quinta-feira, 19 de maio de 2011

O boi de junho em diante

Maurício Palma Nogueira, eng. agrônomo, diretor da Bigma Consultoria
mauricio@bigma.com.br
Reprodução permitida desde que citada a fonte
O preço do boi em São Paulo ultrapassou a tão esperada barreira dos R$100,00/@ em outubro de 2010, ainda insuficiente para levar a média mensal para acima da marca. Em novembro, quando foi registrado o pico de preços do ano, pela primeira vez o preço médio do mês ficou acima dos três dígitos.

E de lá até o terço final de maio de 2011, o valor médio mensal ainda não recuou abaixo dos R$100,00, embora as cotações permanecessem sob pressão desde o mês de março. Confira a evolução das cotações na figura 1, segundo o Cepea.

Figura 1.
Evolução do preço médio mensal do preço do boi gordo em São Paulo - mai/11 parciais até o dia 19

Fonte: Cepea – elaboração Bigma Consultoria

Nos primeiros cinco meses de 2011, os preços médios do boi gordo foram 32,50% acima da média do mesmo período de 2010. No acumulado até maio, o valor da arroba em São Paulo registrava até o final da primeira quinzena um valor médio de R$103,08 a vista, segundo indicador do Cepea.

Em 2010 o preço médio registrado foi R$87,54/@ a vista. O valor médio pago ao pecuarista, em 2011, mesmo com valores bem superiores em relação ao primeiro semestre, são 17,76% superiores à média de todo o ano 2010. No ano passado o preço só se elevou no final do segundo semestre quando as cotações começaram a escalada.

Em termos comparativos, os resultados estimados nas fazendas de pecuária em 2011, pelo menos até maio, se aproximavam dos que foram registrados em 2010. Segundo acompanhamento da Bigma Consultoria, os custos de produção registravam uma alta de 17,5% em relação ao ano anterior, o que permite concluir margens bem próximas entre um ano e outro.

Vale ressaltar que essa análise de custos é teórica, com base em evolução dos preços. Na prática, a atuação administrativa pode melhorar ou pioras os resultados ao longo do ano.

Bom, a grande dúvida do meio do ano? Qual será o preço do boi nos meses seguintes a julho?

Analisando os contratos da BM&F/Bovespa, os participantes do mercado futuro do boi desenhavam uma linha praticamente reta para os preços até o final do ano, com poucas oscilações e valores entre R$101,00 a R$103,00/@. Pessimista, na visão dos produtores.

O futuro apenas precificava o valor de safra, deixando uma sensação de valores subestimados para a entressafra de 2011.

Prova disso foram os resultados de uma enquete realizada pelo site Beefpoint durante o mês de maio. Na enquete, menos de 2% dos participantes acreditavam em preços abaixo dos R$100,00/@ na entressafra de 2011, sendo que apenas 7% indicaram valores próximos aos contratos do mercado futuro.

Dos 300 técnicos e produtores, que responderam voluntariamente, o total de 75% deles achavam que os preços seriam superiores aos R$110,00/@ a vista, dos quais cerca de um terço ainda apostavam em valores acima de R$120,00/@.

Apesar de consistirem em apenas opiniões, as perspectivas dos produtores e técnicos ajudam a compor o mercado dos próximos meses. Acreditar num cenário mais favorável faz com que o produtor se esforce para terminar animais na entressafra, laçando mão de maior aporte tecnológico, especialmente em termos de nutrição.

Ironicamente, acreditar em preços melhores para a segunda metade do ano favorece o aumento de oferta o que, de certa forma, contribui para frear a alta dos preços.

Dentre as tecnologias, as principais são o fornecimento se suplementação proteica e energética, o semi confinamento e o confinamento em si.

No caso do confinamento, mesmo com a pecuária registrando um provável, aumento de custos da ordem de 17,5% em 2011, a realidade para o confinamento é diferente. Dependendo da estrutura da dieta, até maio, o custo de confinamento estimado para a próxima entressafra seria da ordem de 45% a 55% superior ao que foi registrado em 2010.

Vale ressaltar que tal aumento de custos no confinamento pode influenciar conclusões equivocadas. A comparação é feita com base num ano de custos baixos para o confinamento, como foi o de 2010. Para 2011, portanto, é preciso considerar que há duas forças atuando nos números comparativos: a recuperação de preços agrícolas, que influi nos custos, e o aumento das cotações dos mesmos ultrapassando os valores médios históricos.

Na prática essa observação nos leva a concluir que mesmo nos preços atuais do mercado futuro, o hedge ainda garante resultados positivos ao confinador. Evidentemente que essa conclusão precisa ser ratificada com base nos custos de cada fazenda.

Voltando ao mercado, alguns fatos dos meses anteriores permitem reforçar o otimismo com relação aos preços para os meses que virão. Vamos a alguns:

- O aumento do custo de produção e custo da alimentação reduz o ritmo de evolução tecnológica.
- Clima seco em 2010, prejudicando as pastagens e reduzindo o ganho de peso dos animais e outros índices zootécnicos.
- Cigarrinhas em diversas regiões reforçando o impacto negativo das secas.
- Pastagens de pior qualidade limitam o uso das principais tecnologias que aumentam a produtividade no período seco do ano.
- Abate de animais mais leves ao final de 2010, diante de demanda aquecida (incentivando o frigorífico que precisava de bois) e preços atrativos (incentivando o produtor querendo aproveitar as cotações). Essa redução do estoque de animais compromete o escalonamento normal para terminar animais nos meses seguintes dentro das fazendas.

Como todo ano acontece, não há dúvidas que os preços tenderiam a recuar, como vem acontecendo desde março, durante o período de safra. Ainda assim, o comportamento mais provável do mercado para o segundo semestre é de aumento nas cotações.

Contra essa tendência, a força que mais se destaca é o desempenho do mercado de carnes. Em meados de maio os preços da carne começavam a recuar, dando força às pressões nas cotações do boi gordo. Restava saber até quando se estenderia este comportamento no atacado.

Essa é a variável que o produtor deve se atentar para os próximos meses: preços e volume de vendas de carne no mercado interno e no mercado externo. É a única força capaz de reverter ou até impulsionar as perspectivas de preços firmes para o segundo semestre.

FONTE: BIGMA CONSULTORIA

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