quinta-feira, 18 de julho de 2013

O Cocho e suas inter-relações: o maior gargalo para mineralização correta do rebanho

A suplementação mineral evoluiu muito nos últimos anos, com a geração de mais informações pelos órgãos de pesquisa (EMBRAPA, Universidades, Empresas Particulares, etc...) e com a entrada de várias empresas no setor, gerando pesquisas próprias e evoluindo tecnologicamente para uma maior produtividade no campo. Hoje empresas como a Brasão do Pampa estão investindo cada vez mais, com a previsão de construção de uma fábrica totalmente automatizada para fornecer aos seus clientes produtos cada vez melhores, possibilitando maiores ganhos de produtividade e rentabilidade para o pecuarista. Porém, um dos maiores problemas encontrados no campo se referem ao cocho, o prato do boi.


Cochos mal dimensionados para o tamanho do lote que ele serve, localizados em lugares inadequados, sem cobertura, sem manutenção com a formação de atoleiros em volta dos mesmos, dentre tantos outros problemas são apenas alguns dos motivos pelo qual muitas vezes o pecuarista acha que aquela mineralização proposta por determinada empresa não está funcionando para o seu rebanho. Nesses mais de 15 anos que trabalho com suplementação mineral sou capaz de afirmar que 95% dos problemas relatados pelos pecuaristas de consumo muito baixo ou muito alto estão intimamente relacionados ao cocho.


Para começarmos a solucionar alguns problemas recorrentes aos cochos temos que entender melhor o comportamento bovino. Os bovinos são animais de hábitos gregários, ou seja, se agregam em lotes de tamanhos variados, pois este convívio em grupo trás algumas vantagens adaptativas, como por exemplo, na defesa contra predadores, facilidade para se reproduzir, etc... Ao se formarem os lotes há um aumento na competição por recursos e desta forma começam a existir interações agressivas entre animais do mesmo grupo ou rebanho surgindo assim os dominantes e os submissos. A dominância define quem terá prioridade no acesso a comida, água, sombra, etc... atacando os demais impunemente e tendo assim prioridade em qualquer competição. Essa hierarquia normalmente é definida por peso, idade e raça. Esse conhecimento é de suma importância para que se possa melhorar o manejo da suplementação mineral.


Para entendermos melhor, todo dimensionamento de cocho deve levar em consideração o consumo diário esperado de determinado produto, o que para a Linha Tradicional ou Linha Branca está diretamente relacionado ao teor de sal branco (%NaCl) que tem o suplemento. Quanto maior a quantidade de sal branco menor o consumo. O pecuarista deve tomar cuidado, pois se estes níveis forem muito elevados (mais de 50%) o consumo será muito baixo e haverá a possibilidade de não estarem sendo atendidas todas as outras exigências minerais dos animais para uma maior produtividade. Sendo assim, para um sal mineral com consumos esperados na faixa de 70 gramas por animal por dia o cocho deve disponibilizar o espaço mínimo de 4 cm por animal, ou seja, um cocho padrão com 2 metros de comprimento, onde os animais tem acesso pelos dois lados, deverá suplementar um lote de 100 animais.


Para os proteinados esta relação muda e apenas o teor de sal branco já não pode nos indicar os níveis de consumo, visto que a maioria dos proteinados possui farelos na sua formulação tornando-os mais palatáveis e consequentemente os animais dominantes permanecerão mais tempo no cocho não deixando os submissos se mineralizar. Para produtos com consumo esperado de 200-400 gramas por dia o dimensionamento do cocho deverá ser o dobro do sal mineral da linha tradicional, ou seja, 8 cm por animal, sendo que desta forma o mesmo cocho de 2 metros do exemplo anterior só servirá para 50 animais. Em nível de campo, poucos são os pecuaristas que aumentam o número de cochos quando estão usando proteinados e muitas vezes esse é um dos maiores problemas relacionados a menores índices alcançados do que aqueles preconizados pelas empresas que produzem sal mineral e são fontes constante de insatisfação dos pecuaristas. A maioria das empresas antes de lançar um produto já os testou em várias propriedades e já possui dados de campo suficientes que possibilitem um maior retorno para o pecuarista.


Para proteinados de alto consumo e suplementos proteico energéticos, com consumos estimados na faixa de 500-1000 gramas por animal por dia, há necessidade de uma quantidade ainda maior de cochos. Seguindo o mesmo raciocínio, para uma mineralização correta usando estes produtos, que normalmente possibilitam um ganho de peso maior, o mesmo cocho de 2 metros só servirá a 25 animais. Quando não há um dimensionamento correto para estes produtos observa-se um lote contemporâneo muito heterogêneo, pois os dominantes não deixam o restante do lote chegar ao cocho antes de estarem saciados.


Outro fator também de suma importância para o sucesso da suplementação mineral em nível de campo se refere a localização correta do cocho. A literatura a respeito deste assunto é divergente e sempre tentou dar um norte ao produtor quanto a melhor localização do cocho no potreiro. Alguns trabalhos dizem que o cocho de sal deverá ficar perto da água, o que garantiria maior consumo do sal e melhor mineralização do rebanho. Outros trabalhos dizem que o cocho poderia ser uma boa ferramenta de manejo do campo nativo ficando do lado oposto à aguada e forçando assim que o animal aproveite todo potencial forrageiro do potreiro. Mas afinal, qual a melhor localização do cocho? De maneira geral o mais interessante é que o próprio gado escolha a localização correta do cocho, ou seja, que este esteja localizado onde o gado deita para ruminar, onde todo o lote passa bastante tempo neste local, possibilitando que não só os dominantes consigam lamber o sal, mas também os submissos. Desta forma, a tendência é que se tenham lotes mais parelhos e todo rebanho seja mineralizado. Além do mais, a própria manutenção do cocho será melhor, visto que os bovinos procuram deitar para ruminar em locais mais secos evitando assim a formação de atoleiros. Não importa se estes locais são próximos ou longe das aguadas. O cocho não pode estar apenas num local de passagem do gado ou de fácil acesso para o abastecimento do pecuarista (próximo à estrada), pois animais de hábito gregário permanecerão sempre juntos e se estiver em local de passagem os dominantes lamberão o sal e seguirão adiante e os submissos seguirão os dominantes e lideres e não lamberão sal, podendo ter o seu desempenho comprometido.


Outro gargalo não menos importante, está no manejo da suplementação como um todo, envolvendo principalmente a mão de obra da propriedade. De nada adianta a Brasão do Pampa produzir o melhor sal mineral para o pampa gaúcho, o pecuarista comprar os melhores cochos da região e instalá-los no paradouro do gado se ele ou o seu funcionário não colocar regularmente o produto no cocho deixando-o sempre à disposição dos animais. É muito comum estarmos fazendo visitas técnicas a campo, pararmos para ver os cochos antes de chegar ao pecuarista e vermos os cochos completamente vazios.


Para finalizar, outro aspecto muito importante diz respeito ao melhor horário para o abastecimento do cocho, principalmente quando se usam produtos de maior consumo como os proteinados e energéticos. O melhor horário é sempre depois que o gado deita no paradouro para ruminar, já tendo aproveitado bem para pastejar o campo nativo ou pastagem. Muitos me questionam isso no campo, mas a explicação é que o gado tem o hábito de pastar mais nos horários mais frescos do dia, tanto pela manhã como à tardinha. Outro aspecto é que o bovino é um animal curioso e se habitua a ir para beira do cocho quando este está sendo abastecido. Desta forma, se esse abastecimento ocorrer muito cedo poderá haver um efeito substitutivo com a perda desse pastejo matinal e com isso uma diminuição do desempenho e maior consumo do produto. Mesmo que se mantenha o cocho sempre cheio, essa curiosidade do animal poderá fazer com que ele deixe de pastar e vá mais cedo para beira do cocho na hora do reabastecimento do mesmo, seja pelo barulho do trator, camionete, etc..., seja pelo cheiro do pó que levanta quando o cocho está sendo cheio. Recentemente, saindo para viajar às 7 da manhã, observei na beira da BR 290 um lote inteiro de bois correndo em direção ao cocho que estava sendo abastecido. Andando de carro via animais a quilômetros do cocho parando de pastar e correndo em direção ao cocho. Esse pastejo de 7 às 11 da manhã ficou comprometido. Seria como se colocássemos na mesa do almoço o pudim, o mousse, a sobremesa antes do arroz e feijão.


A fim de deixar um parâmetro para os pecuaristas que mineralizam os seus rebanhos, para os que só dão sal branco (NaCl) e até para os que nunca deram sal e estão pensando em começar, segue informação para saberem se estão dando a quantidade correta pros seus animais.Vale a seguinte regra: média de 10 Kg de sal branco por animal adulto por ano;1 saco (25 Kg) de sal mineral da Linha Tradicional ou Linha Branca por animal adulto por ano;  2,5 sacos de sal mineral proteinado de baixo consumo por animal adulto por ano (6 meses de Linha Tradicional e 6 meses de proteinado) e 5 sacos de sal mineral para aqueles que usam proteinados no outono e inverno e energéticos na primavera e verão.


Por exemplo, se um pecuarista tem 500 animais e só dá produtos da Linha Tradicional, para que o seu rebanho esteja bem mineralizado ele tem que estar investindo em torno de 500 sacos de sal por ano, senão há algum problema e certamente terá grande chance de estar relacionado ao prato do boi, o cocho.


Maurício Lara dos Santos
Supervisor Brasão – Fronteira RS

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