domingo, 12 de agosto de 2012

Entraves do campo aos portos


Por conta de controlar a aftosa com vacinação, o Brasil perde negócios<br /><b>Crédito: </b> paulo elmano borges / divulgação / cp
Por conta de controlar a aftosa com vacinação, o Brasil perde negócios
Crédito: paulo elmano borges / divulgação / cp
Se em vários setores o Brasil conseguiu ganhar mercados exigentes, como os dos Estados Unidos, da Ásia e da Europa, com produtos nacionais, ainda existem áreas nas quais engatinha. Na avaliação do diretor administrativo do BRDE, José Hermeto Hoffmann, o setor de carne bovina é um dos mais atrasados na adoção de normas sanitárias para controlar o rebanho e exportar. "Esse mercado não está na mão da indústria, como os de suínos e das aves. Quem detém o poder de produção é o pecuarista e cada um tem o seu manejo."

Uma das principais exigências dos países importadores é a rastreabilidade, ainda uma pedra no sapato do produtor, devido ao alto custo. Dentro do programa do governo gaúcho, a Secretaria da Agricultura quer tornar a prática obrigatória, justamente para fomentar as exportações. "Quem tem interesse em acessar o mercado externo precisa formar grupos, barganhar melhores preços desse serviço e compartilhar experiências."

Já o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, acredita que houve muitos avanços na bovinocultura de corte e defende a rastreabilidade como auxílio para que o setor controle seus processos. "O mercado internacional está cada vez mais exigente. A União Europeia é a única que exige rastreabilidade individual. Temos um desnível no setor ainda. A indústria se adapta antes que o produtor, que acha o processo caro e burocrático. Por isso, ainda perdemos negócios", avalia.

Outro entrave para a carne bovina in natura é o da aftosa. Clientes como os Estados Unidos e Japão, por exemplo, que pagam os melhores valores por produto de qualidade, nos cortes de traseiro, não compram de países que controlam a aftosa com vacinação do rebanho. Por conta disso, o Brasil permanece sem acesso ao mercado mais seleto.

O superintendente do Ministério da Agricultura no Estado, Francisco Signor, acredita que a exigência relativa à aftosa é um jogo de mercado. "Os russos tiveram aqui e nem falaram na doença. Para frear a entrada de carne, eles inventam essas regras. Sendo livre de aftosa é a conta. Mas, faz parte do jogo." O coordenador-geral de negociações bilaterais e regionais do Mapa, Jean Carlo Manfredini, admite que algumas exigências externas fogem do controle sanitário para entrar na questão comercial. "O Brasil não está disposto a se adaptar a regras que não tenham um embasamento científico", completa.

Outro exemplo citado é o dos alimentos transgênicos, vetados, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange), por todos os países da União Europeia e alguns da Ásia. Hoffmann pondera que produzir transgênicos é mais fácil. Ainda assim, em muitos casos, valeria a pena investir na oferta de grãos convencionais e ter um retorno maior no mercado externo. Segundo a Abrange, na safra passada os sojicultores brasileiros que produziram o grão convencional receberam até R$ 3,00 por saca. A rejeição não deverá se repetir com os transgênicos de segunda geração. "Serão plantas mais resistentes à seca, mais nutritivas."

Há também a dificuldade de inserção do leite e derivados no mercado internacional. O produto ainda apresenta problemas de qualidade. Hoffmann traz à tona a polêmica da instrução normativa 51, do Mapa. O governo federal estendeu para 2016 as decisões de padronização da produção de leite, que devem formar a normativa. "Esse documento deve definitivamente excluir os pequenos do mercado. Um agricultor familiar dificilmente terá condições de ter um resfriador em sua propriedade."

Exigências que o Brasil cumpre lá fora

Grãos:

- A maioria das exigências está ligada aos transgênicos. Alguns importadores restringem os produtos com traços de transgenia. Também há rígido controle de uso de resíduos e contaminantes. n Carnes:

- Nas aves, a União Europeia, por exemplo, não aceita animais alimentados com ração que contenha proteína do mesmo animal;

- Há a exigência de abates com temperatura controlada, assim como de bem-estar animal.

- Nos suínos, a ractopamina, por exemplo, que auxilia no ganho de peso, é vetada pelos russos;

- O Velho Continente também exige exames de carcaça contra trichinela e cobra rastreabilidade. - Nas frutas, também é corrente o controle de pragas e de resíduos. O carbendazin no suco de laranja foi o último alvo dos Estados Unidos.
fonte: CORREIO DO POVO

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