terça-feira, 24 de abril de 2012

Deslocamento da oferta de gado ao longo do ano


 
Rogério Goulart, administrador de empresas, pecuarista e editor da Carta Pecuáriacartapecuaria@gmail.com
Reprodução permitida desde que citada a fonte
 
No gráfico a seguir temos o que é chamado de curva dos futuros. Em vermelho o preço de hoje. Em azul, o comportamento esperado dos preços sob o ponto de vista dos participantes do mercado futuro. Os valores estão arredondados para facilitar a conversa.



Repare que o mercado está dizendo que estamos passando pelo fundo do poço da safra. O contrato de maio sinaliza um real a mais na arroba, e junho, dois reais a mais do que hoje. É pouco? Sim, porém é um movimento para cima nos preços, e não para baixo.

Estamos passando pelo final de safra. Sabe quando você tem que ir até aquele pasto buscar os animais? É o pasto no fundo da fazenda. Paciência. Não tem nada para fazer no meio do caminho, em cima do cavalo.

Tem que esperar chegar até lá para poder novamente fazer alguma coisa. Estamos passando por um período desses, caro leitor. Estamos indo buscar os animais no pasto. Não tem nada para ser comercializado agora, pelo menos sob o ponto de vista de buscar preços remuneradores.

Agora, nesse final de abril, os preços estão ruins. Obviamente, compromisso é compromisso e isso independe dos preços vigentes. Boa parte dos animais serão comercializados de qualquer forma. Quem precisa vender para pagar as contas, tem que pedalar.

Agora, quem pode esperar um pouco mais, e quem quer esperar um pouco mais, que espere, ou pelo menos vá vendendo de grãozinho em grãozinho, aos poucos. É ter paciência. Novamente, muita paciência.

É o que estou fazendo.

Outra coisa que gostaria de chamar a atenção dos leitores é sobre a oferta de animais distribuída durante o ano. Mês a mês são abatidos um pouco de gado, e esse pouco de gado gera uma porcentagem do gado que é abatido durante o ano.

Por exemplo, o mês de abril, historicamente é responsável por 8,3% do abate anual.

Supostamente essa conta deveria ser estável, já que estamos lidando com indústria. Mas não é estável. Ela varia durante o ano, e a variação do abate é em decorrência em primeiro lugar da oferta de gado gordo daquele mês e daquele ano específico.
Temos safra e entressafra. A oferta de gado na safra é maior que na entressafra. Nunca um ano é exatamente igual ao outro, e isso quer dizer que a oferta de gado é uma coisa viva, que oscila em função das oportunidades de preço.

Pois bem, a oferta de gado está mudando, caro leitor. Está se deslocando dos meses da safra e indo para a entressafra. Isso bem devagar, certo? Mas já dá para reparar a mudança, como você pode ver no gráfico a seguir.



Em azul, o ciclo pecuário anterior. Em vermelho, o ciclo atual. Repare que os meses de safra estão perdendo participação para os meses de entressafra. Isso quer dizer que a quantidade de oferta de gado no segundo semestre está aumentando, enquanto a oferta no primeiro semestre está diminuindo.

O que podemos fazer de prático sobre isso? Bom, nada, mas é sempre bom sabermos como o mercado está andando.

Repare na tabela como se alterou o quadro de distribuição nos abates. Essa tabela é outra forma de dizer a mesma coisa que o gráfico diz. É nítido o movimento de acréscimo de oferta na entressafra. Isso quer dizer que a entressafra está, aos poucos, virando a nova safra do boi. Quem diria.

Isso, a distribuição de gado durante o ano mudará os preços? Bom, ainda não sabemos. O que sabemos é que, quanto mais os animais se distanciam da flexibilidade de ficarem estocados nos pastos, mais você favorece quem compra os bois. Bois fechados nunca foram conhecidos pela flexibilidade de poder demorar para serem vendidos. Nunca se esqueça da regra:

Quem tem o estoque, manda. Cada ano que passa, isso está, a meu ver, se tornando mais verdadeiro.

MOVIMENTAÇÃO DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com –2,22 a R$ 94,13 à vista. Cotações em R$ por arroba.

A média móvel de 5 dias fechou em R$ 95,38. O contrato de abril/12 fechou com –0,80 a R$ 94,77. A diferença hoje entre o contrato de abril e a média é –0,61.

O contrato que vence em maio/12 fechou com –0,45 a R$ 95,05; junho/12 –0,33 a R$ 96,41; julho/12 –0,78 a R$ 97,82.

Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços.

Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com +16,65 cotado a R$ 736,60 à vista. Cotações em R$ por bezerro.

A arroba do bezerro subiu três reais e vale ao redor de R$ 110,00. Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal.

Taxa de Reposição 1 -- Um boi gordo compra hoje 2,11 bezerros, queda de –0,10 na semana.

Dólar -- Dólar comercial fechou com +1,90% a R$ 1,873. Dólar futuro com vencimento no início de maio fechou com +1,69% a R$ 1,874; junho fechou com +1,65% a R$ 1,885.

Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 9,00% ao ano, queda de 0,75% na última reunião do Copom.

Inflação – IGP-M de março +0,43%. Acumulado no ano2 +0,62%. Acumulado nos últimos 12 meses3 (abril- 11 a março-12) +3,20%.

Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas.

Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 96,00; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 88,00 (Base –8,3%) e em Campo Grande ao redor de R$ 88,00 (Base –8,3%).

A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 85,50 (Base –10,9%). Em Cuiabá está em R$ 85,00 (Base –11,5%).

No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 86,00 (Base –10,4%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 88,50 (Base –7,8%).

1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF.
2 e 3 Somatória com Juros Simples.
4 Fonte completa dos preços da arroba nos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria.


CONCLUSÃO: Semana terminando com uma queda significativa na arroba do boi. O pior preço do ano foi 93 reais uns meses atrás. A arroba hoje vale 94 reais, com expectativa de melhora de agora adiante, segundo os contratos futuros.

Abraços,

Rogério Goulart

Nota da Bigma Consultoria: O texto de Rogério Goulart, da www.cartapecuaria.com.br , publicado nesse espaço, foi resumido e alguns gráficos podem ter sido suprimidos. Acesse a análise completa e com os gráficos no site da Carta Pecuária 

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