quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quando vender o boi? Dá para decidir matematicamente?


Rogério Goulart, administrador de empresas, pecuarista e editor da Carta Pecuária
cartapecuaria@gmail.com
Reprodução permitida desde que citada a fonte
 
Final de ano produtivo. De dezembro até agora no início de janeiro li quatro livros — As Esganadas, de Jô Soares; 1808, de Laurentino Gomes; O Menino do Pijama Listrado, de John Boyne e 1984, de George Orwell.

Li também o evento “Guerra Civil”, uma mega-história espalhada em 101 gibis do Universo Marvel como Homem-Aranha, Capitão América, Homem-de-Ferro, Quarteto Fantástico, Wolverine, X-Men, entre outros.

Aproveitei também o final de ano para ler sobre o mercado. Li uma pilha de relatórios impressos que estavam na minha mesa, análises, notícias e opiniões sobre o mercado financeiro de modo geral (ouro e dívidas dos países é o que mais se fala ultimamente) e particularmente alguma coisa sobre o mercado de boi, soja e milho de modo específico.

Sistema de Negociação. Mas o mais importante que fiz foram os estudos sobre a movimentação dos preços. Quais as formas e as maneiras para se medir melhor o sobe-e-desce do boi e outros produtos, como soja, milho e café?

O leitor mais antigo sabe que em 2010 estávamos estudando o mercado estatisticamente.

A ferramenta “Força do Boi”, que coloquei na última edição, é um exemplo desse tipo de estudo.

Em 2011, porém, o olhar focou esses estudos sobre as movimentações dos preços. Quando digo movimentação dos preços me refiro ao sobe-e-desce que a gente sabe bem como é... Essa coisa imprevisível do dia-a-dia que às vezes deixa o produtor e a própria indústria com o cabelo em pé sem saber bem para onde ir e o que fazer.

Existem maneiras, um monte delas, de ajudar a fazer esse tipo de conta. No mercado financeiro isso é chamado de “Sistema de Negociação”. Sob o ponto de vista do pecuarista, a ideia é saber que hora é interessante vender o gado, ou a hora de esperar. Não sei quanto a você, mas tem hora que não dá para vender gado, mesmo o animal estando gordo. Uma semaninha a mais de espera já se consegue preços melhores.

Isso acontece direto nos momentos de alta na arroba. Pois bem, é isso que o sistema de negociação ajuda a nos dizer. Usando o indicador do boi publicado pela Esalq/BVMF e jogando neles algumas regras estatísticas e outras que tive a oportunidade de aprender durante o ano - e que adaptei para o boi, adaptação essa que me tomou várias madrugadas agora no final do semestre - esse trabalho todo simplesmente foi no intuito de responder a seguinte pergunta: “Qual é uma boa hora para se vender boi?”
Olhe o gráfico abaixo e veja quais foram os momentos de venda em 2011.



O sistema ajuda na parte mais difícil — o timming da venda. Observe os momentos pintados em verde.

Em 2011 tivemos três bons sinais verdes para se vender boi, a saber, fevereiro/março, julho/agosto, outubro/novembro. Observe que agora em janeiro/12 não está em um bom momento.

Obviamente aqui está só o resultado do sistema de negociação. Você não acredita o tanto de conta que vai por trás disso. Parece mágica? Voodoo? Observe a demonstração dos sinais verdes desses últimos seis anos, abaixo.

Verde significa venda. Vermelho, esperar. Sem cor, mercado neutro. A coisa realmente funciona. Por esse sistema, teríamos vendido boi em bons momentos, como de fato ocorreu.



Repito, esse tipo de ferramenta é super poderosa. Se coloco-a é aqui para demonstrar a melhoria nas vendas de gado ao longo do ano. Gado, mercado físico mesmo, nada de mercado futuro aqui. Durante o ano vou tentar falar uma ou duas vezes dessa informação nos textos, tal como sugeri a venda de gado entre outubro/novembro do ano passado. Já era uma coisa baseada nesse tipo de sistema.

Agora, havendo o interesse no Sistema de Negociação como um serviço, em recebê-lo de forma exclusiva e independente, entre em contato comigo. Não irei fazer propaganda desse sistema, caro leitor. Só falarei sobre isso nesse texto de hoje.

Estarei abrindo esse serviço, como seu devido custo, para um número extremamente limitado de leitores interessados e que contratarem agora em janeiro. A próxima abertura somente ano que vem.

Indicador livre de impostos. Seguindo em frente, aconteceu uma coisa engraçada comigo. No dia 2 de janeiro o indicador saiu com uma queda de mais de três reais sobre o último dia de dezembro. Levei um susto! Desanimei. Pensei, putz, que queda que é essa?!

Daí somente na hora que fui dormir é que caiu a ficha... o indicador em 2012 já seria publicado livre de impostos! Hehe, eu sabia disso, mas tinha me esquecido.

Tsk, tsk, tsk... Senhor Rogério, preste mais atenção, sim?

Pois bem, por causa da base de informação ter mudado, todos os preços do indicador de 1994 até 2011 também mudaram. O que era o pico do indicador lá atrás agora tem que refazer as contas e retirar o imposto do valor.

A gente já vinha publicando gráficos ano passado livre de impostos. A partir de agora isso é a nova realidade. Achei que ficou melhor, ficou mais perto da realidade do dia-a-dia do produtor e um número de visualização direta.

Hoje o indicador vale R$ 98,15 à vista em SP. O mercado futuro está vendo o quê
para 2012? Observe ao lado. Ele está indicando de queda no boi até julho. Depois uma altinha em outubro. E só. Nada de emoção. Ano passado estava até pior, o indicador valia ao redor de 101 reais contra um contrato de outubro-11 que valia
ao redor de 95 reais.

Só para situar a coisa, o pior preço da safra do ano passado foi 93,73 reais em maio.

O maio-12 então, na bolsa agora mostra um 1,50 reais a mais. E só. O melhor preço da entressafra 2011 foi 107,08, o outubro-12 falam que a coisa vai valer seis reais abaixo disso. E só.

O ágio entressafra/safra nessa sexta-feira fechou em 6%. Ano passado fechou em 14% A média dessa fase do ciclo pecuário é de 23%. Ou seja, o mercado espera uma entressafra PIOR que a de 2011, que já foi ruim.

O mercado gera as opiniões. Não é à toa que os participantes do mercado enxergam um futuro tão ruim. O mercado é assim mesmo. Se ele está com vontade de incutir no povo sentimento de baixa e pessimismo, ele trabalha sem parar para retirar qualquer expectativa, qualquer esperança de que o mercado
suba. Chega uma hora que o cidadão não acredita mais em alta. Daí o mercado, só de pirraça, muda de lado e passa a subir.

O gráfico abaixo mostra esse tipo de serviço. Repare que a variação dos preços veio abaixo desde o final de 2010 e veio frustrando expectativas desde então. Depois de um ano de pancada na cabeça, qualquer um perde a noção histórica dos preços e de tudo que cai um dia sobe.



Estamos em um ponto crucial dessa história. Repare a arroba agora em janeiro abaixo do que valia um ano atrás. A arroba valer abaixo do que valia um ano atrás, em qualquer época do ano, foram situações que ocorreram poucas vezes durante esses quase vinte anos de mercado. A história nos mostra que não é prudente apostar em uma continuidade desse tipo de coisa, salvo alguma catástrofe, como foi em 2005/2006 na aftosa e 2009 na crise de crédito.

Fora catástrofes, que são imprevisíveis, não há registro de mercados abaixo ano-a-ano por períodos prolongados de tempo. Sendo assim, e somente por uma coisa dessas poderíamos dizer que o mercado futuro está precificado a arroba durante o ano de forma muito mais pessimista que seria prudente esperar.

E tem mais — nem falei aqui dos custos de produção. Na esteira do que comentei na última edição, um produtor/confinador que sei que faz custos de produção me disse que está mais barato “comprar bolsa”
para a entressafra que produzir boi. Daí para você ver o estado dos preços da bolsa para esse ano.

Não sei o que vai ocorrer, caro leitor. Só sei o que enxergo agora, com os números de agora. Agora, do jeito que está a bolsa e do jeito que estão os custos de 2012, a arroba está extremamente mal posicionada para remunerar a pecuária.

Engraçado que esse final-de-ano li muita coisa sobre esse tema — o aumento dos custos de produção de commodities no mundo inteiro. Então, quero dizer, talvez o que a gente está falando sobre custos da pecuária no Brasil não está indo muito longe do que está de fato ocorrendo no resto do mundo. Vamos acompanhando.

DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com –1,06 a R$ 98,15 à vista. Cotações em R$ por arroba.

A média móvel de 5 dias fechou em R$ 98,59. O contrato de janeiro/12 fechou com –1,92 a R$ 96,85. A diferença hoje entre o contrato de janeiro e a média é –1,74.

O contrato que vence em fevereiro/12 fechou com –1,47 a R$ 96,83; março/12 –1,09 a R$ 96,14; abril/12 –0,75 a R$ 95,50. Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços.

Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com –9,80 cotado a R$ 726,86 à vista. Cotações em R$ por bezerro.

A arroba do bezerro desse indicador está estável e vale R$ 112,00. Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal.

Taxa de Reposição 1 -- Um boi gordo compra hoje 2,23 bezerros, queda de 0,01 na semana.

Dólar -- Dólar comercial fechou com –0,80% a R$ 1,854. Dólar futuro com vencimento no início de fevereiro fechou com –0,83% a R$ 1,864; março fechou com –0,80% a R$ 1,875.

Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 11,00% ao ano.

Inflação – IGP-M de dezembro –0,12%. Acumulado no ano2 +4,99%. Acumulado nos últimos 12 meses 3 (janeiro-11 a dezembro-11) 4,99%.

Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas.

Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 98,50; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 91,00 (Base –7,6%) e em Campo Grande ao redor de R$ 92,00 (Base –6,6%).

A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 90,00 (Base –8,6%). Em Cuiabá está em R$ 90,00 (Base –8,6%).

No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 90,00 (Base –8,6%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 92,00 (Base –6,6%).

1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF.
2 e 3 Somatória com Juros Simples.
4 Fonte das arrobas dos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria.


CONCLUSÃO: Primeira semana do ano, muitas expectativas, poucos negócios. O mercado segue em ritmo de férias ainda. As escalas de abate giram atualmente ao redor de quatro dias, em média, contra três dias da semana
anterior.

Abraços,
Rogério Goulart

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