quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Francisco Vila – COSAG/FIESP: fechamento 2011 e perspectivas para a pecuária em 2012

Em mais um artigo sobre o tema “Fechamento 2011 e perspectivas para 2012 na pecuária de corte”, o BeefPoint publica a visão do convidado Francisco Vila, economista e membro do COSAG/FIESP – Consultor da Sociedade Rural Brasileira:
Análise do ano de 2011
Não obstante a desaceleração da economia global, 2011 foi um ano de continuidade da trajetória encorajadora para a produção bovina brasileira. Enquanto alguns fatores (positivos e negativos) oscilaram com maior amplitude, a tendência dos últimos 4 anos com ganhos de produtividade e margens operacionais positivas criaram condições para o produtor poder cuidar de questões estratégicas e de longo prazo do seu negócio.
O aumento dos custos com insumos foi compensado pelo nível elevado dos preços dos animais (bezerros e boi gordo). A intensificação de investimentos em infra-estruturas, máquinas, recuperação de pasto e reforço de rebanho sinaliza que o pecuarista usou excedentes do fluxo de caixa para preparar-se para os desafios de maior competitividade no futuro.
A combinação do aumento da demanda interna com preços melhores na exportação e a ausência de choques fora da porteira, como fortes problemas climáticos ou efeitos de desafios sanitários, providenciaram um clima de gestão sem estresse. Desta forma, os produtores com energia e visão para modernizar tiveram tempo e foco para construir as fundações para o próximo salto qualitativo e a expansão da sua atividade. O lançamento de linhas especiais para o financiamento da pecuária e as opções dos programas ABC abriram novas frentes para a ampliação do negócio.
Perspectivas para o ano de 2012
Os cenários físicos, climáticos e mercadológicos sinalizam a continuação da evolução dos últimos anos. A previsão para os preços, refletida pelo mercado futuro, indica a manutenção da margem média de lucro, mesmo com aumento ligeiro do custo de insumos.
No entanto, estamos entrando no último segmento do atual ciclo bovino. Isto sugere maior cuidado com a interpretação dos indicadores.
A ociosidade estrutural do setor dos frigoríficos permite prever que, por enquanto, a premiação de qualidade e regularidade, mesmo de fornecedores fidelizados, continua a exceção. Assim, o lucro precisa ser construído dentro da porteira.
No mercado mundial, tanto os EUA como a Índia surgiram como fortes concorrentes nos principais destinos da carne brasileira. A isso soma-se a impossibilidade de repetir o aumento dos preços que já atingiram os níveis dos tradicionais exportadores com bônus de qualidade. O Brasil deve manter um olho especial na trajetória das vendas externas da Índia que parece estar imitando o ‘milagre brasileiro’, que lançou o país no comércio global da carne em apenas 2 décadas. Recomenda-se a leitura dos estudos do USDA sobre o novo cenário de competição dos exportadores de carne bovina.
Também em relação à euforia sobre o mercado interno, com crescimento da demanda em função do quadro positivo do emprego e a inserção de R$ 50 bilhões em virtude do aumento do salário mínimo, convém avaliar eventuais correntes contrárias. De outros setores sabemos que a chamada ‘elasticidade do preço’ (maior renda = maior consumo de alimentos) não é uma regra pétrea. O desejo de comprar carne concorre com as despesas obrigatórias da família. É bem provável que parte do aumento real da renda seja imediatamente absorvida por gastos como prestações de empréstimos ou custos com telefonia celular, etc. O nível de endividamento da classe C ainda não é preocupante, mas certamente influenciará sua liberdade de compras no futuro.
Vale lembrar que o mercado está cheio de surpresas. No cenário internacional é interessante observar que, no mesmo mês em que o Brasil conseguiu abrir o mercado chinês para a exportação de carne suína, os chineses obtiveram autorização para exportar carne suína para a União Européia! E, no mercado interno, nota-se a perda de 15% das vendas de carne bovina das grandes redes de supermercados para as tradicionais casas de carne. Terá isto algum efeito para o produtor?
O que pretendo aprender de novo em 2012?
Pretendo estudar em maior detalhe as barreiras psicológicas que parecem ser o principal responsável pela ainda modesta incorporação de novas tecnologias e práticas de gestão na maioria das propriedades de porte médio. Ninguém duvida que a pecuária precisa ser modernizada. Além disso, canais de TV especializados, portais de internet como o BeefPoint e revistas técnicas divulgam diariamente soluções novas, porém já suficientemente testadas nas diversas regiões do País. Com margens positivas ao longo de diversos anos e com acesso a novas formas de financiamento o produtor teria as condições financeiras para ampliar e modernizar seu negócio. Pretendo compreender melhor porque não existe maior adesão aos novos conceitos e ferramentas que tornariam a fazenda mais produtiva, rentável e competitiva.
Qual a principal mudança a ser implementada em 2012?
A mudança acelerada do progresso tecnológico em todas as frentes da produção bovina exige novos conceitos de comunicação (palestras) e treinamento (workshops). Pretendo, em estreita articulação com as abordagens inovadoras do BeefPoint, conceber e implementar formatos de diálogo entre empresas de insumos, produtores, frigoríficos e fontes financeiras com maior impacto na tomada de decisão do produtor. Informar e conscientizar para a ação concreta é o desafio da pecuária em constante transformação.
Qual mensagem você envia aos produtores em 2012?
Quanto mais complexo e dinâmico o negócio, maior a necessidade de trabalhar em equipe. O momento exige e permite a construção de um diálogo mais profundo entre produtor, consultor, gerente e filhos (sucessor e herdeiros). Alianças estratégicas com outros produtores e uma maior integração entre indústrias de insumos, produtores e frigoríficos são necessárias para assegurar a competitividade brasileira no mercado global. A capacidade de criar esse diálogo divide o setor em dois grupos: o produtor vencedor que expande sua atividade e o pecuarista tradicional que perde espaço e rentabilidade.
Francisco Vila, Economista e membro do COSAG/FIESP – Consultor da Sociedade Rural Brasileira.
FONTE: BEEFPOINT

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