sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Criadores de zebu protestam contra líder classista do Rio Grande do Sul

Márcia Benevenuto


Notícia
Destaque do rebanho zebu em Alegrete incomoda vp da Farsul
A carta aberta expressa o posicionamento da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) em apoio à ACGZ (Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu), na questão do manifesto público desenvolvido durante o desfile dos grandes campeões da Exposição de Alegrete, no último dia 21 de outubro. 
A reação aconteceu durante o pronunciamento de Gedeão Silveira Pereira, vice-presidente da Farsul, que no ato solene representava oficialmente a maior entidade representativa do setor agropecuário no Rio Grande do Sul. As declarações de Pereira tiveram tom de ataque aos selecionadores de raças zebuínas, emitiram opinião inadequada e sem fundamentação técnica sobre o trabalho desenvolvido em prol da genética do maior rebanho brasileiro, causando grande desconforto entre todos os presentes. 
A retirada imediata dos animais zebuínos de pista foi um sinal de repúdio à atitude do representante classista. 
Na sequencia a íntegra da carta enviada para Farsul, imprensa, comunidade agropecuarista e autoridades. 


CARTA ABERTA

A Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu vem por meio desta, esclarecer os motivos que ocasionaram a ação de manifesto durante a solenidade de inauguração oficial e desfile dos grandes campeões, realizada neste domingo, 21 de outubro durante a 70ª edição da Exposição Agropecuária de Alegrete no Parque de Exposições Dr. Lauro Dornelles. O momento em que a supremacia da genética gaúcha estava em total evidencia, vivenciamos os infelizes instantes de pronunciamento do Sr. Gedeão Silveira Pereira, (Médico veterinário, formado pela Universidade Federal de Santa Maria, é ex-Diretor da Associação Brasileira de Criadores de Hereford e Braford e ex-Presidente do Sindicato/Associação Rural de Bagé por dois mandatos. Atualmente, é Vice-Presidente da FARSUL) em representação da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul – FARSUL, que de forma equivocada, desrespeitosa, pessoal e sem embasamento técnico e científico, relatou várias afirmações em forma de ataque ao rebanho zebuíno, representado nacionalmente por animais puros e cruzados em mais de 80% do rebanho nacional através de oito raças registradas pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, selecionadas para a produção de carne e leite. 

Paralelamente à 70ª Expofeira de Alegrete, foi promovida por esta associação, a 3ª Exposição Gaúcha de Zebu, sendo no domingo, 21 de outubro, ocorrido o desfile dos grandes campeões de todas as raças, incluindo, quinze exemplares zebuínos participantes da solenidade, entre eles, dois casais de grandes campeões da última Expointer, o que demonstra que o nível zootécnico dos animais apresentados, foi de grande expressão para mostrar a evolução genética do zebu gaúcho e como este pode contribuir com sua genética em nossas atividades. Após o desfile, publicamente em alto e bom som, o referido representante da Farsul, não poupou esforços em defender e idolatrar as raças britânicas (Sendo o mesmo, criador de uma raça britânica) e também as raças sintéticas (em que o zebu faz parte da formação) em detrimento das zebuínas, afirmando ainda, com todo o seu limitante conhecimento nestes aspectos e com o seu autoconvencimento de possuidor da verdade absoluta, que o Rio Grande do Sul não era o espaço para a genética das raças zebuínas, fazendo questão de alertar a classe produtora presente entre o público da solenidade, a não necessidade deste grupo bovino para impulsionar a produtividade de nossos rebanhos, embora defenda a criação de raças sintéticas para tal. Cabe ressaltar, todo nosso respeito e consideração em relação às raças por ele destacadas, pois temos total consciência de que há espaço para todas elas por suas virtudes, principalmente em um estado reconhecido por sua qualificada pecuária e de tantas adversidades bioclimáticas. 

Não compreendendo tais colocações, efetuamos antes do término do ato solene, a retirada imediata dos exemplares grandes campeões zebuínos que estavam em pista, representados pelas raças Brahman, Tabapuã, Guzerá e Gir Leiteiro, levados ao parque por selecionadores gaúchos consagrados, oriundos de pelo menos cinco municípios diferentes. Entendemos que em um estado de grande tradição pecuária e considerado um dos mais expressivos berços genéticos do Brasil, seja inadmissível tal comportamento de puro desrespeito e desconsideração com qualquer trabalho de melhoramento genético realizado por nossos eficientes pecuaristas gaúchos, zebuzeiros associados a esta entidade ou não, produtores de genética da mais alta qualidade, mesmo zebuína. 

Um fato que nos espanta é o preconceito e a falta de conhecimento do ilustre representante em seu pronunciamento com informações errôneas sobre o zebu e suas características. A ABCZ contempla em torno de duzentos selecionadores de zebuínos puros no Rio Grande do Sul, criados há muitos anos no estado. Existem plantéis puros em praticamente por todo o território gaúcho, inclusive em algumas das regiões mais frias como a Serra e a Fronteira-Oeste, onde os animais são selecionados a campo e ultrapassam invernos rigorosos com temperaturas abaixo de 0º sem deixar de expressar seu potencial produtivo, reconhecido nacionalmente. No verão, também rigoroso e em muitas vezes seco, os rebanhos zebuínos ou formados a partir de cruzamentos com zebu são os que apresentam os mais expressivos índices de prenhês nas estações de monta, devida a sua grande eficiência reprodutiva mesmo em situações adversas por sua excelente tolerância ao calor, rusticidade e resistência característica do zebu. 

No estado, as raças zebuínas encontraram uma grande oportunidade de expressar suas qualidades através dos cruzamentos, sendo preferidas por muitos produtores para esta finalidade. Touros zebuínos foram e são amplamente utilizados em matrizes oriundas de genética de raças europeias, resultando em animais extremamente superiores em termos produtivos em virtude dos benefícios da heterose. 

A superioridade no desempenho dos animais cruza Zebu com raças taurinas, sejam continentais, asiáticas, crioulas ou britânicas, em relação ao desempenho dos mesmos puros é indiscutível e comprovada pela literatura cientifica. Estudos realizados aqui no estado em diversas instituições como a Universidade Federal de Santa Maria, Embrapa Pecuária Sul de Bagé e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul demonstraram isso. Animais meio sangue Zebu cruzado com taurinos produzem, mais a pasto que taurinos puros devido a heterose. Obtendo-se um desempenho por volta de 12% superior no ganho médio diário, o que podemos chamar de bônus Zebu, pois é superior ao valor de bônus de qualquer programa de carne vigente no estado e sem nenhum custo adicional ao produtor.

Além disso, temos as já conhecias características dos zebuínos como rusticidade, resistência a endo e ectoparasitas, habilidade materna, diminuição de problemas ao parto e maior longevidade, que acarretam em uma diminuição dos custos de produção e otimização dos lucros. 

O Rio Grande do Sul é conhecido por produzir carne de qualidade e o zebuíno entra para agregar nesse processo com o quesito saúde, muito bem abordado pelo médico cardiologia Dr. Wilson Rondó no Fórum Zebu de Ponta a Ponta na Expointer, bem como no livro Sinal Verde Para a Carne Vermelha. A melhor carne do mundo além de mais saborosa também deve ser a mais saudável, só assim teremos um produto diferente de qualquer outro no mundo e não mais do mesmo. Uma carne saborosa, saudável e que é uma aliada à preservação do meio ambiente produzida a pasto. Este é o nosso diferencial. O referido representante, inclusive, não hesitou em criticar a carne brasileira (conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne – ABIEC, exportada para mais de 130 países, que certamente possuem características de consumo e de demanda diferentes) por ser oriundas de carcaças de animais predominantemente Bos Taurus Indicus (zebu) nas regiões mais centrais do país, oportunizando o entendimento através de suas meias palavras, a culpa desta sub espécie do gênero Bos Taurus, pela remuneração comum e de qualidade aquém daquele conceito em que ele defende como qualidade, como se um produto saudável não tivesse esta virtude, considerada como uma qualidade, ainda pouco valorizada pelas poucas campanhas publicitárias incentivadoras e defensoras do consumo de carne vermelha. Várias pesquisas concluíram que o produto o qual nos referimos contém concentrações elevadas de betacaroteno e a-tocoferol, níveis maiores de ácidos graxos ômega 3, proporção maior e mais desejável de Omega-3:Omega-6, e níveis altos de ácido linoléico conjugado, todas estas substâncias sabidamente de efeitos favoráveis à saúde humana e que deverão ajudar a nortear o consumo deste produto em um futuro muito breve. 

Atualmente o zebu gaúcho começa um novo período de impulso, exemplificado pelo número de selecionadores de animais puros que é cada vez mais crescente. O rebanho registrado também está sendo ampliado e os criadores estão investindo em evolução zootécnica dos seus plantéis através da participação mais efetiva em programas de melhoramento genético (como o PMGZ da ABCZ). Também é notório o crescimento nos investimentos em genética de ponta bem como em biotecnologias de reprodução (IA, TE e FIV). Na ExpoZebu em Uberaba/MG, os gaúchos estão indo anualmente buscar matrizes e touros superiores para multiplicação de genética superior e consequentemente, possibilitar o aprimoramento de seus plantéis, com o objetivo de oferecer ao mercado gaúcho, exemplares cada vez mais selecionados e de genética de alta qualidade. Outro dado que merece destaque é o volume de doses de sêmen de raças zebuínas vendidas no estado em 2011, segundo o relatório da ASBIA, que revelou a comercialização de quase 105 mil doses. 

Tal situação ocorrida na Exposição de Alegrete nos coloca em dúvida se o ponto de vista expressado pelo então representante, é oriundo ou não de sua opinião pessoal (em que o momento não lhe dava esta oportunidade) ou se este é o posicionamento real da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul – Farsul, que naquela ocasião se tornou pública. Caso seja esta a visão da entidade, nos vemos erradamente pertencentes ao quadro das associações de raça de uma federação que publicamente se expressa e se comporta contra aos seus membros e seus princípios, através de seu vice-presidente. Estaria a Farsul contra aos produtores de genética zebu? Estaria a Farsul de portas fechadas ao uso de genética zebuína para o Rio Grande obter maior rendimento de carne por carcaça abatida através dos animais cruzados, bem como para a obtenção de um produto com características diferenciadas em relação aos demais estados e países vizinhos?

São questões que ficaram no pensamento da diretoria da ACGZ e os expositores de zebu presentes na solenidade. Indagações estas que nos deixam com extrema expectativa, por parte da referida federação, de breve esclarecimento e reparação imediata ao gigantesco prejuízo da divulgação e propagação de conceitos errôneos e prejudiciais ao fomento das raças zebuínas no Rio Grande do Sul. 

Desta forma, manifestamos nosso total repúdio e insatisfação com tal postura. Subentende-se que um órgão governamental não deve em forma alguma buscar direcionar opiniões e conceitos de interesses específicos de certas pessoas e é por isso, que exigimos reparação imediata. 

Porto Alegre(RS), 24 de outubro de 2012


Eduardo Biagi José Adalmir Ribeiro do Amaral
Presidente da ABCZ Presidente da ACGZ 

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