sábado, 9 de agosto de 2014

China: redução do rebanho reforça potencial importador de carne bovina

O crescimento do consumo de carne bovina na China segue muito dinâmico, direcionado pela demanda do consumidor por carnes de maior qualidade e segurança. No entanto, um grande problema torna-se evidente quando se aprofunda a análise. Não há bovinos suficientes sendo criados domesticamente para satisfazer a demanda. À medida que os preços aumentam, há um perigo real de exclusão de grande número de consumidores chineses da compra de carne bovina. A China está se tornando ainda mais dependente das importações.
A carne bovina e de vitelo tiveram um excelente desempenho no setor de carnes frescas da China em 2013, alcançando um crescimento de volume de mais de 5%, direcionando o vasto mercado de carnes frescas do país, que registrou um aumento de 3% no total. De acordo com o Euromonitor, durante o período revisado de 2008-2013, a carne bovina e de vitelo também lideraram o crescimento, com um ganho de volume de 30%, que foi o dobro do crescimento da carne suína e 9% a mais que da carne de frango.
A popularidade da carne bovina na China está sendo impulsionada por uma série de fatores. Primeiro, os consumidores chineses de classe média aspiram carnes com mais “status” e a carne bovina se encaixa bem nisso.
O produto é considerado de maior qualidade que a carne suína – que atualmente ainda excede o consumo de carne bovina em oito vezes – e também como sendo “mais saudável” e com menos gordura. O fato de a carne suína e de frango estarem frequentemente envolvidas em escândalos de segurança almentar e epidemias de doenças também ajudaram a carne bovina a solidificar seu status de altamente desejável.
Não foi apenas o volume de consumo que aumentou. De acordo com o Ministério da Agricultura da China, os preços atacadistas da carne bovina dobraram entre 2008 e 2013. Os preços não deverão cair em breve, considerando que o rebanho doméstico bovino da China está registrando um forte declínio.
Os dados do Euromonitor mostram que o número de cabeças de bovinos caiu de quase 83 milhões em 2008 para pouco mais de 75 milhões em 2013, enquanto a produção doméstica de carne bovina e de vitelo aumentou de 6 milhões de toneladas para 7 milhões de toneladas durante o mesmo período. Essa tendência dificilmente parece sustentável e, atualmente, a China depende muito das importações.
Análises acompanhadas pelo BeefPoint no Congresso Mundial da Carne na China em junho desse ano, estimam que a atual produção chinesa está na casa dos 3 milhões de toneladas, ou seja, metade dos números oficiais.
A China é um país em transição no que se refere à produção agrícola e pecuária. Anteriormente, as famílias rurais mantinham somente um pequeno número de bovinos, principalmente como animais de tração. De acordo com fontes da indústria, cerca de 95% dos produtores rurais chineses que se envolvem na criação de bovinos têm menos de 10 animais e a tendência de longo prazo dos moradores das áreas rurais abandonarem suas fazendas por empregos na cidade não está ajudando na reconstrução do rebanho.
Considerando essa tendência, a única esperança da China de aumentar a produção de carne bovina é mudar para operações de maior escala. Os desafios, entretanto, apesar do crescente suporte governamental, são grandes. Por exemplo, no final de abril de 2014, o governo chinês anunciou que estava expandindo as operações de cria de ovinos e bovinos na região noroeste do país, incluindo províncias de Inner Mongólia, Shanxi e Xinjiang. O grande obstáculo da região é a aridez e ainda não está claro como a água já esparsa poderá dar suporte à produção de bovinos de maior escala.
A escassez de alimentos animais tem sido um limite significativo na produção pecuária da China em geral. Os bovinos, com sua baixa taxa de conversão de alimentos em tecido muscular, estão longe de ser o tipo ideal de animal a serem criados em massa em um país densamente populoso e muito árido como a China, mesmo se outras questões que geram pressão, como baixa qualidade genética do rebanho, forem resolvidas.
O otimismo do país diante de todas essas adversidades está surpreendendo, entretanto, conforme ilustrado por um anúncio em abril desse ano relacionado à construção de um estabelecimento de engorda e abate com capacidade de 50.000 cabeças em Hubei, uma província localizada na região centro-leste do país. Os membros da indústria já levantaram sérias dúvidas sobre se essa instalação chegará perto de sua capacidade operacional no médio prazo.
A carne bovina ainda tem um longo caminho a percorrer até atingir o limiar requerido para ser capaz de ser chamada de carne mais popular da China, o que não deve acontecer. Em 2013, a carne bovina e de vitelo representaram apenas 8% do consumo anual per capita chinês de carnes frescas, enquanto a carne suína teve 64% de participação.
A maioria dos consumidores chineses provavelmente trocariam uma proporção significativa de ingestão de carne suína por carne bovina se os preços não fossem tão proibitivos. Sem um fim previsível da escassez crônica de bovinos do país, poderá levar um longo tempo até que toda essa demanda reprimida possa finalmente ser liberada.
Comentário BeefPoint: mais um alerta do potencial da China para exportação de carne bovina do Brasil. As oportunidades são enormes, mas vale a pena reforçar que fazer negócios na China não é fácil.
Fonte: Global Meat News, traduzida, adaptada e comentada pela Equipe BeefPoint.

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