos e manutenções para 2011. Estou no Tocantins esses dias.
De qualquer forma, paralelo a isso esses últimos dias surgiu uma discussão no site do BeefPoint e eu quis contribuir com minha análise. No meio dos argumentos que fiz, um gráfico chamou a atenção do Miguel Calvalcanti. Se chamou a atenção do Miguel pensei que talvez chamaria a atenção de vocês.
Obviamente, antes de mais nada, não estou tentando ensinar ninguém a mexer com boi aqui. Cada um sabe onde aperta o calo. A idéia é só esclarecer uns conceitos que se fragmentam em um jogo de espelhos e o pessoal perde um pouco a referência do caminho e das proporções.
O gráfico que estou me referindo é o gráfico da margem bruta e da taxa de reposição. Conceitualmente, em mercado, a margem bruta é adiferença pura e simples entre o valor de um boi gordo e um bezerro. A taxa de reposiçõ é a divisão entre o valor de um boi gordo e um bezerro.
Os resultados, como você pode ver, são completamente diferentes. Enquanto a margem bruta só subiu, praticamente, entre 1999 até hoje, a taxa de reposição oscilou fortemente dentro desses 11 anos.



Mas qual a razão de resultados tão diferentes? Não são formados pelos mesmos valores? Deveria resultar em coisas parecidas, não é?
Na realidade, não.
Quando se compara dois mercados diferentes, o que você faz é uma arbitragem, que é uma forma diferente de spread. O boi e o bezerro sãode fato dois mercados diferentes -- respondem a estímulos diferentes no dia-a-dia. Não dá para compará-los simplesmente diminuindo um pelo outro. O resultado dessa conta pode levar a uma conclusão que ela é uma informação à primeira vista aparentemente boa. Está melhorando a margem ao longo dos anos, não está?
Porém, quando se leva em consideração o valor de compra de um boi gordo, que nada mais seria, em outras palavras, a taxa de reposição, a coisa se complica. Você vê dessa outra forma que o valor de compra de um boi oscila muito e drasticamente durante os anos. Isso acaba gerando uma informação mais precisa, mais verídica, sobre o comportamento do mercado e calibra melhor as tomadas de decisão no dia-a-dia.
Pegue meados de 2010, por exemplo, onde a margem bruta estava ao redor de R$ 700 reais e a taxa de reposição ao redor de 1,90. Foi uma das piores taxas de reposição da história, que destruiu a lucratividade de muitos invernistas, mas você não saberia disso olhando somente pela margem, a não senhor, pois, hei!, a margem de meados de 2010 estava 700 reais... bem melhor que os 400 reais de 2000, não é mesmo?
Porém o ano de 2000, com seus 400 reais de margem foi um ano muito melhor em lucro para o invernista que os 700 reais de margem de 2010. Você saberia disso olhando para a taxa de reposição. Sei disso também baseado nos nossos próprios resultados financeiros de engorda.
Então, verifique suas premissas, por dois motivos.
1) Em dois mercados diferentes você faz é a divisão entre eles, a arbitragem, e não a subtração, que é o tal conhecido spread.
2) No Brasil é que pouquíssimos pecuaristas calculam de verdade seus custos de produção.

FONTE: CARTA PECUÁRIA

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