domingo, 21 de dezembro de 2014

Pecuária gaúcha encerra 2014 com euforia

O ano que encerra registrou bons resultados para a pecuária gaúcha. Conforme anúncio da Farsul, na semana passada, mesmo com o avanço da cultura da soja na Metade Sul do Estado, o abate de bovinos deve permanecer com o mesmo número de 2013, mas o Valor Bruto da Pecuária deve ter alta de cerca de 20%. De acordo com a entidade, a oleaginosa tem sido parceira da pecuária, proporcionando pastagens de qualidade no inverno e aumento também da qualidade do rebanho. Em relação aos preços na temporada de primavera, ficou comprovado o bom momento.

Segundo o analista da Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha, Fernando Velloso, a temporada foi muito positiva, com alta liquidez para os touros, especialmente nas raças Angus e Braford. Pelos dados do Sindiler (Sindicato dos Leiloeiros Oficiais do Rio Grande do Sul) a venda em número de touros foi um pouco menor que em 2013. Em 2014, foram vendidos, em leilões, 5 036 touros contra 5,2 mil touros em 2013. “É uma diferença pequena e nos leva a pensar até em ofertas praticamente iguais ou de estabilidade em número de animais ofertados” aponta Velloso.


A média dos touros, em 2014, ficou em R$ 8,4 mil, tendo um aumento de valor de aproximadamente 9% em relação a 2013, quando os touros fizeram média de R$ 7,7 mil.


Velloso observa o resultado desses números a partir da demanda e da valorização do produto carne. “Na primavera/2013 o boi gordo estava cotado em aproximadamente R$ 3,45 e, na primavera/2014, a temporada iniciou com valores acima de R$4,30 para o boi, ou seja, valorização de mais de 25%. Atualmente, o boi atingiu patamares ainda mais altos, sendo comercializado, neste momento, entre R$4,50 - 4,90, conforme a região do RS. Essa valorização e firmeza no mercado do gado dão confiança ao produtor para manter ou ampliar os investimentos em pecuária. A venda de touros é um bom indicador do grau de credibilidade dos produtores na pecuária” destaca.


Já o outro fator, que, segundo o analista, potencializa a venda de touros, é o maior nível de intensificação na pecuária gaúcha. Produtores que usam mais tecnologia (pastagem, suplementação, confinamento, irrigação, etc) necessitam produzir animais com melhor genética para obter bom desempenho em produção. “Animais com baixo potencial genético limitam o resultado financeiro das propriedades, especialmente as mais tecnificadas”, pondera.



Sucesso na comercialização


O calendário de remates de primavera em 2014 apresentou resultados que confirmam a consolidação desse momento favorável para a pecuária. Velloso comenta que, nesta temporada, foi bastante comum a venda de touros acima de R$ 15 mil – valor praticado somente para animais “exceção” em anos anteriores. No entanto, os fatores que influenciam na aquisição de touros em leilões são diversos, tornando a decisão de compra bem mais complexa do que a feita para gado de reposição, salienta o especialista. Entre esses fatores estão:credibilidade do vendedor, confiança no pós-venda, serviços incluídos (frete, seguro, assessoria, etc), índices técnicos e apresentação dos animais, entre outros aspectos.


“Alguns promotores de leilões conseguem melhorar, a cada ano, o seu posicionamento no mercado, pois oferecem um pacote muito positivo de atributos em seus reprodutores. Esses casos de sucesso estão alcançando médias bem superiores aos demais leilões do Estado. De outra parte, a consistência de qualidade do produto faz com que ocorra a fidelização dos compradores, pois um indicador muito importante para o cliente é o sucesso do "trabalho" do touro (em número de vacas prenhes) e a qualidade de seus filhos” aponta Velloso.



Clima foi parceiro


O êxito na comercialização também é saudada pelo engenheiro agrônomo e integrante do Sindicato Rural de Lavras do Sul e da Alianza del Pastizal, Fernando Adauto Loureiro de Souza.  Para ele a soma de diversos fatores contribuiu para esse cenário. Nas palavras do agrônomo, aspectos como: condições climáticas extremamente favoráveis, principalmente na Campanha, com excelente fim de inverno e uma primavera, que, segundo Souza, é a melhor deste século, permitiu também maiores e melhores desfrutes e uma maior capacidade também de aquisição. Além disso, favorecendo essas condições climáticas, houve, no período, preços crescentes do gado, tanto para o abate quanto para reposição ou cria. “A demanda por gado no Rio Grande do Sul aumentou, tanto que nossos preços, a maior parte do tempo, mantiveram-se acima dos de regiões como Centro-Oeste e São Paulo, contrariando as históricas estatísticas. Houve, da mesma forma, uma boa oferta de crédito controlado que animou as feiras oficiais; um aumento nas exportações de carne, especialmente de dianteiro, ajudou a enxugar o mercado interno e diria ainda que o bom desempenho da lavoura contribuiu com o setor. Em muitos casos o produtor é o mesmo”, afirma Souza.

 
Busca pela qualidade


O proprietário da Agropecuária São Jorge, de Aceguá, Élio Jorge Coradini, observa como positiva a temporada. Ele aponta reflexos diretos nos leilões, com pecuaristas buscando maior qualidade. “Os valores do boi gordo alavancaram o investimento em pecuária”, acrescenta. Coradini avalia que, neste ano, em proporção, o preço do boi subiu mais que os produtos agrícolas. Com risco menor, aliado a bons preços e boa influência climática, a decisão foi facilitada.

Souza ainda complementa destacando que o balanço geral de 2014 é muito positivo, pois foi um ano de mercado muito firme e gerador de investimentos no setor. “O nosso produto (terneiro, boi, etc) voltou a ter maior capacidade de pagamento de despesas e insumos e este fato é determinante para o pecuarista”, afirma.


Perspectivas para 2015


O analista da FFVelloso & Dimas Rocha projeta um cenário positivo para a pecuária gaúcha em 2015. Velloso ressalta que, apesar do temor geral em relação ao futuro da economia brasileira, a demanda por carne segue muito positiva e com um cenário de crescente valorização. “O momento é apropriado para ampliação de investimentos em pecuária”, salienta. Projeção semelhante é a de Souza. Por conta das projeções mundiais para a carne bovina serem boas, o dirigente do Sindicato Rural de Lavras do Sul argumenta que o setor não pode se esquecer de que, nos últimos anos, quem baliza os preços da carne, apesar da vultosa exportação de dianteiros, é o mercado interno, especialmente o consumidor brasileiro, com destaque para a classe C, principal consumidora em volume, destaca. “Portanto, vamos depender muito do desempenho de nossa economia, de boas colheitas e segurança para investir. Eu diria ainda que investimentos no Ministério da Agricultura, na área de defesa sanitária, em muito nos ajudariam na conquista de novos mercados, mais qualificados, mais exigentes e que pagam mais. Isso é válido para todas as carnes, além de valorizar nossa produção, enxugaria o mercado interno permitindo maior estabilidade nos preços internos”, declara. 


Coradini também prospecta um ano ainda melhor para a pecuária em 2015. “Como sempre, a Campanha está posicionada como ofertante de excelente material genético. Temos ótimas invernadas, ótimo consórcio com a agricultura para elaborar comida. Expectativa de bons preços agrícolas e pecuários. Assim, não há dúvidas de que o produtor irá fazer sua parte e o resultado certamente virá".


Fonte: Jornal Folha do Sul (Bagé)

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