segunda-feira, 19 de março de 2012

Como anda a competitividade da carne bovina em relação aos produtos substitutos?



Hoje vamos explorar um pouco a competitividade da carne bovina em relação o seu principal produto substituto, a carne de frango. Também iremos abordar a relação das carnes com a demanda crescente por energia.
Nos últimos anos, temos visto que a produção de carne de frango vem crescendo muito mais rapidamente que a carne bovina e recentemente já ultrapassou a produção desta ultima, Tabela 1.
Tabela 1- Mercado Mundial de Carne – FAO


Outra informação interessante nessa tabela, é que ao olharmos o consumo per capita dos países desenvolvidos, percebemos o potencial de consumo inexplorado nos países em desenvolvimento. Nos próximos anos, a grande demanda deverá vir de países em desenvolvimento, onde há um incremento tanto na renda da população, devido ao forte crescimento desses países, como a entrada de consumidores que antes não tinham acesso a este tipo de alimento.
Também podemos verificar no Gráfico 2, que os preços do frango a partir de 2009 tiveram altas mais fortes que a carne bovina,  o que estreitou um pouco mais a sua competitividade. Porém devido aos preços mais baixos dessa e a sua eficiência em produtividade, ela tem conseguido conquistar rapidamente fatias maiores do mercado.
Já a carne suína, foi a que menos reagiu, perdendo inclusive para a carne bovina. Provavelmente este movimento foi causado devido à queda nos rebanhos bovinos mundiais, as doenças que atingiram as produções Asiáticas de suínos e o aumento da produção suína. Isto demonstra também a maior eficiência desta cadeia.
Gráfico 2 – Evolução do Índice de preço das carnes e  rações (FAO)


No entanto Gráfico 2 e 3, nos mostram também que a partir de 2006 o índice de preços das rações tem reagido de forma mais rápida que os índices de preços de carnes. Isto tem afetado a margem destas cadeias, ou seja, elas terão que ganhar eficiência produtiva para poderem sobreviver.
As carnes de frango e porco estão muito mais relacionadas a produtos como milho e soja devido ao sistema digestivo desses animais, ou seja, estes animais não possuem muitas alternativas de substituir esses grãos por outros alimentos. Já os ruminantes têm uma ampla gama de insumos substitutos, o que lhe permite utilizar subprodutos de diversas indústrias. Porém os sistemas de produção do porco e suíno são muito eficientes e de ciclos curtos com menos investimentos, ou seja, podem ajustar suas produções rapidamente em função dos custos. Já os bovinos exigem maiores investimentos e tem um ciclo mais longo de produção, o que diminui sua flexibilidade.
Essa reação nos preços das rações está fortemente relacionada ao aumento na demanda por bicombustíveis. Devido à necessidade de novas fontes de energia para abastecer a demanda mundial crescente, e na ausência de novas matrizes energéticas e ou novas tecnologias,  essa tendência crescente nos preços das rações deve permanecer. Conseqüentemente, veremos as cadeias de frango e suínos, mais suscetíveis aos movimentos de preços dessas rações, o que afetará também a cadeia de carne bovina.
Gráfico 3 – Evolução do Índice de preços do frango e porco x rações (FAO)


Voltando um pouco para o nosso mercado interno, podemos perceber a forma como essas cadeias reagem às mudanças de preços do mercado. Olhando o Gráfico 4, observamos  (ponto vermelho no dia 1/2/2012) que o preço do milho em relação ao frango resfriado se deslocou fortemente em relação à reta de tendência (linha preta), indicando que ficou inviável se produzir frango a esses custos. Devido à flexibilidade e eficiência desta cadeia, em menos de 60 dias, ela reajustou seus níveis de produção fazendo com que os preços voltassem a reagir (ponto laranja no dia 15/3/2012), e se aproximassem novamente da reta de tendência.
Gráfico 4 – Correlação entre o Milho e o Frango Resfriado.


Da mesma forma, no Gráfico 5, podemos perceber a correção dos preços do Frango Resfriado em relação ao Preço do Boi Gordo. Os pontos vermelho e laranja, demonstram respectivamente como as correlações dessas commodities estavam nas mesmas datas. Ou seja, para as duas commodities se ajustarem, o preço do frango subiu e o do boi caiu, fazendo com que as duas encontrassem em pouco tempo o seu ponto de equilíbrio. É lógico que outros fatores também influenciaram estes movimentos, mas como a correlação das duas é elevada R2 = 0,733, o movimento do frango teve uma influencia forte no preço do boi gordo.

Gráfico 5 – Correlação entre o Frango Resfriado e o Boi Gordo.

Assim se estabelece uma correlação entre os preços da energia e as carnes. Apenas uma mudança em padrões tecnológicos ou em novas matrizes energéticas poderá alterar esta correlação.
A grande questão é: Aonde se encontra o ponto de equilíbrio deste aumento de custos das rações x aumento pela demanda de energia (bicombustíveis) e eficiências das diferentes cadeias de carnes?
Parece que ainda teremos que encontrar este ponto de equilíbrio, uma vez que a demanda maior de energia está provocando um aumento na demanda de terras para produção de grãos. Ou seja, cada vez mais as áreas de pastagens de baixa produtividade estão sendo ocupadas por grão, e os sistemas extensivos de produção de carne bovina pressionados para mudarem para sistemas mais intensivos. Ao mesmo tempo, o frango e suíno são pressionados pelos aumentos nos custos do milho e soja, enquanto o aumento na produção desses grão deverá incrementar a oferta de subprodutos, o que favorece a cadeia de carne bovina. No entanto, parece que este ponto de equilíbrio ainda não foi encontrado.

Aqui encerro este artigo e aproveito para convidá-los no Dia 27 de Março ao Primeiro Seminário focado no  Mercado do Boi Gordo em 2012. Nele iremos debater os principais fundamentos que estão afetando e irão afetar o Mercado do Boi Gordo em 2012.
Vamos discutir questões como:
  • Que fatos importante estão acontecendo hoje e que podem influenciar a formação de preços de 2012?
  • Será que os preços cairão ainda mais?
  • Em que fase do ciclo pecuário estamos?
  • Como anda a competitividade da carne brasileira no exterior?
  • Quais os custos, riscos e a viabilidade em se confinar?
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Conto com sua presença. Grande abraço a todos,
Alberto Pessina
FONTE: BEEFPOINT

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