sexta-feira, 25 de maio de 2012

Rabobank: mercado global de carne bovina – 2º trimestre de 2012


Visão global
Existem riscos de pressão de baixa os preços nos mercados de gado/carne bovina durante o segundo trimestre de 2012, à medida que é esperada uma oferta global levemente maior, liderada pelo Brasil e outros países do Hemisfério Sul, em meio à economia global que permanece relativamente fraca. Para o resto do ano, entretanto, os preços do gado deverão se recuperar novamente, à medida que os mercados mudam de aumento na oferta de curto prazo (principalmente o Brasil) para ofertas materialmente menores já que a maioria dos países produtores de carne bovina está passando por liquidação, ciclo de retenção ou problemas relacionados ao clima.
No entanto, um aumento significante nos preços pode ser limitado pela fraqueza no crescimento global, que pode estimular uma tendência a fontes mais baratas de proteínas, notavelmente no mundo em desenvolvimento. A longo prazo, as ofertas globais de proteínas de carnes e especialmente as de carne bovina continuarão retardando o crescimento na renda e na população em importantes mercados emergentes. Isso dará suporte aos preços, enquanto aumenta os riscos de volume e custos aos processadores e os riscos de preços aos compradores.
O Rabobank Global Cattle Price Index caiu 2,5% com relação aos níveis de dezembro de 2011  no primeiro trimestre de 2012, devido à demanda de um modo geral fraca e a um aumento sazonal na oferta no Hemisfério Sul. Pressões contrárias adicionais vieram da recente queda nos valores do gado nos Estados Unidos em meio à menor demanda causada pelas reações dos consumidores à carne bovina magra de textura fina (LFTB, sigla em inglês). Em comparação com o ano anterior, o Índice no começo do segundo trimestre caiu 4% com relação ao que era no início do segundo trimestre de 2011 (Figura 1).

O Rabobank Beef Forex Index médio para o primeiro trimestre de 2012 caiu 2% com relação ao do quarto trimestre de 2011 devido à desvalorização do dólar norte-americano contra a maioria das moedas dos mais importantes países exportadores. Entretanto, o Índice está começando o segundo trimestre 6,6% maior do que no mesmo período do ano anterior, o que poderia aumentar a pressão de baixa nos preços internacionais da carne bovina (Figura 2).
A demanda começou forte nos Estados Unidos e na União Europeia (UE), com preços recordes no primeiro trimestre. O contínuo fortalecimento nos preços será suportado pelas escassas ofertas globais, mas poderá ser limitado pela continuação na lentidão no crescimento de empregos, queda nos rendimentos reais e recentes aumentos nos preços do petróleo, que adicionaram ainda mais pressão às rendas disponíveis já pressionadas.
Perturbações no mercado dos Estados Unidos e menor uso de LFTB (“lodo rosa”)
Desde o meio de março, o mercado de carne bovina dos Estados Unidos está tumultuado devido ao furor direcionado pela mídia com relação ao uso de LFTB. A LFTB é um produto 95% magro oriunda de retalhos de gordura da carne bovina. É um produto tipicamente 33% magro ou menos. O processo, que foi desenvolvido pela Beef Products Incorporated (BPI), aquece levemente o material e usa a centrífuga para separar o tecido magro da gordura. A gordura separada tem sido tipicamente usada em gordura comestível ou na fabricação de biodiesel. O produto magro tem sido principalmente usado como um aditivo da carne moída, hambúrgueres e carne usada em taco. O produto excepcionalmente magro tem sido usado para aumentar a porcentagem de carne magra nas misturas de carne moída.
Com base em uma citação de um e-mail enviado por um microbiologista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 2002, o termo “lodo rosa” foi criado para se referir ao produto. Uma combinação de notícias nacionais, referências em blogs e ativistas anti-carne vermelha estimulou uma grande reação pública que radicalmente reduziu o preço da carne 50CL (medida de referência de magreza, 50% magra) e deverá aumentar o preço da carne 90CL (90% carne, 10% gordura). Isso forçará uma mudança nos padrões de compras de carne moída pelos consumidores dos Estados Unidos. Esse evento, que perturbou o mercado, também deverá aumentar o volume de carne magra importada pelos Estados Unidos, especialmente da Austrália e da Nova Zelândia, tornando os Estados Unidos um importador líquido de carne bovina.
O Rabobank estima que o LFTB atualmente representa um pouco menos de 2% da oferta de carne bovina dos Estados Unidos. Semanas de intensa atenção da mídia tiveram, pelo menos temporariamente, um impacto negativo na demanda por carne bovina, que forçou os preços para baixo, tanto do boi gordo como da carne.
Impacto do vírus Schmallenberg na indústria de carne bovina foi limitado
Comparado com o número total de fazendas da UE, a participação das fazendas infectadas com o Schmallenberg é muito pequena (<0,5%). Além disso, a carne ainda pode ser exportada, o que minimiza o efeito na indústria de carnes. Entretanto, as barreiras de importação impostas pela Rússia e a cautela da Turquia na hora de fornecer permissões de importação para gado e genética estão impactando nos comerciantes de gado em pé e nas companhias de genética, que estão enfrentando problemas de exportação. Essa situação não tem sido ajudada pelo fato de a Comissão Europeia não permitir que os países anexem documentos extras aos produtos com provas de que os gados/genéticas não estão infectados pelo Schmallenberg.
Brasil pode ter status de risco da EEB reduzido pela OIE
Autoridades locais estão com grandes expectativas de que a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reduzirá o status de risco brasileiro para Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) da categoria 2 para a categoria 1 (apesar de o Brasil nunca ter tido um caso de EEB). Se essa mudança ocorrer, as negociações comerciais com vários países podem acelerar, resultando em novos mercados para o Brasil. Um bom exemplo é o mercado turco, que parece estar inclinado a negociar com o Brasil para diversificar suas fontes de carne bovina além dos tradicionais países da UE.

Atualizações regionais
Brasil
Os preços do gado no Brasil continuaram com a tendência de declínio vista desde dezembro passado, com os preços dos animais vivos alcançando seu menor nível em 14 meses, caindo 5% desde dezembro. O principal direcionador para o declínio no preço foi um aumento na oferta de gado, como resultado da retenção de vacas entre 2007 e 2010. Os abates de vacas também aumentaram durante o segundo trimestre como resultado da queda nos preços dos bezerros, sugerindo certa liquidação no rebanho.
Pressão adicional veio da menor demanda por carne bovina brasileira. As exportações permaneceram baixas durante o primeiro trimestre, caindo 6% comparado com o ano anterior e 11% sequencialmente. A queda nas vendas internacionais foi principalmente causada por uma redução no comércio com o Irã por causa das dificuldades em obter as permissões necessárias para descarregar os navios. Pressão oposta também veio de uma menor demanda doméstica por causa das férias escolares de verão e da queda nos preços da carne suína e de frango. Uma combinação de efeitos causou um declínio de 4% nos preços atacadistas com relação ao ano anterior.
Como os preços do gado têm caído mais do que os valores da carne bovina, os frigoríficos se beneficiaram dessa situação e conseguiram manter margens brutas (porcentagem) similares aos bons níveis do quarto trimestre de 2011 (como reportado pelas companhias brasileiras de carne bovina registradas) e bem acima que no mesmo período do ano anterior.
Durante o segundo trimestre de 2012, o Rabobank espera ver um enfraquecimento dos preços do gado vivo, direcionado por um aumento sazonal na oferta (proximidade ao período de seca), que poderá ser exacerbado pela chegada ao mercado das grandes safras de bezerros vistas em 2009 e 2010. Todavia, esse provável decréscimo nos valores do gado poderá ser minimizado pelos preços mais altos esperados para a carne de frango (devido aos ajustes na oferta), que deverá afetar positivamente os preços da carne bovina no atacado. Além disso, uma recuperação nas exportações – possivelmente liderada por um aumento no número de plantas com permissão para exportar à Rússia e ao relaxamento nos procedimentos de importação por parte do governo iraniano -, sem mencionar a desvalorização do Real brasileiro, que teve queda de 8% desde fevereiro de 2012 com relação ao dólar dos Estados Unidos, também ajudará a limitar o espaço para reduções significantes nos preços.
Para o terceiro e quarto trimestres, os preços do gado deverão respeitar a sazonalidade da oferta no Brasil e se recuperar dos níveis do segundo trimestre, mas, à medida que nos aproximemos do primeiro trimestre de 2013, e a estação de chuvas dominar, os valores deverão declinar novamente. Entretanto, apesar do comportamento cíclico, o Rabobank previu que os preços oscilarão abaixo dos níveis do ano anterior considerando o momento crítico do ciclo do gado e o consequente aumento na oferta geral.
Esse cenário de oferta mais abundante no Brasil – por pelo menos os próximos dois anos -, combinado com a forte demanda local esperada e a falta de carne bovina nos principais países competidores, preparou o terreno para algumas companhias expandissem no Brasil. Esse é o caso da JBS, que aumentou sua capacidade de abates em 10% desde o começo do ano arrendando cinco plantas e adquirindo outras duas.
Estados Unidos
Os preços do boi gordo alcançaram níveis recordes durante o primeiro trimestre de 2012, com o preço médio até agora nesse ano de US$ 2,77/kg e um pico de US$ 2,86/kg na primeira semana de março. Uma vez registrado o pico sazonal,os preços estão sob extrema pressão, à medida que o mercado respondeu à pressão negativa e à menor demanda em reação à crise da LFTB. Considerando as amplas ofertas de boi gordo, as considerações sazonais e o impacto da LFTB, os preços deverão permanecer sob pressão. Os preços deverão ficar próximos ao nível de US$ 2,53 no meio do verão, antes de registrar uma forte recuperação na segunda metade do ano, direcionada pelas ofertas restritas e considerações sazonais.
O número de boi em engorda permaneceu de 1% a 3% a mais que em 2011. Ao mesmo tempo, os abates até agora inspecionados pelo Governo Federal foram 6% menores que no mesmo período do ano anterior e 5% menores que a média dos últimos cinco anos. As menores taxas de abates foram parcialmente direcionadas pelas reduções forçadas nas taxas de processamento pelos frigoríficos, em um esforço para suportar os valores dos cutouts (valor derivado de uma fórmula que estima o valor da carcaça usando médias ponderadas dos cortes) e as margens excepcionalmente fracas.
Os pesos das carcaças de novilhos alcançaram um pico sazonal no começo de fevereiro de 390 quilos e vêm se mantendo em níveis anormalmente altos de 9 a 9,5 quilos a mais que no mesmo período de 2011 e que a média dos últimos cinco anos. Apesar disso, a produção de carne bovina dos Estados Unidos caiu 3,4% com relação ao ano anterior até o meio de abril.
A razão entre o preço do novilho vivo e o valor do cutout tem se mantido em níveis insustentavelmente altos, confirmando que as margens dos frigoríficos têm estado baixas em uma base sequencial à medida que eles lutam por oferta, com mais declínios nas ofertas devendo ocorrer à medida que o ano avança.
A controvérsia sobre o LFTB veio lentamente aumentando nos últimos dois anos e explodiu na atenção pública quando o ABC News fez reportagens sobre o produto no meio de março, que citou o ex-funcionário do USDA que chamou o produto de “lodo rosa”. Como resultado do furor nas mídias sociais que se seguiu, a maioria das redes de fast food e varejistas fizeram declarações públicas de que descontinuariam o uso do produto. O destino final desse produto, que recentemente fornecia cerca de 2% da oferta de carne bovina dos Estados Unidos, é duvidoso.
Estimou-se que, em sua produção máxima, a produção anual total de LFTB era de 385,55 mil toneladas há vários anos. Com o declínio da aceitação do produto, o Rabobank estimou que os níveis recentes de produção declinaram em talvez 50% com relação ao pico, à medida que redes de restaurantes como McDonald’s, Burger King e Taco Bell, pararam de usar o produto em vários pontos de 2011. O impacto final no mercado depende do quanto e quando parte dessa oferta retornará à cadeia de alimentos humanos.
A Tyson reportou lucros no primeiro trimestre de 2011 (terminando em 31 de dezembro de 2011) de US$ 0,42 por ação versus lucros recordes de US$ 0,78 por ação no primeiro trimestre de 2011. As margens operacionais em seu segmento de carne bovina foram de 0,9%. A Tyson disse que a demanda por carnes de classificaçõeschoice e higher middle foi forte no segundo trimestre, ampliando a diferença entre as carnes choice e select e direcionando os preços do gado vivo no mercado spot para mais do que era justificado pelas receitas nos cutouts. A Tyson espera que as margens melhores durante o restante de 2012, à medida que os preços respondam aos menores abates. Isso poderia ser desafiador devido às menores ofertas de gado vindo ao mercado para todos os frigoríficos.
União Europeia (UE)
Os preços da carne bovina da UE registraram um novo recorde de 3,92 euros (US$ 4,98)/quilo em março de 2012, mais de 20% de aumento com relação a março de 2011 e de 1,5% de aumento com relação a dezembro passado. As atuais ofertas escassas, com os números de gados abatidos na UE caindo 5% para o primeiro trimestre e uma sólida demanda por miúdos, são quase totalmente responsáveis por esses níveis fortes de preços.
As exportações de carne bovina da UE foram pressionadas em janeiro, caindo 35,7% com relação ao ano anterior para pouco mais de 33.000 toneladas em equivalente peso carcaça, com ambos os principais destinos, Rússia (-49%) e Turquia (-59%) apresentando grandes quedas. As exportações de gado em pé para a Turquia foram especialmente afetadas após o grande crescimento nos últimos meses de 2011. As permissões de exportações para gado vivo da UE foram restritas pelas autoridades turcas após a disseminação do vírus Schmallenberg na Europa. Além disso, as importações de carne bovina declinaram 4,6% para quase 23.000 toneladas.
Não existem sinais de que a demanda por carne bovina declinou no primeiro trimestre, após um declínio de 2,7% em 2011. Com a continuidade dos fortes preços esperada e com o poder de compra dos consumidores pressionado devido ao fato de muitos governos da UE terem implementado cortes de despesas para restaurar seu balanço de pagamentos, o consumo de carne bovina da UE permanecerá pressionado durante o resto de 2012.
Para o segundo trimestre de 2012, as menores ofertas de gado e os menores números de abates continuarão apoiando os preços da carne bovina da UE. O último inventário do rebanho de 1o de dezembro mostrou que o rebanho bovino europeu caiu 1,3%, com o número de bovinos entre um e dois anos de idade (-5,2%), de bovinos de mais de dois anos (-4,7%) e de novilhas (-5,9%) indicando ofertas escassas de animais prontos para serem abatidos para o restante do ano, o que deverá ser um suporte aos preços da carne bovina da UE. Entretanto, com o declínio projetado nas exportações e a pressão no consumo direcionada pelos preços, parece improvável que o aumento constante de preços visto em 2011 ocorrerá novamente em 2012. A disponibilidade excepcionalmente escassa sugere que os preços da carne bovina da UE passarão os 4 euros (US$ 5,08) por quilo no devido tempo.
Em um prazo mais longo, a concentração que está ocorrendo no rebanho bovino da UE com os números de vacas leiteiras e de corte caindo em 1,2% e 1,6%, respectivamente, levará a menores ofertas de carne bovina local na UE. Esse fator, combinado com uma demanda de exportação menor, mas ainda boa, aponta para um cenário de um leve aumento nos preços (+5%) nos próximos 12 meses. Embora o lado econômico da oferta pareça muito positivo, a única grande incerteza é a estabilidade econômica dentro da UE e o poder de compra dos consumidores.
Austrália
O rebanho bovino da Austrália está em seu maior nível em 30 anos. A oferta deverá aumentar nesse ano, com o aumento nas taxas de abates de adultos, de 3% a 5%. As estimativas são de que os abates aumentarão para 7,55 milhões de cabeças. A retenção de vacas deverá continuar, com os esforços de reconstrução do rebanho (e excelentes condições sazonais), de forma que os abates se manterão estáveis (incluídos em 7,55 milhões). A produção deverá aumentar 2,3%, para 2,2 milhões de toneladas, das quais as exportações deverão aumentar para níveis recordes de 975.000 toneladas de produtos enviados.
As vendas de reabastecedores e de carne bovina de alta qualidade caíram no começo de janeiro e o Eastern Young Cattle Indicator caiu de um recorde de A$ 4,25 (US$ 4,21) por quilo em dezembro de 2011 para entre A$ 3,90 (3,87) e A$ 3,95 (US$ 3,91) por quilo em março e ficou em pouco menos de A$ 3,90 (3,87) por quilo em abril.
Os números comercializados na Austrália aumentaram no começo de fevereiro de 2012, mesmo com as enchentes de New South Wales e Queensland. O estoque se moveu para mercados alternativos para vendas e processamento. A demanda por animais mais leves foi forte durante março, à medida que a atividade de reabastecimento aumentou.
As exportações para a Ásia estão sendo fracas em 2012 até agora, à medida que os Estados Unidos aumentaram a competição e essas economias continuam estáveis. Os envios ao Japão caíram 8% na estação até agora, enquanto os envios à Coreia ficaram quase 13% menores do que no ano anterior. O enfraquecimento nesses mercados abriu a disponibilidade para outros mercados, como Taiwan e Chile. Como resultado, as exportações permaneceram 5% maiores que no mesmo período do ano anterior desde novembro (ano cota dos EUA). Os envios australianos aos Estados Unidos aumentaram para níveis mais típicos e estão bem acima que as exportações do ano anterior (80% maiores), quando o mercado luta com o fortalecimento do dólar australianos com relação ao dólar dos Estados Unidos.
As questões relacionadas ao uso de LFTB no mercado doméstico dos Estados Unidos foram boas para as exportações de produtos da Austrália (e da Nova Zelândia) para o balanço de 2012. A produção australiana deverá aumentar 5% em 2012 e os atuais aumentos nos volumes de exportação estão de acordo com as maiores projeções. Embora os preços dos gados australianos tenham caído com relação aos aumentos de janeiro, eles deverão permanecer firmes, à medida que a demanda e os bons níveis de condições sazonais estão apoiando o crescimento na indústria.
Argentina
Depois de um período de sete trimestres consecutivos quando os abates caíram com relação ao ano anterior, o quarto trimestre de 2011 terminou com um aumento nos abates de 3,8% com relação ao ano anterior. A mesma tendência continuou no primeiro trimestre, quando os números de janeiro indicaram um aumento de 7,9% nos abates. Apesar de parte do aumento nos abates poder ser devido à escassez de água durante os meses de pico do verão, isso também reflete o fim de um ciclo de retenção do rebanho que começou há dois anos.
Apesar do aumento nos abates, as exportações nos dois primeiros meses de 2012 caíram 8% com relação ao ano anterior. As razões para esse desempenho ruim nas exportações incluem maiores preços do gado do que nos países vizinhos, menores preços internacionais e relutância do Governo em fornecer direitos de exportação. No momento, as exportações somente representam 7% da produção de carne bovina da Argentina.
O restante da cota Hilton para 2011/12 foi alocado somente no começo de março. Nesse ponto, mais de 20 mil toneladas (de um total de 28 mil toneladas) ainda tinham que ser exportadas antes do fim do período, em junho. Para o segundo trimestre de 2012, o Rabobank espera que as exportações aumentem à medida que os exportadores pressionarão para cobrir o máximo da cota possível antes de junho. As exportações de carne bovina argentina e todas as exportações à Europa devem ser consideradas vulneráveis à retaliação pela desapropriação feita pelo Governo argentino da YPF cuja maioria pertencia à Repsol, da Espanha.
O aumento na produção no primeiro trimestre foi absorvido pelo mercado doméstico, com o consumo aumentando 11% com relação ao ano anterior em janeiro de 2012. Isso permitiu que o consumo per capita aumentasse rapidamente para 58 quilos por pessoa em comparação com 52 quilos no ano anterior.
Para o segundo trimestre, o Rabobank projeta que a produção de carne bovina ficará levemente acima dos níveis de 2011, mas ainda abaixo da média histórica. Esse aumento na produção pode não significar um aumento na carne bovina exportável se o Governo continuar atrasando as permissões de exportação. O consumo doméstico continua abaixo da média histórica e sugere que a demanda local absorverá o que não for exportado.
Nova Zelândia
Os produtores de gado da Nova Zelândia tiveram uma estação de produção excepcional, com previsões de aumentos adicionais nos preços. As boas condições de produção em grande parte da Nova Zelândia (com exceção das recentes tempestades) permitiram que o gado ficasse no pasto mais tempo que o normal durante o pico do verão, à medida que o alimento continuou disponível. As excelentes condições levaram a um começo mais lento que o normal no pico da estação de produção de carne bovina para muitos processadores e os maiores pesos das carcaças oferecerão alguma melhora no volume à medida que a estação progride.
Os números de gado na Nova Zelândia deverão aumentar de 1% a 2%, para cerca de 2,3 milhões de cabeças. A maioria da carne bovina da Nova Zelândia é produzida em fazendas conjuntas de bovinos e ovinos, de forma que o aumento nos preços dos ovinos em 2011 limitou o aumento nas taxas de bovinos.
Dados oficiais de abates para o final de março de 2012 mostraram que a produção na Ilha do Norte de novilhas e novilhos caiu em 16,5% até agora na estação, o que foi compensado por um aumento na produção na Ilha do Sul de 10.000 cabeças. Os primeiros abates ficaram 10% menores do que na estação anterior, no final do primeiro trimestre. Os números de touros na Ilha do Norte permaneceram consistentes, embora o processo de abate de vacas leiteiras no norte tenha começado e deva continuar ativamente até junho.
As exportações melhoraram durante o primeiro trimestre, com os volumes aumentando 45% em fevereiro com relação ao mês anterior e 16% com relação ao ano anterior. Desde outubro de 2011, os volumes de exportação ficaram levemente menores (6%) que no mesmo período do ano anterior, mas deverão acelerar no segundo e terceiro trimestres. As previsões são para que os volumes enviados até o final de setembro aumentem em cerca de 4,5% com relação à estação anterior, para 370 mil toneladas.
Os fortes preços da carne bovina processada nos Estados Unidos têm sido um pouco reduzidos pelo forte dólar neozelandês. Embora isso tenha colocado certa pressão nos preços ao produtor durante o primeiro trimestre, os preços locais deverão se manter sólidos e bem acima das médias históricas.
China
Após terem atingido o pico no final de janeiro, com o fim da estação de festas, os preços da carne bovina da China declinaram levemente e, recentemente, estabilizaram-se com o preço de cortes da coxa sem osso no atacado ficando em US$ 5,80 por quilo. Como os preços ainda estão altos, a demanda dos consumidores por carne bovina vem caindo.
A escassez na oferta de carne bovina na China continua, sem sinais de uma reconstrução significante no rebanho. Devido aos maiores custos do milho e de outros insumos alimentares, os produtores de bovinos de corte têm pouco incentivo para construir estoques e a situação da escassez na oferta durará pelo próximo ano. Entretanto, estão surgindo oportunidades de mercado por causa da escassez de oferta e dos altos níveis dos preços. Isso está atraindo fluxo de capital ao setor de carne bovina. Uma companhia de participações privadas recentemente anunciou um investimento na indústria Heilongjiang Binxi Cattle, uma das maiores processadoras de carne bovina da China.
As importações de carne bovina deverão aumentar para cobrir a lacuna na oferta doméstica. Nos primeiros dois meses de 2012, as importações de carne bovina aumentaram 44% com relação ao ano anterior (3.742 toneladas). As exportações do Brasil à China estão aumentando rapidamente com relação aos baixos níveis do primeiro trimestre de 2011, com sua participação aumentando de 10% em 2011 para 23% nesse ano.
Para o segundo trimestre de 2012, os preços da carne bovina deverão permanecer em altos níveis, com somente um leve declínio devido à baixa sazonal do consumo de carne bovina. Durante o restante do ano, o Rabobank espera um modesto fortalecimento dos preços devido à continuidade nas escassas ofertas de proteínas de forma geral.
México
De janeiro ao começo de março de 2012, os preços de gado vivo e da carne bovina aumentaram 14% e 19%, respectivamente, com relação ao ano anterior, devido à menor oferta de gado. A produção de carne bovina do México tem estado abaixo dos níveis do ano anterior, com a produção durante janeiro e fevereiro desse ano caindo em 1,9% e 0,18%, respectivamente. Esse declínio na produção é devido às reduções no rebanho bovino, que foram causadas pela seca e pelo aumento nos custos dos alimentos animais. Além disso, o aumento nas exportações de gados para engorda do México também contribuíram para a redução no rebanho. O Rabobank estimou que alguns estados do norte apresentaram uma contração do rebanho bovino de até 30%.
Apesar de a produção estar sob pressão, as exportações tiveram bom desempenho em 2011, aumentando 44% com relação ao ano anterior. Esse crescimento foi principalmente devido às maiores vendas aos Estados Unidos, Coreia e Rússia. O Japão é o único mercado de exportação que apresentou um declínio. Além disso, a carne bovina mexicana ganhou acesso a novos mercados, como China, Angola e Vietnã e esperamos que as vendas a esses países mostrem crescimento adicional em 2012. Espera-se também que novos mercados adicionais abrirão para a carne bovina mexicana. Com a crescente lista de clientes de exportação, o Rabobank uma tendência positiva para o volume mexicano em 2012.
As importações, por outro lado, caíram 11,7% em 2011 e declinaram 9,9% nos dois primeiros meses desse ano.
Para o segundo trimestre de 2012, é esperado que a produção continuará caindo com relação a 2011 como consequência da seca que afetou os estados do norte. As exportações deverão continuar sendo fortes, à medida que os gados para engorda do México apresentam vantagens competitivas e comparativas aos Estados Unidos. Essa previsão prepara o cenário para preços fortes para carne bovina e para o gado.
Em nível de consumidor, o consumo per capita de carne bovina desacelerará novamente nesse ano em reação aos maiores preços. Se isso estiver correto, esse será o quarto ano consecutivo que o consumo per capita declinou.
Para o segundo trimestre de 2012 e o resto do ano, os preços da carne bovina devem crescer a uma taxa mais lenta do que os preços do gado, à medida que espera-se que o consumo de carne bovina se enfraquecerá.
Dadas as atuais condições, o Rabobank antecipou um aumento nos preços do gado para engorda de cerca de 12%, à medida que as ofertas de bezerros deverão continuar declinando nos próximos dois anos.
Uruguai
A oferta de carne bovina no Uruguai permaneceu baixa durante o primeiro trimestre de 2012 devido à retenção de bovinos que foi desencadeada pelos atuais altos preços dos bezerros, bem como pela chegada de novilhos comprometidos pela “geração seca” no mercado (2008-09).
Até agora nesse ano, o número de animais abatidos totalizou 414 mil cabeças, 5% a menos que no mesmo período do ano anterior. A queda foi mais pronunciada para vacas, caindo 8% (18.000 cabeças), enquanto o declínio de novilhos foi de 1,6% (3.000 cabeças).
Embora a produção esteja em níveis mais baixos que no ano anterior, as exportações estão tendo bom desempenho. Um declínio nas vendas à Rússia e à UE foi compensado por um aumento nas exportações a Israel e Chile. As exportações de carne bovina até agora nesse ano alcançaram 56,7 mil toneladas, 1% a mais que no ano anterior. Os preços denominados em dólares dos Estados Unidos caíram 4% em comparação com o quarto trimestre de 2011, mas ainda estão 5% acima que no primeiro trimestre de 2011.
Para o segundo trimestre, a produção uruguaia seja limitada, à medida que os produtores continuarão retendo novilhas e a oferta de novilhos continua pequena.
Japão
O consumo de carne bovina do Japão aumentou 2% com relação ao ano anterior em janeiro de 2012, para 69.000 toneladas (equivalente sem osso). O maior consumo é resultado de uma promoção pelos varejistas visando liberar os estoques que se acumularam. De acordo com a Corporação de Indústrias Pecuárias e de Agricultura do Japão, o principal fator que contribuiu para esse aumento na demanda foi o consumo de carne bovina produzida domesticamente (aumento de 9% com relação ao ano anterior), enquanto o consumo de carne bovina importada caiu 2% com relação ao ano anterior, o que contribuiu para um aumento de 8% no estoque de carne bovina importada em janeiro.
Entretanto, as importações de carne bovina deverão resistir, à medida que os consumidores buscam produtos com menor preço. As quantidades de carne bovina importada deverão reduzir a diferença nos preços entre a carne importada e a carne doméstica japonesa, à medida que as importações com menor preço forçam os fornecedores domésticos a reduzir seus preços. As importações totais de carne bovina do Japão aumentaram 4% em 2011, alcançando 517.000 toneladas.
A mudança na lei japonesa, que permitirá a importação de carne bovina dos Estados Unidos oriunda de animais de mais de 30 meses de idade, não deverá ocorrer no segundo trimestre de 2012, mas deverá ocorrer até o final do quarto trimestre. O processo de decisão de cinco subcomitês técnicos especialistas separados para considerar vários aspectos de segurança referentes à EEB em carne de animais mais velhos dos Estados Unidos provavelmente demorará mais do que o esperado. O relaxamento por parte do Japão das restrições de idade para a carne bovina canadense não está na agenda ainda.
Coreia do Sul
Os estoques domésticos de gado permanecerão altos, com 3 milhões de cabeças em dezembro de 2011. Consequentemente, os animais coreanos abatidos em janeiro e fevereiro de 2012 aumentaram 50% com relação ao ano anterior. O preço varejista caiu para US$ 18,4 por quilo em março, 12% a menos que em janeiro.
Atualmente, os consumidores continuam muito sensíveis aos preços, o que sugere que as importações com preços competitivos encontrarão espaço no mercado. Nesse sentido, o Rabobank previu uma atividade comercial resistente durante 2012, moderadamente desafiada pelo esvaziamento do rebanho doméstico.
O acordo de livre comércio com os Estados Unidos se tornou efetivo em 15 de março, reduzindo a tarifa de importação da Coreia para a carne bovina dos Estados Unidos de 40% para 37,33%. Como mencionado no relatório trimestral anterior do Rabobank, o governo coreano reduzirá gradualmente a tarifa de 40% aplicada à carne bovina dos Estados Unidos para zero dentro de 15 anos. Isso preparará o terreno para um crescimento nas exportações dos Estados Unidos à Coreia. Também existem potenciais benefícios coreanos por causa do enfraquecimento do dólar norte-americano em comparação com à volátil moeda australiana.
A Coreia liberou as importações de carne bovina canadense de animais com menos de 30 meses de idade, aumentando as opções de fornecimento para o país. Ainda assim, o volume provavelmente representará uma pequena participação no mercado.
Fonte: Rabobank Beef Quarterly – Abril de 2012.

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