quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mercado distorcido… mas irracional?

O mercado segue em ritmo de alta, surpreendendo até mesmo os mais otimistas. Na expectativa do boi gordo a R$100,00/@, o mercado já registrou 105, 110, 115… A carne bovina segue o mesmo movimento e dá sustentação para os frigoríficos pagarem mais no boi gordo, sobretudo as indústrias menores e focadas no mercado interno. Com boi casado (traseiro + dianteiro + ponta de agulha) em R$7,00/kg, o que equivale a uma carcaça de R$105,00/@ e sinalização de novas altas no curto prazo, o mercado parece não ter batido no teto ainda.
É interessante destacar que a carne bovina liderou os gastos com alimentação nos domicílios com renda mensal de até dois salários mínimos no biênio 2008-2009, de acordo com o Instituto de Economia Agrícola de São Paulo e, portanto, o consumo ficou mais sensível às altas de preços. Além disso, alguns estudos já sinalizam que a curva de elasticidade-demanda para a carne bovina perdeu força, ou seja, que o aumento na renda da população tem um impacto menor no consumo do que observado em outros anos.
As altas constantes da carne bovina, apesar da dificuldade de mensuração, forçam o deslocamento para proteínas mais baratas e esse movimento ganhou força no 2º semestre deste ano. De janeiro até outubro a carne bovina acumulou alta de 33,9% no atacado, muito acima da carne suína que reagiu 22,0%, e perdendo competitividade para a carne de frango, que reagiu “apenas” 14,3%. No varejo o ritmo é mais lento, com alta de 15,0% para a carne bovina, queda de 0,8% para a carne suína e alta comedida de 3,1% para a carne de frango. O varejo, portanto, sofreu a pressão exercida do lado do consumidor e não conseguiu repassar a alta observada na matéria-prima para o produto final.
Essa condição de preços em constante alta gera distorções no mercado. O spread entre a carne bovina e a de frango está no maior patamar histórico e entre a carne bovina e a suína está próximo disso. Além disso, atualmente é possível comprar picanha da Argentina ou do Uruguai a preços mais baixos do que a picanha nacional. Nossos vizinhos têm aproveitado essa alta para mandar outros cortes que normalmente não seriam competitivos aqui.
Um sinal de que a alta deixou de ser consenso no mercado é a defasagem dos preços entre a BM&F e o negociado no físico. Enquanto o indicador Esalq está em R$113,42/@, na BM&F o mercado conseguiu romper o patamar de R$112,00/@ (nov/10) apenas hoje e o contrato de dez/10 trabalha com deságio de R$5,00/@ em relação ao preço spot.
A oferta de gado, entretanto, não melhorou nada e os lotes existentes no mercado são disputados, já que o embarque é para 2 ou 3 dias, no máximo. O feriado de terça-feira é outro fator altista, uma vez que diminuiu o volume de negócios nesta semana, que deve ser positiva do lado do consumo em função do pagamento dos salários. Ainda que o mercado esteja esticado (palavra muito utilizada nos últimos meses), o consumo de final de ano é positivo e pode ser suficiente para manter essa distorção até 2011.

FONTE: WWW.AGROBLOG.COM.BR
AUTOR: LEONARDO ALENCAR

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