sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O que aconteceu com a reposição?

O que aconteceu com a reposição?



Tenho conversado com muitas pessoas que, invariavelmente, me perguntam o que aconteceu com a reposição de terneiros, novilhos, enfim, das categorias que normalmente eram muito procuradas nesta época.
Tentando também entender o que se passa, comecei a buscar algumas respostas, e entre elas a que sempre aparece é que o ciclo de comercialização mudou, e mudou bastante.

Então vejamos:

1º -  Até pouco tempo atrás, pelo menos em minha região, quase toda área de soja era uma área de pastagem para pastoreio no intervalo entre o cultivo desta cultura.
Os contratos com os agropecuaristas da região eram mais baratos (5-6 sacas/ha) e quase sempre continham uma cláusula em que o arrendatário deveria, no momento da entrega da área, deixar uma pastagem para pastoreio formada para o proprietário. Hoje isto já não ocorre com frequência, as áreas são arrendadas na maioria das vezes a agricultores de outras regiões do norte do estado, que pagam mais pelo arrendamento (7-10 sacas/ha ano), e que trazem consigo a cultura do arrendamento do ano fechado, da agricultura e não da pecuária, plantio só para produção de palha para cobertura do solo e de não colocarem animais nestas áreas, evitando o pisoteio que, segundo alguns produtores, pode levar à perda de produtividade em alguns casos de até 10% na soja.
Façam este cálculo comigo:
Uma lavoura de produção média de 50 sacas de soja com valor médio atual de R$ 60,00 - 65,00, se confirmado a perda de 10%, deixaria de faturar em torno de R$ 300,00 - 350,00  - contra um um terneiro, novilho ou até mesmo uma vaca de invernar que entre o valor de compra e de venda poderá não dar este lucro, sem contar com todo trabalho e risco, além de ao final da engorda vir ao mercado em um momento em que a oferta deste gado é muito grande, principalmente pela necessidade de liberação da área em que se encontram para plantio.

2º - Outro fator que devemos considerar é o do grande estímulo que foi dado ao plantio de trigo (principalmente depois de que a demanda interna ficou comprometida por causa da decisão da Argentina) nesta mesma área, havendo assim uma substituição dos investimentos na reposição por investimentos em lavouras de trigo.

3º -  Acredito também que a época de comercialização da safra de terneiros está um pouco desencontrada. Historicamente temos nos meses de abril e maio a grande concentração de feiras de terneiros, o grande momento de comercialização desta categoria, época esta, que no atual momento vem a coincidir ainda com o auge da colheita da soja, o fim da colheita de arroz e com a incerteza de se teremos ou não pastagens para essa safra, fazendo com que fique muito menor a procura por reposição, e portanto, um aumento de  oferta sem contrapartida na procura, ocasionando estabilidade de preços e em alguns casos até de baixa de preço.

4º - Influência também, em menor proporção, do plantio de soja em determinadas áreas de arroz (compatíveis com a cultura de soja), sobrando menos restevas de arroz, que até pouco tempo eram muito destinadas a estas categorias animais, além de que, por estarem um pouco mais capitalizados, alguns produtores levam mais tempo para comercializarem seus estoques de arroz na busca de melhores preços na entressafra, não circulando então dinheiro para ser investido na pecuária.

Portanto, gostaria de externar minha opinião dizendo que acredito que, enquanto estes fatores acima comentados estiverem vigentes, como por exemplos os bons preços pagos à soja, trigo e arroz, este será o cenário e acho complicado a "pecuária tradicional" não ser tratada quase como um sub-produto da agricultura. Uma maior atenção por parte de nossos agropecuaristas em relação à integração lavoura-pecuária talvez seja o passo fundamental para o bom desempenho financeiro destas atividades.

Med. Veterinário Eduardo Lund
Consultor da Lund Negócios
Tenho conversado com muitas pessoas que, invariavelmente, me perguntam o que aconteceu com a

reposição de terneiros, novilhos, enfim, das categorias que normalmente eram muito procuradas nesta época.
Tentando também entender o que se passa, comecei a buscar algumas respostas, e entre elas a que sempre aparece é que o ciclo de comercialização mudou, e mudou bastante.

Então vejamos:

1º -  Até pouco tempo atrás, pelo menos em minha região, quase toda área de soja era uma área de pastagem para pastoreio no intervalo entre o cultivo desta cultura.
Os contratos com os agropecuaristas da região eram mais baratos (5-6 sacas/ha) e quase sempre continham uma cláusula em que o arrendatário deveria, no momento da entrega da área, deixar uma pastagem para pastoreio formada para o proprietário. Hoje isto já não ocorre com frequência, as áreas são arrendadas na maioria das vezes a agricultores de outras regiões do norte do estado, que pagam mais pelo arrendamento (7-10 sacas/ha ano), e que trazem consigo a cultura do arrendamento do ano fechado, da agricultura e não da pecuária, plantio só para produção de palha para cobertura do solo e de não colocarem animais nestas áreas, evitando o pisoteio que, segundo alguns produtores, pode levar à perda de produtividade em alguns casos de até 10% na soja.
Façam este cálculo comigo:
Uma lavoura de produção média de 50 sacas de soja com valor médio atual de R$ 60,00 - 65,00, se confirmado a perda de 10%, deixaria de faturar em torno de R$ 300,00 - 350,00  - contra um um terneiro, novilho ou até mesmo uma vaca de invernar que entre o valor de compra e de venda poderá não dar este lucro, sem contar com todo trabalho e risco, além de ao final da engorda vir ao mercado em um momento em que a oferta deste gado é muito grande, principalmente pela necessidade de liberação da área em que se encontram para plantio.

2º - Outro fator que devemos considerar é o do grande estímulo que foi dado ao plantio de trigo (principalmente depois de que a demanda interna ficou comprometida por causa da decisão da Argentina) nesta mesma área, havendo assim uma substituição dos investimentos na reposição por investimentos em lavouras de trigo.

3º -  Acredito também que a época de comercialização da safra de terneiros está um pouco desencontrada. Historicamente temos nos meses de abril e maio a grande concentração de feiras de terneiros, o grande momento de comercialização desta categoria, época esta, que no atual momento vem a coincidir ainda com o auge da colheita da soja, o fim da colheita de arroz e com a incerteza de se teremos ou não pastagens para essa safra, fazendo com que fique muito menor a procura por reposição, e portanto, um aumento de  oferta sem contrapartida na procura, ocasionando estabilidade de preços e em alguns casos até de baixa de preço.

4º - Influência também, em menor proporção, do plantio de soja em determinadas áreas de arroz (compatíveis com a cultura de soja), sobrando menos restevas de arroz, que até pouco tempo eram muito destinadas a estas categorias animais, além de que, por estarem um pouco mais capitalizados, alguns produtores levam mais tempo para comercializarem seus estoques de arroz na busca de melhores preços na entressafra, não circulando então dinheiro para ser investido na pecuária.

Portanto, gostaria de externar minha opinião dizendo que acredito que, enquanto estes fatores acima comentados estiverem vigentes, como por exemplos os bons preços pagos à soja, trigo e arroz, este será o cenário e acho complicado a "pecuária tradicional" não ser tratada quase como um sub-produto da agricultura. Uma maior atenção por parte de nossos agropecuaristas em relação à integração lavoura-pecuária talvez seja o passo fundamental para o bom desempenho financeiro destas atividades.

Med. Veterinário Eduardo Lund
Consultor da Lund Negócios

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