sexta-feira, 12 de abril de 2013

Preço da terra sobe 240% em média no Estado em 10 anos


Índice chega a 1.531% na Serra e a 600% na Fronteira Oeste e na Metade Sul

Com grãos valorizados e dinheiro no mercado, o preço médio das terras disparou no Estado, atingindo cotações recordes. Em 10 anos, o hectare agrícola no Estado aumentou 240%, em média, conforme pesquisa da Informe Economics/FNP. No mesmo período, a inflação acumulada foi de 76,61%. Em regiões onde a soja avançou, na Metade Sul e na Fronteira Oeste, a valorização chegou a 600%.
Entusiasmados pelos resultados das últimas safras, produtores de médio e grande porte voltaram a investir, expandindo as áreas de produção e inflacionando o mercado de terras. Conforme o levantamento, realizado em 113 regiões brasileiras, as áreas mais caras no Estado estão concentradas no Norte, principal região produtora, onde um hectare pode passar de R$ 40 mil. Sem espaço para expandir as lavouras em áreas com valores exorbitantes e entusiasmados com a safra, produtores e empresários migraram os investimentos para regiões até então pouco exploradas para plantio de soja.
– Com preços no teto no Norte, houve uma corrida em busca de terras nas regiões da Campanha, Metade Sul e Fronteira. Esse movimento acabou inflacionando o mercado – explica Nilo de Souza Ourique, proprietário da Nilo Imóveis, imobiliária rural com sede em Santa Maria e atuação em todo o Estado.
Com características diferentes, as áreas rurais são avaliadas conforme o potencial. Nos bolsões produtores de soja, o preço do hectare é calculado de acordo com a cotação da saca.
– O grão dá valor à terra – explica Ourique.
Empresário e produtor rural em Tapejara, no norte do Estado, Norberto Dal'Olivo buscou uma nova região para aumentar a produção. Há dois meses, comprou uma área de 600 hectares, em São Borja, na Fronteira Oeste.
– Aqui (região Norte) o preço está muito alto, sem contar que há pouca oferta para venda – aponta o produtor.
A migração do Norte para Campanha e Fronteira é justificada pela diferença de preço. Enquanto na região de Passo Fundo Dal'Olivo teria de desembolsar mais de R$ 30 mil por hectare, em São Borja o valor do hectare pago ficou em torno de R$ 10 mil. No entanto, essa diferença tende a diminuir.
– O valor da terra nessas regiões (Central e Fronteira) deve continuar crescendo numa velocidade maior do que nas demais, em razão da procura – aponta Antônio da Luz, economista da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
A variação do preço da terra não chega a ser uma surpresa, pois segue uma tendência mundial de aumento da produção de alimentos e de matérias-primas.
– O elemento terra será cada vez mais valorizado. Com o esgotamento de recursos naturais, as áreas que tiveram potencial serão exploradas, mais cedo ou mais tarde – avalia o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.
Expansão das vinícolas elevou preços na Serra
Caracterizada por terrenos irregulares e de alta produtividade para viticultura, as terras da região de Caxias do Sul tiveram a maior alta de preço da década no Estado. A valorização no período – de 1.531%, seis vezes maior do que a variação do Estado – foi puxada especialmente pela expansão de vinícolas em municípios como Bento Gonçalves e Garibaldi.
Produtor de uva em Flores da Cunha, Celso Bernardi, 56 anos, nunca imaginou que desembolsaria R$ 120 mil para comprar três hectares de terra no distrito de Otávio Rocha, interior do município, onde nasceu, aprendeu a trabalhar, casou e criou três filhos.
– Paguei esse valor para não perder o negócio, se não outra pessoa compraria para fazer um sítio – conta.
Na nova área, Bernardi irá plantar alho, cebola e milho. O retorno do investimento, com o quilo do alho a R$ 7,06, virá após duas safras cheias de trabalho compartilhado com o filho Leonir, de 23 anos.
Enquanto houver demanda, ou seja, compradores dispostos a pagar caro, a tendência é de que o preço da terra se mantenha em curva ascendente. No entanto, o mercado exige cautela, orienta André Guidotti, chefe da Divisão de Obtenção de Terras do Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra-RS).
– É preciso calcular em quanto tempo a rentabilidade da produção irá pagar o investimento. O endividamento no campo é um fator de preocupação – alerta Guidotti, acrescentando que terras mais valorizadas forçam os produtores a terem um produtividade maior.
Mapitoba, nova fronteira agrícola do país
Depois de consolidar a migração ao Centro-Oeste, os gaúchos ajudam a fortalecer um movimento em direção à chamada última fronteira agrícola do país: a região formada pelo Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, Mapitoba.
– Essas regiões têm um potencial fabuloso. São locais com pouca infraestrutura ainda, mas os grandes investidores têm recursos para aplicar – diz o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.
Grandes grupos e produtores são atraídos pelo baixo preço da terra, e pela posição geográfica privilegiada.
– Nessas novas áreas de fronteira agrícola os investidores ganham com a valorização da terra a cada ano e com a atividade em si, fomentada pela elevação do preço das commodities agrícolas – destaca o consultor Breno Carvalho Pereira, da Correnteza Gestão e Investimentos Rurais.
Emeri Eugênio Tonial, 62 anos, pagou caro pelos 144 hectares adquiridos no ano passado em Passo Fundo, no norte do Estado – 750 sacas por hectare. Não se arrepende. A soja domina a paisagem na área de localização privilegiada, próxima à BR-285 e dos pontos para armazenagem. O produtor também investiu em outras três áreas, uma delas no Piauí, adquirida em 2001.
Confira vídeo com depoimento do produtor Emeri Tonial

Peso de ouro
Nos últimos 10 anos, a alta no preço do hectare no Estado ficou acima do percentual nacional (valores em R$ por hectare):
No Brasil2003
Norte: 642
Nordeste: 930
Centro-Oeste: 1.897
Sul: 4.779
Sudeste: 3.723
Brasil: 2.280

2012
Norte: 2.228
Nordeste: 3.298
Centro-Oeste: 6,363
Sul: 15.020
Sudeste: 12.345
Brasil: 7.470
Valorização
Norte: 247%
Nordeste: 254%
Centro-Oeste: 235%
Sul: 214%
Sudeste: 231%
Brasil: 227%
Em solo gaúcho2003
Região, com tipo de terra
Serra, pastagem alto suporte (Vacaria/Lagoa Vermelha): 4.000
Norte, pastagem nativa (Santa Rosa/Três Passos): 5.558
Serra, terra para viticultura (Bento Gonçalves/Garibaldi): 1.900
Norte, terra agrícola de grãos (Santo Ângelo/Cruz Alta): 9.786
Sul, terra agrícola de arroz em várzea (Pelotas, Camaquã): 1.600
Fronteira, terra agrícola de arroz (São Borja/São Gabriel): 1.500
Rio Grande do Sul: 4.023

2012
Região, com tipo de terra
Serra, pastagem alto suporte (Vacaria/Lagoa Vermelha): 6.500
Norte, pastagem nativa (Santa Rosa/Três Passos): 7.000
Serra, terra para viticultura (Bento Gonçalves/Garibaldi): 31.000
Norte, terra agrícola de grãos (Santo Ângelo/Cruz Alta): 22.500
Sul, terra agrícola de arroz em várzea (Pelotas, Camaquã): 11.000
Fronteira, terra agrícola de arroz (São Borja/São Gabriel): 10.500
Rio Grande do Sul: 13.688
Valorização
Região, com tipo de terra
Serra, pastagem alto suporte (Vacaria/Lagoa Vermelha): 62,5%
Norte, pastagem nativa (Santa Rosa/Três Passos): 26%
Serra, terra para viticultura (Bento Gonçalves/Garibaldi): 1.531%
Norte, terra agrícola de grãos (Santo Ângelo/Cruz Alta): 129,9%
Sul, terra agrícola de arroz em várzea (Pelotas, Camaquã): 587,5%
Fronteira, terra agrícola de arroz (São Borja/São Gabriel): 600%
Rio Grande do Sul: 240,2%
Fonte: Informa Economics/FNP
ZERO HORA

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