sexta-feira, 24 de junho de 2011

Valorização das commodities deixa terra agrícola mais cara


Assis Moreira

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A tendência de manutenção de preços altos dos alimentos na próxima década aumenta o interesse comercial por terras agrícolas e eleva seu valor em grandes países exportadores e novos produtores.

No Brasil, a alta do valor da terra vem sendo "gradativa e permanente", segundo o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, atento a um certo tipo de investimento no setor. "Não queremos ver nossas terras transformadas numa commodity financeira, para especuladores estrangeiros", afirmou ao Valor. "Por isso, o Brasil estuda formas de, ao mesmo tempo, permitir a continuidade de investimentos de estrangeiros em áreas estratégicas, mas também impor limites à aquisição de terras por estrangeiros. Nos próximos meses o governo terá posição sobre isso".

"Está havendo uma correção nos preços, mas nada assustador", ponderou o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho da Silva. Nas áreas mais requisitadas, como em São Paulo, que já tem preço alto, a valorização é menor. Nas fronteiras agrícolas mais recentes, como Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o valor do hectare aumentou mais.

Nos EUA, os preços de terras subiram até 23% em partes do Iowa, Illinois, Indiana, Kansas, Minnesota e Nebraska em 2010, levando reguladores a advertirem para o risco de formação de nova bolha.

A demanda por milho para produção de etanol, trigo e soja elevou os preços, e a terra onde essas colheitas são produzidas também se valorizou. Agricultores estão pagando taxa de juro insignificante nos EUA, estimulando a compra de mais terras para plantio. Além disso, investimentos financeiros elevam os preços das terras.

O Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), que faz seguro dos depósitos dos bancos e monitora o sistema bancário nacional, enviou carta, no fim de 2010, aos bancos alertando para terem cautela nos financiamentos para a aquisição de terras agrícolas.

Na Europa, o custo das áreas agrícolas cresceu 11% em 2010 no Reino Unido e superou vários ativos financeiros. Um analista diz que a resiliência é o que faz as terras tão atrativas como investimento e que devem continuar em alta este ano. Na França, o mercado do "espaço rural" registrou 209 mil transações de 485 mil hectares por um valor de € 15,3 bilhões em 2010. A alta em volume foi de 1,7%, mas em valor foi de 12,2%.

Técnicos da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) notam que novas terras estão sendo dedicadas à produção de cereais em países ainda com potencial para expansão agrícola, como o Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Tajiquistão

Na África, US$ 919 milhões foram investidos por estrangeiros em terras entre 2004-2009, segundo a FAO. Sudão, Etiópia, Madagascar e Moçambique são os principais beneficiários de Investimentos Diretos Estrangeiros em terras no continente. "A disponibilidade de terra arável e o baixo preço fazem da África um local competitivo para investidores produzirem alimentos e desenvolverem biocombustíveis", diz Martin Ager, da FAO.

O Banco Mundial estimou ano passado que investidores estrangeiros "expressaram interesse" em 57 milhões de hectares de terras no estrangeiro, boa parte na África. "Maior preço da terra agrícola significará que novos entrantes na produção não terão a mesma margem de lucros dos produtores existentes", diz Jake Burke, da FAO.

No Brasil, o tema terras está na pauta da Câmara. Na quarta-feira, a Comissão de Agricultura da Câmara instalou uma subcomissão para tratar da compra de terras por estrangeiros. Em nota, o deputado Paulo Piau (PMDB/MG), que faz parte da subcomissão, afirmou que é preciso separar as aquisições de caráter produtivo das especulativas, e que essas últimas são "maléficas". Mas o governo quer esvaziar as discussões no Congresso e poderá criar um órgão colegiado com aval para autorizar negócios envolvendo áreas de 5 a 500 mil hectares. Só que a criação do órgão depende do Congresso.

Fonte: Valor Econômico

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