segunda-feira, 25 de junho de 2012

Enxuga ou não enxuga?

Olha, Olha, vocês precisam ver o tanto de água que tá caindo aqui no interior de São Paulo nesses últimos dias. E ainda não parou! Já liguei lá na fazenda e sei que no Mato Grosso do Sul também está chovendo bem, com aquelas nuvens carregadas, chuva que dura o dia todo e que faz o trabalho não render tanto. Pra quem não sabe, temos propriedades no MS, perto de Cassilândia e Paranaíba. Região bacana, terra boa, gente simpática.
Tenho reparado muito no volume de chuvas ultimamente, mais do que meu costume. O clima é a alma do que acontece com a pecuária no curto e médio prazo. Temos outros fatores importantes, mas boi é capim e o capim cresce com chuva e sol.
O motivo é que neste ano as coisas estão bagunçadas. Seca na época das águas e uma tromba quando deveria estar seco. Acho que o estagiário de São Pedro pegou o leme e andou fazendo arte.
Quando eu era pequena e chovia assim, eu costumava passar os dias trancada em casa, sem muito o que fazer porque o que eu gostava mesmo é de brincar lá fora, ir pra fazenda, jogar com os amigos da minha rua. E aí começava a reclamar: “Mãe, que chato! Não dá pra brincar lá fora”. E ela, calma, respondia: “Amo chuva, deixa chover! Essa chuva é uma benção”. É claro que ela me ensinava uma lição se referindo à nossa produção.
Pra quem viveu a entressafra do ano passado e também a de 2010, realmente essa chuva tem sido uma benção nas regiões em que não chegou com geada. De toda forma, é chuva fora de época, fora da normalidade e, consequentemente, bem acima da média histórica.
No ano passado, lembro que viajamos com o pessoal da XP Investimentos pelo interior paulista e nessa mesma época já estava tudo amarelado, seco, só poeira. Lembro claramente pois queria mostrar pra eles a região verdinha, bonita, farta de capim, mas não deu.
Mas pra não ter falatório, vamos à prova real e concreta do que estou dizendo. Observe o Gráfico 1. Vamos observar o gráfico com calma.
Vejam, junho não é um mês tipicamente chuvoso. Quem tem íntima relação com a atividade pecuária sabe disso porque sente na pele, mas 2011 e 2010 foram períodos com precipitação abaixo da média, especialmente 2010. Hoje, estamos numa situação mais confortável, acima da média de 40mm, mas muito mais do que isso: estamos 4 vezes acima da média! Até ontem, já choveu 160mm.
Bom, isso ajuda a manter a oferta de animais constante, principalmente porque tem chovido bem desde maio. Isso quer dizer que aquele impacto de chuva após uma seca brava, que é negativo, já passou e agora a chuva é boa, desde que não traga junto geadas. A situação dos preços não tem sido nada agradável para o pecuarista nos últimos meses. Tirando a leve recuperação em março/abril, os preços estão largados.
Boa oferta de animais, abates em alta que geram uma boa oferta de carne no atacado, o consumo que tem dificuldades em esticar, mas absorve bem na hora da necessidade, e as exportações que deram uma boa melhorada na margem dos frigoríficos que exportam.
Essa aproximação do preço da carcaça dos valores pagos pela arroba também melhorou a margem da indústria. Isso significa que eles estão abatendo com capacidade ociosa menor e buscam diluir custos fixos ao máximo.
E a partir desta lógica, temos duas coisas a pensar: a primeira é que possivelmente isso vai atrapalhar a aparição daquela janela que se abre e marca a passagem da safra para a entressafra, quando já não temos pasto e, consequentemente, boi gordo, e ainda não apareceu boi de cocho em quantidade. Se isso se confirmar, os preços continuarão nessa lenga- lenga até a entrada pesada do confinamento.
O segundo fator a considerarmos é que com as chuvas, a gente espera mais um pouco pra colocar o boi no cocho, afinal, o ganho de peso dele não é tão eficiente com a lama que se forma. Então o pecuarista espera enxugar um pouco e isso pode criar uma janela para mais adiante.
Sem falar que em anos muito pessimistas, a gente acaba se surpreendendo.
Bom, pra não falar que o mercado esteve ruim e que estamos à mercê dos ventos, convido-os a reler o texto do dia 5 de abril. Pra quem não tem ele em mãos, e só pedir que eu mando por e-mail.
Bem, na próxima semana estarei presente em Bataguassú – MS para participar do Circuito de Cursos Práticos de Gestão Pecuária, uma iniciativa da Universidade do Boi e da Carne, através da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil. Espero encontrar alguns de vocês por lá.
Abraços a todos!
FONTE: Autor LYGIA PIMENTEL

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