segunda-feira, 6 de junho de 2011

Desafio: não vamos mais falar de UA/ha

Participei na última semana de maio de um evento em Goiânia realizado pela Exagro para apresentar os dados do benchmarking 2010 de seus clientes. É um levantamento de dados de cada uma das fazendas dentro de um sistema de comparação e ranqueamento. Desde a primeira vez que conheci esse sistema, fiquei muito animado com o potencial de mudança e avanço para a pecuária de corte brasileira.

Falei, lá no início de 2010, ao pessoal da Exagro: esse método de comparação vai mudar como as conversas acontecem. Vai mudar como vocês conversam com os clientes, como os clientes conversam entre si, como os clientes recomendam vocês, como vocês divulgam e atraem novos clientes e até como vocês conversam internamente sobre a empresa, equipe e clientes. E o que vi há duas semanas reforçou essa minha percepção.

O benchmarking (sistema de comparação, usando parâmetros iguais em cada fazenda) é uma maneira de tornar vísivel, fácil de ver, perceber e analisar o que não é tão fácil de ver. É muito fácil saber qual o preço do boi, do bezerro hoje. É muito fácil saber quanto choveu esse mês, esse ano. É relativamente fácil saber quantas UA/ha temos em determinada fazenda.

Mas é muito mais difícil saber qual a receita líquida (RL) por ha. E isso é o mais importante. Pouco importa qual a lotação da sua fazenda, se você não tem uma receita líquida alta. O desafio do benchmarking é mudar a conversa, mudar o discurso, de quem fala do tempo, do preço e da lotação, mas não fala do mais importante: a receita líquida por ha. Na apresentação dos resultados se falou muito mais de receita líquida do que de qualquer outro indicador.

Veja no gráfico abaixo, que inclui todas as fazendas clientes da empresa, que entraram na avaliação. Não há correlação nenhuma entre receita líquida (lucro) e preço de venda do gado.



Ou seja, uma fazenda que está numa região de preços mais altos não tem maior receita líquida do que outra que está numa região de preços da @ mais baixos. Porque isso ocorre? Primeiro, porque há outros fatores mais determinantes na receita líquida, como eficiência produtiva e comercial. Se você vende seu boi gordo barato, mas é muito eficiente em comprar um bezerro e engordá-lo, isso pouco importa na rentabilidade final do seu negócio.

O mesmo ocorre por regiões. Na tabela abaixo, a receita líquida média das regiões é muito parecida. Minha conclusão: para sua fazenda ser lucrativa (alta receita líquida) o mais importante é você produzir bem, de forma eficiente e comprar e vender seus animais numa mesma faixa de preços (ou seja, se tem preço de venda baixo, tem que pagar barato na compra também).



Ficou claro, ao ver os resultados das melhores fazendas, que a excelência não era apenas técnica, mas também comercial. Os melhores resultados de RL são de fazendas que são eficientes na produção e competentes na compra e venda de animais.

E vão além disso: a decisão do momento de comprar e vender animais é inter-relacionada com a parte técnica e comercial. Não adianta esperar mais alguns dias/semanas para vender o gado, visando uma valorização do preço, se a fazenda não vai suportar essa carga animal. O mesmo é verdade na compra. Impressionante como essas melhores fazendas orquestram com maestria o lado técnico e comercial.

Outro ponto mais interessante é que as fazendas mais produtivas (@/ha ano) não foram as mais lucrativas. Mais importante do que se maximizar a produção por ha, é maximizar a receita líquida. Interessante notar inclusive que a correlação entre arrobas produzidas por animal com receita líquida por ha foi um pouco maior do que a correlação de arrobas produzidas por ha com receita líquida por ha.

Analisando todos esses números, gostaria de se estimular um desafio para a pecuária de corte. Que não mais falássemos de carga animal medida em UA/ha, que apenas mede estoque e não mede produção. Será muito mais produtivo se falarmos em arrobas produzidas por ha. Faz muito mais sentido se nosso plano não é ter um grande rebanho, mas uma grande produção.

E o passo além, é falar de RL por ha, e não mais produção. A Fazenda Nova Zelândia, campeã em RL em 2010 entre os clientes da Exagro, não é a que mais produz por ha, mas que é mais eficiente em transformar custeio em produção. Tem um baixo custeio e uma alta produção. Não faz muito com muito. Faz muito com pouco. É muito produtiva, com baixo custo. Um exemplo para analisarmos, estudarmos e entendermos.

Veja a tabela abaixo. A fazenda tem uma produção de arrobas por ha acima da média, com um custeio muito abaixo da média (quase a metade).



A pecuária lucrativa passa por entendermos o que é mais importante e focarmos nisso, deixando de dar atenção a outras métricas, que talvez sejam mais fáceis de medir, mas são pouco importantes para o resultado final. Para se chegar a uma elevada receita líquida precisamos medir e aprimorar a produção de @ por ha e por animal, sem aumentar muito o custeio. A fazenda Nova Zelândia, é um exemplo, que não precisamos copiar, mas precisamos entender, analisar e usar como inspiração.
FONTE: BEEFPOINT

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