quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Confinamento pode ser saída para pecuária nacional crescer

Daniel Popov

Reprodução permitida desde que citada a fonte
Com a expectativa de que o mundo demandará pelo menos 73 milhões de toneladas de carne bovina até 2020, incremento de 14% ante as 64 milhões de toneladas produzidos atualmente, surge a preocupação com a capacidade do Brasil ampliar sua produção para atender esse consumo. A realidade nacional ainda mostra pastagens degradadas e baixo uso do sistema de confinamento.

Durante o painel "Pecuária de Baixo Carbono: um novo paradigma produtivo para o Brasil", realizado no Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (Feed 2011), o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, afirmou que o Brasil tem condições de produzir mais, de forma sustentável, para atender à demanda adicional prevista para os próximos anos.

Para o representante da Bigma Consultoria, Maurício Palma Nogueira, o Brasil, que possui um rebanho bovino superior a 202 milhões de cabeças, atrás apenas da Índia, com 320 milhões de animais (* nota a seguir), está muito aquém de sua capacidade de produção de carne. "Hoje o País produz 9 milhões de toneladas de carne. Os Estados Unidos têm rebanho de 97 milhões de cabeças e produzem mais de 11 milhões de toneladas de carne bovina" (* nota a seguir), comentou o executivo. "Do ponto de vista zootécnico, nós temos de melhorar muito, considerando aspectos como nutrição, sanidade e qualidade do animal", afirmou.

Segundo Nogueira, diferentes sistemas de engorda, inclusive com o uso de aditivos, permitem que os norte-americanos produzam mais na comparação com o Brasil. "Se tivéssemos as mesmas condições, poderíamos produzir mais. A produção brasileira é muito competitiva", afirmou.

Para ele, melhores práticas com as pastagens com a adubação certa e o uso de fertilizantes trariam aos pecuaristas uma rentabilidade maior por hectare. Nogueira ressaltou que inicialmente os aportes seriam altos, mas que ao longo dos anos os investimentos seriam menores.

No Brasil, os animais são abatidos com peso médio de 18 arrobas. Nos Estados Unidos, os animais vão para o frigorífico com 22 ou 23 arrobas. O professor do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), Dante Pazzanese Lanna, acrescentou que na Europa os animais são abatidos com 22 arrobas, peso que é impossível de ser atingido em países como o Brasil, que criam o animal no sistema de pasto. E acredita que o País deve apostar no confinamento. "O confinamento de gados no Brasil deve se estabilizar no curto prazo e crescer bastante em um horizonte mais longo", acredita.

Segundo Pazzanese, os Estados Unidos confinam mais de 95% do gado abatido, enquanto a Argentina, que "outrora alimentava a boiada com o capim excelente que brota por lá, hoje está confinando cerca de 60% das reses que vão para o gancho dos frigoríficos". "No Brasil, à medida que o cerco sobre o desmatamento se fecha cada vez mais, o sistema de confinamento irá crescer. Mas ainda há muita área degradada para o boi de capim brasileiro ser produzido", relembrou.

Por fim Pazzanese avaliou que a produção brasileira de carne pode crescer em função da adoção de tecnologias voltadas para a pecuária de corte e essa não é, segundo ele, uma realidade para outros países, como os da África.

Tecnologia

Há cinco anos o criador de gados, Ricardo, Castro Cunha da fazenda Santa Alice, em Mirassol do Oeste, no Mato Grosso, trata suas pastagens como um agricultor cuida da sua lavoura, com a intenção de ampliar a sua renda. "Aqui fazemos a rotação e adubação de pastagens para aumentar a produtividade, e no inverno confinamos os animais", explicou. "Esse é o caminho a trilhar para todo o pecuarista que quiser continuar no setor, pois essa atividade é de baixa rentabilidade e se não formos competentes na produção, e eliminar custos, não teremos como sobreviver".

Cunha comentou que após esse período de investimentos os ganhos em sua propriedade estão muito maiores, e a produtividade é excepcional. "Há um tempo para que o investimento dê retorno, mas ele é certo."

Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria

* Nota da Bigma Consultoria

Na palestra foram apresentados os dados de 92,7 milhões de cabeças do rebanho bovino dos EUA, com produção de 12 milhões de toneladas de equivalentes carcaça.

Ainda na palestra, nós não nos referimos ao rebanho da Índia. Tal referência foi por conta do redator da notícia, e não da Bigma.

Na Índia, o rebanho bovino comercial é inferior ao do Brasil e totaliza cerca 176 milhões de cabeças segundo os dados acompanhados pela Bigma. Quando somamos os bubalinos, o rebanho da Índia atinge quase 300 milhões de cabeças.

Usamos os dados conjugados a partir das bases estatísticas publicadas pela FAO, USDA, FAPRI e OCDE.

Os dados de 320 milhões de cabeças são do USDA e inclui búfalos, além de estimar um volume de animais muito acima do estimado por outras fontes. Por isso não adotamos apenas o USDA.
FONTE: BIGMA CONSULTORIA

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