terça-feira, 2 de agosto de 2011

Carnes: Rússia cobra explicação para fim de embargo

O embargo russo às carnes brasileiras, em vigor desde 15 de junho, parece ter ficado mais longe de uma suspensão imediata como anunciado pelo Ministério da Agricultura. Mais do que isso, restringiram os embarques, a pedido do próprio ministério, de 37 unidades frigoríficas. E avisaram às autoridades brasileiras, apurou o Valor, que vão impor "restrições adicionais" a produtos fora das exigências e normas sanitárias.

Algumas empresas, como JBS e BRF, foram surpreendidas pela restrição a algumas de suas indústrias. Uma delas informou ter 3 mil toneladas em produtos embarcados após a apresentação voluntária de uma lista de 103 indústrias impedidas de exportar à Rússia.

Em correspondência enviada na semana passada, o Serviço Federal de Controle Veterinário e Fitossanitário da Rússia condicionou o fim das restrições a "maiores esclarecimentos" das autoridades brasileiras e à apresentação de "documentos adicionais", além da tradução para o russo de textos entregues pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA).

Uma comitiva brasileira esteve em Moscou no dia 6 de julho. A SDA apresentou uma lista de 103 plantas com impedimentos de embarque. Mas os russos apontaram que 15 unidades não constavam de relação aprovada anteriormente por eles. Além disso, 21 já estavam embargadas por inconformidades em partidas exportadas. Outras 30 indústrias tiveram seus embarques suspensos a partir de 15 de junho, quando começou a valer o embargo aos três Estados.

O vice-chefe do serviço russo, Alexey Saurin, afirmou às autoridades brasileiras que manterá as restrições até que sejam resolvidas essas pendências. Os russos apontaram irregularidades como a falta de comprovação de controle em 32 empresas listadas pela SDA. Também apontaram a inclusão de unidades frigoríficas sem aprovação prévia na lista enviada pelo Brasil a Moscou. Também notaram a inclusão de empresa autorizada a vender frangos como habilitada a exportar suínos.

Na correspondência, os russos apontaram problemas em 13 unidades. E listaram ter encontrado bactérias coliformes, micro-organismos e salmonelas em várias cargas exportadas. O serviço russo pediu "investigação" para explicar a presença de substâncias "proibidas e nocivas" nos produtos recebidos. Alexey Saurin afirmou que os "fatos citados" e os "resultados insatisfatórios da inspeção" comprovam "controle insuficiente" de produtos fornecidos à Federação da Rússia.

Confrontado com as reservas feitas pelo serviço russo, o diretor de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos de Oliveira, rejeitou as evidências: "Não é bem isso, não. Essa história que os russos não estão satisfeitos não é totalmente verdade", disse em rápida declaração, por telefone, de Porto Alegre. Oliveira está na linha de frente da negociação sanitária com os russos. O secretário de Defesa Agropecuária, Francisco Jardim, acompanha a evolução das tratativas. Os exportadores alertaram para problemas: "Ao entregar a lista aos russos, o governo não deixou claro quem poderia continuar exportando. Isso gerou uma confusão nos produtores", disse o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto.

O governo brasileiro entende que o embargo russo não está ligado às negociações da Rússia em ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC). O diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, ministro Paulo Mesquita, disse ontem que "em nenhum momento" os russos usaram o embargo para ganhar apoio na OMC. "O embargo tem pista própria longe de discussões sobre a OMC. Isso quer dizer que nós não vamos condicionar nosso apoio ao fim do embargo e nem esperamos que com o apoio ele seja retirado", disse Mesquita.

O diretor do Itamaraty informou que os termos do acordo na OMC estão sendo finalizados e que, nessa última etapa, as tarifas e quantidades de exportações podem ser alteradas. "Existe um grande esforço da Rússia em concluir, ainda neste semestre, seu ingresso na organização e isso significa que as negociações com o Brasil devem estar concluídas", disse Paulo Mesquita.
Fonte: Valor Econômico

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