sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Abate de fêmeas continua elevado, aponta IBGE

Nesta quinta-feira, 15,  foram divulgados os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre os abates trimestrais de bovinos no Brasil. Um lembrete importante é que esses dados referem-se apenas aos abates inspecionados, então tem muito mais cabeça sendo abatida por aí, mas os números nos ajudam a ter uma ideia do rumo que a pecuária nacional tem tomado.

À primeira vista, já temos uma informação bastante relevante: considerando o abate total,
incluindo bois, vacas, novilhos, novilhas e vitelos no período de janeiro a setembro, houve
retração de 2,9% do volume abatido total. Entretanto, ao categorizarmos os dados, podemos
observar informações ainda mais importantes.

O abate de fêmeas aumentou no mesmo período na proporção de 10,9%. Enquanto isso, o
abate de machos caiu 10,7%. Para os vitelos e vitelas, houve aumento de 28,3%. Para esta
última categoria, o motivo é que o Egito, mercado característico para esse produto, aumentou
seus pedidos em 2011. Observe o primeiro gráfico:

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Por que será que o pessoal tem abatido fêmeas em 2011? Dado o comportamento do total
abatido, vê-se que a oferta de machos terminados não esteve lá grande coisa e que as
pastagens não têm sido favorecidas pelo clima neste ano. Isso levou a um aumento do abate
de fêmeas. Mas não é só isso, acredite.

Como conversamos na semana passada, 2011 não foi um ano fácil, mas sim algo parecido com
um purgatório. Um ano de longa espera pela alta que só veio em novembro, e foi rápida. Não
deu pra fazer muita coisa com ela.

Apesar de o boi ter se mantido em patamares historicamente elevados, os custos de produção
não deram trégua e a arroba ficou longe de acompanhar a trajetória deles, que foi de alta.
Portanto, mesmo com o preço do bezerro em patamares altos, o que aparentemente indica
que a oferta dessa categoria não é abundante, a margem da atividade tem estreitado. É o que
conversei nesta semana com meu amigo Fabiano Tito Rosa, do Minerva. 

Além disso, a seca castigou o Centro-Oeste e certamente tivemos índices de prenhez
prejudicados por esses fatores, o que ajuda a forçar a eliminação dessas vacas, principalmente
no primeiro semestre do ano.

Aliás, o abate de fêmeas no primeiro semestre de 2011 aumentou 10,9% em relação ao
mesmo período de 2010, porém, o número ainda não indicava uma liquidação forçada de
plantel dado que 2010 ainda foi um ano de preços em ascensão, bom para a remuneração do
pecuarista, principalmente para aqueles que conseguiram efetuar suas vendas no segundo
semestre.

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Entretanto, algo aqui que me chama a atenção.

Observe o gráfico 2. Nele, as fases de alta estão caracterizadas pelo fundo azul enquanto as
fases de baixa são caracterizadas pelo fundo vermelho. Observamos que o abate continuou em
patamares elevados nos meses seguintes, ou seja, o terceiro trimestre de 2011,
comportamento que não é normal quando a atividade de cria remunera o pecuarista. 

Levando em conta somente o período de julho a setembro, o abate de fêmeas sobre o total
neste ano mostrou proporção de 38% contra 33% de média histórica, 35% de média para as
fases de baixa do ciclo e 33% para as fases de alta. A máxima foi de 41% ocorrida em 2006, ano
considerado o fundo do poço em termos de margem para a atividade.

Por que escolhi o terceiro trimestre do ano para fazer a comparação? Porque não é um
período típico de descarte de fêmeas devido à repetição de cio ocasionada por condições ruins
de pastagem. Esse período pode nos dar uma visão clara e imparcial de um padrão de início de
abate forçado pela redução das margens da atividade.

Voltando à minha analogia dantesca, será que estamos às portas do inferno para o pecuarista,
ou seja, a fase de baixa do ciclo? Infelizmente, a ideia faz sentido. 

Algo importante que conseguimos observar no gráfico: historicamente, o movimento
observado atualmente antecede a fase de baixa. O gráfico deixa isso bem claro.

Outra coisa interessante, repararam como a oferta de bois magros aumentou nos últimos
tempos? Tem muita gente por aí falando que por causa desse índice elevado de fêmeas
abatidas em 2010 vai faltar bezerro em 2011, mas fato é que a retenção entre 2007 e 2010 já
gerou um número maior de bezerros que agora entram em cena como bois magros. 

Sei que em algumas regiões as pastagens ainda estão ruins e que o boi com mais peso acaba
pesando em lugares com menor capacidade de suporte, mas conversando com o pessoal pelo
Brasil afora, percebi que o movimento é generalizado e o motivo cabível é que a oferta desse
tipo de animal tenha crescido substancialmente como reflexo dessa retenção de fêmeas de
anos anteriores. Uma hora ou outra o reflexo disso chega, não adianta tentarmos esconder.
Bom, resumidamente, esta foi uma semana de preços mornos, maior oferta de boi magro e
publicação de dados importantes pra gente, que já nos ajudam a enxergar um pouquinho
sobre o funcionamento do motor que move o mercado do boi gordo.

E por enquanto é isso, pessoal. A sugestão é sempre a mesma: ficar de olho nos custos e nas
oportunidades que aparecem. Aparentemente, daqui para a frente manter a margem ou
garantir algum lucro será cada vez mais difícil e, ao mesmo tempo, cada vez mais importante
para segurarmos as pontas nos próximos anos. Pelo menos até a próxima fase de alta chegar.
Abraços a todos e até a próxima semana!
Fonte: Lygia Pimentel

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