segunda-feira, 24 de junho de 2013

Preços valorizam com menor oferta de terneiros

Estiagem do ano passado e busca por reposição de matrizes influenciam a pecuária no Rio Grande do Sul
Patrícia Comunello
Menor oferta de animais, associada ao efeito da estiagem de 2012 e aos abates de matrizes nos últimos anos, é apontada como principal fator para a elevação dos preços dos terneiros no mercado de compra e venda no Estado. Na temporada dos chamados leilões de outono, produtores registraram média do quilo de R$ 4,31, alta de 6,2% frente aos remates oficiais do mesmo período do ano passado, segundo o sindicato do setor.

Na praça gaúcha (que reúne negócios oficiais e aqueles diretos nas propriedades), o preço médio do bezerro desmamado ficou em R$ 673,33 em maio, 5,2% acima do valor obtido no mês em 2012, segundo a Scot Consultoria, que monitora o comportamento do mercado no Estado, em Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Especialistas e leiloeiros citam que a redução de terras para pecuária, com a expansão da soja na Metade Sul, não significará necessariamente desestímulo ao mercado. A maior venda de matrizes no leilão também surge como fator que reforça a reposição de rebanho nos próximos anos.

O analista da consultoria, Renato Bittencourt, vislumbra que os produtores deverão buscar maior produtividade por hectare, ainda baixa nos campos do Estado, caso o avanço da soja se mantenha. Pelo acompanhamento da Scot, o mercado gaúcho de terneiros ficou atrás do paulista e sul-mato-grossense, com valorização de 9,8% e 6,6%, respectivamente. Os pecuaristas do Estado obtêm níveis mais elevados no boi gordo, que chegou a R$ 99,46 no mês passado, levemente acima dos R$ 97,98 do ano passado. São Paulo e Mato Grosso do Sul também apresentam recuperação nesse setor.

Bittencourt associa a elevação na cotação de exemplares para terminação à demanda de reposição, mais aquecida e que pode ter influência na expectativa de continuidade, nos próximos anos, das exportações de gado em pé, ramo que cresceu na balança comercial local. O analista lembra, porém, que parte das aquisições foi adiada em maio devido ao atraso na formação de pastagens, adiada pelas geadas. Junho deverá fechar com maior nível de preços. Ele cita que a menor oferta de terneiros está associada ainda ao efeito dos abates de vacas nos últimos anos. “Pecuaristas estão retendo matrizes para elevar a produção de terneiros”, associa Bittencourt.

O presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais e Empresas de Leilão Rural do RS (Sindiler-RS), Jarbas Knorr, reforça que o saldo dos remates confirma a restrição na oferta. Dados das empresas de remates apontam que 34,2 mil terneiros foram negociados nos leilões de outono, quando 54,2 mil animais foram arrematados (incluindo terneiras e vaquilhonas). Em 2012, foram 40,4 mil terneiros, 15,4% mais que as vendas deste ano. Entre 2011 e 2013, a queda foi de 34%.

Knorr afirma que o volume de negócios não surpreende. “É aquela história de oferta menor e demanda maior, o que pressiona os preços.” O presidente do Sindiler-RS afirma que o setor pecuário está sofrendo ainda os efeitos da estiagem, que reduziu a alimentação nos campos e comprometeu a manutenção de plantéis, entre fim de 2011 e março de 2012, e dos abates de fêmeas e venda de matrizes para outros estados produtores. “Os animais foram embora e deixaram de produzir aqui”, constata o dirigente, que se preocupa com a evolução da demanda futura, pois a retenção de matrizes elevará a oferta de terneiros. “Com a ocupação de campos pela soja, cairá a procura pelos animais.”

Leiloeiros projetam impactos para negócios na Primavera

Os leilões oficiais nos últimos três anos registraram uma evolução positiva em outro segmento da pecuária, na demanda por vacas. O Sindiler-RS teve aumento de 67% no número de vaquilhonas comercializadas entre 2011 (4,232) e 2013 (7.076). A dúvida, admite o presidente do sindicato, Jarbas Knorr, é se o aumento reflete uma maior procura para reforçar a capacidade reprodutiva das propriedades gaúchas ou se parte dos negócios é impulsionada pelo fluxo de compradores de outros estados.

Por outro lado, a busca por matrizes e a valorização de terneiros deve beneficiar os leilões de touros a partir de setembro, na primavera, projetam empresários de remates. O termômetro será a Expointer, realizada em agosto. O leiloeiro Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates, aposta no impacto, pois a demanda por cobertura deve ocorrer para colocar as vacas em cria. Silva aposta na elevação entre 5% e 10% das vendas. A Trajano registrou alta de 30% no volume de fêmeas comercializadas na temporada do outono, saldo considerado extraordinário pelo leiloeiro.

“É uma mudança em relação ao que vinha ocorrendo nos últimos anos, mas vai demorar para reverter a oferta, além de custar caro”, previne. Pelo ciclo produtivo, a oferta de terneiros verificará maior expansão a partir de 2016.  Silva identifica ainda uma demanda mais forte de grupos empresariais com sede no Estado por animais, principalmente os lotes com maior qualidade.

A opção pela cultura da soja, que seduz arrendadores ante a possibilidade de ganhos maiores sem os custos da pecuária, pode motivar alguns setores a reduzir o espaço da pecuária na Metade Sul. Mas Silva avalia que o pecuarista que prioriza produtividade nas terras manterá a aposta no incremento e na atratividade do mercado para seu rebanho nos próximos anos.

O veterinário e um dos donos da Rédea Remates, de Santa Vitória do Palmar, Gustavo Arriada Petruzzi, percebe o efeito da entrada do grão em propriedades menores. Petruzzi, que chegou a registrar R$ 5,25 por quilo de terneiro em um dos leilões, citou que a oferta de crédito para aquisição de matrizes também impulsiona os negócios.

FONTE: JORNAL DO COMERCIO

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