segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Preços da carne disparam nos frigoríficos

Alta na cotação da matéria-prima chega a 20% desde outubro, e consumidor paga cada vez mais pelo produto 
Patrícia Comunello
O ano começou com patamar elevado nos preços dos bovinos abatidos na indústria e na carne que chega ao consumidor, principalmente nos cortes de primeira e os mais requisitados no churrasco. Monitoramento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), ligado à Ufrgs, revela que o quilo do boi vivo e o do rendimento da carcaça chegou a subir 20% entre fim de outubro de 2014 e o dia 21 deste mês, data da última pesquisa em frigoríficos localizados em diversas regiões gaúchas. Os analistas do Nespro opinam que dificilmente o cenário de preços se alterará muito, com maior recuo, pois os próximos meses são de menor oferta de bois.
Reforça a projeção o fato de uma valorização que chegou a 11% somente em dezembro de cortes mais procurados. Para a equipe do Nespro, a condição da cadeia do mercado indica que 2015 estreia com patamar elevado de preços. Segundo o médico veterinário e especialista em agronegócio Eduardo Antunes Dias, a correção de tabelas para cima contribuiu para colocar fogo no assado. Os preços de cortes mais populares no churrasco (picanha, maminha e entrecot) acumularam aumento de 11% no quilo entre final de novembro e o mês passado. “Foi a metade da inflação da carne vermelha em todo o ano, que subiu 22,21%, segundo o IBGE”, contrasta Dias.
O fim de ano é marcado pelo consumo superaquecido nos cortes, observa Dias, o que abriria espaço para a cadeia produtiva e de comercialização engordar suas margens. Na hora do churrasco, as maiores altas foram do quilo da maminha (11,7%), do entrecot (11,4%) e da picanha (11%). Outras carnes de traseiro do boi – moída de primeira e alcatra – subiram, em média, 7%. “Era esperado, porque as pessoas fazem mais churrasco e, consequentemente, os estabelecimentos elevam os preços”, explica o médico veterinário. Ajuda a valorizar o produto o fato de os gaúchos dificilmente abrirem mão da tradição à mesa, reforça o pesquisador. Menos cobiçadas, porque pode suportar a conta dos cortes de primeira, as opções do dianteiro – acém e carne moída de segunda – tiveram preços estáveis, com alta de 0,1%,
Passadas as festas, o Nespro detectou que os mesmos cortes, em alguns dos estabelecimentos pesquisados (oito em Porto Alegre), apresentaram leve redução de preço, segundo o informe do dia 19. Ao recorrer à disponibilidade de matéria-prima, o especialista em agronegócio lembra que os três últimos meses respondem por 38% da carne processada nos frigoríficos e que é vendida a supermercados e açougues. Dados disponíveis dos abates no Estado de 2010 a 2013 e analisados pelo Nespro confirmam que o trimestre responde por quase 40% do volume anual processado pelas plantas. “A indústria e o varejo falaram que havia pouca oferta de carne, mas é o período de safra e isso não tem se alterado nos últimos anos”, confronta Dias.
Para reforçar a tese de que houve um ganho maior do produtor ao varejo na demanda mais aquecida, o Nespro cita que os preços ao consumidor entraram mais estáveis em janeiro. O comportamento dos preços, segundo Dias, pode refletir o desaquecimento nas compras de carne vermelha pelas famílias, que buscam outras opções (frango ou suíno) para reduzir a despesa. “Mas o que chama a atenção é que o patamar de preços a cada ano se eleva, e dificilmente vai baixar muito, pois o mercado está valorizado internamente e nas exportações”, completa o especialista.
As vendas ao exterior em 2014 comprovam que os volumes e receitas com carne bovina cresceram. A Fundação de Economia e Estatística (FEE) apontou, na semana passada, que o fluxo subiu 32% em volume (18,1 milhões de toneladas, ante 13,7 milhões de 2013) e 30,7% na receita, terminando o ano com US$ 74,5 milhões. A carência de matéria-prima, cuja oferta mensal de janeiro e abril oscila entre 6% e 7% dos abates do ano, foi apontada pelo grupo Marfrig como a principal razão para fechar a unidade de Alegrete. Dias avalia que a transferência do processamento dos animais aos frigoríficos de São Gabriel e Bagé, também do Marfrig, manterá inalterado o nível dos abates estaduais (pouco mais de 2 milhões de cabeças ao ano) e da própria companhia.
fonte: Jornal do Comercio

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