quarta-feira, 1 de junho de 2011

O boi de volta aos dois dígitos


Maurício Palma Nogueira, eng. agrônomo, diretor da Bigma Consultoria
mauricio@bigma.com.br
Reprodução permitida desde que citada a fonte
O mês de maio terminou e a reta final do mercado pecuário levou os preços novamente para os dois dígitos.

A cotação da arroba do boi gordo, que atingiu o pico histórico em valores nominais durante o último novembro, recuou 4,77% ao longo do mês. Em São Paulo, no indicador do Cepea, de mercado físico a vista, a cotação da arroba começou o mês em R$102,67 e terminou em R$97,77.

Veja a evolução diária dos indicadores do Cepea, na figura 1.

Figura 1.
Evolução do preço diário do boi gordo em São Paulo – 12 meses em R$ nominais/@

Fonte: Cepea – elaboração Bigma Consultoria

Até o dia 20 de maio, a queda de preços ainda não havia sido suficiente para levar a cotação para baixo dos cem reais por arroba. Mas a continuidade da queda dos preços até o final do mês trouxe os preços de volta aos dois dígitos, como pode ser observado na figura 2, na análise de média mensal dos últimos doze meses, o mesmo período analisado na figura 1.

Figura 2.
Evolução do preço médio do boi gordo, mercado físico a vista, em São Paulo – 12 meses em R$ nominais/@

Fonte: Cepea – elaboração Bigma Consultoria

Em relação a abril os preços recuaram 3,73%, acumulando queda de 11,36% em relação ao pico, de novembro.

Mesmo assim, os preços médios do mês foram 25,12% acima dos de maio de 2010 . Em valores, as cotações atuais estão R$20,00/@ acima este ano.

E maio é o mês típico do período de safra, quando geralmente as cotações atingem os patamares mais baixos do ano. Portanto, em 2011 o comportamento é típico com a particularidade de uma oscilação mais suave e valores bem acima do registrado um ano antes. Trata-se um aparente salto de patamar nas cotações.

O mercado seguiu pressionado no final do mês e ainda segue neste início de junho. Mas, a expectativa de recuperação no mercado interno de carnes pode reverter a tendência no curto prazo.

Rogério Goulart, na Carta Pecuária dessa semana, brincou que os frigoríficos chacoalharam a árvore e colheram os frutos que estavam maduros e prontos para cair.

Faz sentido. É evidente que a experiência dos pecuaristas, sabendo das dificuldades deste período do ano, cuja marca é a chegada do frio, recomenda que animais prontos sejam vendidos nesse momento. Tentar estender a permanência dos mesmos nos pastos até que as cotações voltem a melhorar, pode significar custos mais altos, que não compensam o avanço das cotações.

Sem contar a própria necessidade de administrar as pastagens para o restante do ano. O resultado é o recuo.

Veja a análise do dia 31 de maio no informativo de mercado da XP-Agro: “Pastos mais secos, descarte de fêmeas que não serão mais destinadas à reprodução e a liberação de animais que não deverão ser vacinados contra a febre aftosa são as principais causas para este movimento (de baixa).”

É impossível prever preços. E a grande pergunta de ontem, numa reunião da Bigma Consultoria com pecuaristas, é se os preços reverteriam agora em junho. É possível, diante de todo o contexto.

A mesma condição das pastagens, que assusta o pecuarista nesse momento, depõe a favor dos preços mais elevados para o segundo semestre.
Se a carne reagir satisfatoriamente, a demanda irá acelerar a já enxutíssima oferta de boi, e os preços reagirão ainda em junho.

Afirmação óbvia, dirão alguns. Mas é isso mesmo. O mercado segue regras básicas e muitas vezes a simplicidade de seu funcionamento até assusta, ou frustra.

Embora muitas vezes a gente acabe procurando explicação no inexplicável, a regra é bem simples. Se as vendas de carne não forem suficientes para enxugar mais ainda a quantidade de boi ofertado, as cotações não avançam.

A boa notícia é que nesse início de junho as vendas parecem estar melhorando um pouco. Vamos ver.

Por outro lado, em contraposição à reação do mercado de carnes, está a oferta de bois para abate.

Continuando na metáfora, o equilíbrio depende da quantidade de “frutos” que ainda podem cair da árvore chacoalhada. Vale lembrar, que quando os frutos param de cair, os “chacoalhões” costumam ser um pouco mais fortes.

Por isso, pelo menos nos próximos dias, a tendência é de pressão ainda maior nos preços do boi, conforme constatado nos informes da Scot Consultoria e da XP Agro, veiculados no último dia de maio.

Para o segundo semestre, a leitura do mercado continua a mesma. As forças favoráveis às elevações nas cotações continuam mais evidentes do que as contrárias. Em outras palavras, os preços devem reagir. O difícil sempre é acertar quando começam e até em que patamares chegam.
FONTE: BIGMA CONSULTORIA

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