segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A cadeia da carne vai enfrentar o “7 x 0,1” em 2015

Companheiros de lida,
O governo está lançando o programa “Bolsa Vexame”. Trata-se do seguinte programa social: caso você tenha tido um grande vexame, ele garante que fará um vexame maior ainda, não deixando o seu ser o pior. O “petrolão” vai firme nesta direção…
Deve ser este o cerne do novo programa social, pois estão, além do “petrolão”, estão tentando fazer uma nova versão do terrível “7 x 1” ocorrido em 2014, versão esta devidamente piorada para o “7 x 0,1” que o governo prepara para 2015.
Vamos ver abaixo o que é o “7 x 0,1” da nossa economia e o que isto tem a ver com a cadeia da carne vermelha…
1)      COMO ESTÁ O NOSSO TETO (SP/MS)?
E o bovino segue seu caminho… Em termos da referência de nossa locomotiva, o indicador ESALQ/BMF (reflete o mercado físico paulista, média das praças de SP), está tudo parado igual a “zóio de barbie”. Na semana passada, foram R$ 0,51/@ para cima, empurrando o indicador de R$ 142,92/@ (variando de R$ 141 a R$ 145) para R$ 143,43/@ (variando de R$ 141 a R$ 147).
Portanto, segue o cenário mais provável que tinha sido apontado: estabilidade/leves quedas. Há exatos 60 dias que nada ocorre com o preço do boi gordo. A média do indicador de 01 a 31/01/15 foi R$ 143,06/@, base av. A média 01/12/14 a 31/01/15 foi de R$ 143,07/@!
Apenas R$ 0,01/@ de diferença… Raras vezes vimos algo assim. É o que chamamos de “vôo de beija flor nas alturas” na semana passada, traduzido em números. E é nas alturas, pois os valores são muito próximos do maior preço do boi da história (27/nov/14).
Com relação ao mercado físico paulista da última sexta-feira, continuamos com o R$ 142 (frigoríficos grandes) a R$ 145/146 (pequenos), à vista. Na “terra do tereré”, o MS, o mercado trabalha de R$ 136 ao R$ 138/@, av. Os preços estão bem heterogêneos, e quem tem mais poder de COMPRA, vai mais longe buscar o bovino, consegue encher escala com preços menores. Este mesma dispersão se reflete também nas escalas, que continuam de maneira geral para a segunda 09/fev, mas com grande diferença entre as indústrias (spread entre quem tem mais boi e menos boi na escala aumentou muito). Tem frigorífico ainda para a próxima quarta (dia 04) e outros para a outra terça (dia 10).
Na média continua o “DIA D” na SEGUNDA (09/fev) e o PLACAR médio de 5 dias úteis (entre o dia do acordo da venda e o do abate). Desta forma, o STATUS DO BEEFRADAR continua em:

45% queda (leve) : 45% estabilidade : 10% para alta (leve)

2)      E AQUI, NA TERRA DO PEQUI?
Aqui houve um movimento diferente. O beija-flor goiano deu uma “bambeada”. Houve uma retração de R$ 1 a R$ 2/@ da semana passada para cá, agora estando o preço balcão mais comum como R$ 133av x R$ 135ap, com bônus EU de +R$2/@.
Com relação às escalas, elas seguem para a segunda, dia 09/fev, na maioria dos casos, mas graças a ajustes de produção por parte das indústrias.
Assim, o diferencial de base com SP descongelou e abriu forte para a média semanal de -R$ 9/@, chegando a –R$ 10/@ na sexta. Hora de não vender, caso possa segurar. O problema é este: o pecuarista de GO está menos valente na hora da venda por conta da falta de chuvas. E outra: em GO está implementada a estratégia de ajuste de produção, como dito acima, pois há plantas com abates reduzidos e outras com fortes rumores de férias coletivas, o que ajuda a segurar a cotação do bovino. A vaca continua com deságio abrindo levemente em relação ao macho, consolidando deságio de 6%.
3)      HORA DO QUILODá para prever o clima??? A resposta é: “não”! Esta entrevista é esclarecedora. E também dá um belo retrato do nível da situação atual sobre a crise de  água e de energia: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/jornal-da-cbn/2015/01/27/PLANETA-MAIS-QUENTE-VAI-GERAR-NEVASCAS-MAIS-INTENSAS.htm
4)      TO BEEF OR NOT TO BEEF: de novo a crise de água. Acompanhem dois exemplos claros de como a falta de água interfere na economia real, na economia do Front, no caso do nosso cafezinho… Veja: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/01/31/sem-agua-lanchonetes-da-zona-oeste-de-sp-abrem-mao-ate-de-servir-cafezinho.htm. Neste outro caso, a falta de água ajuda nas vendas, ao contrário do caso anterior: http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2014/10/falta-dagua-altera-estoques-em-lojas-de-materiais-de-construcao-em-itu.html. Já tem gente falando em um alto impacto na economia, caso se confirme racionamento de energia e de água, veja: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,com-racionamento-pib-pode-cair-ate-2,1627896. E como será com a carne bovina? Nenhuma, pouca ou muita interferência? Não há paralelo na história, mas nenhuma cadeia está imune a este problema.
5)      O LADO “B” DO BOI:
5.1.) Qual o impacto da falta de chuvas no boi, caso haja racionamento de água e energia?
Foi esta a pergunta da seção acima. Caso haja realmente continuidade deste verão menos chuvoso, é muito possível que haja na cadeia da carne, em função do racionamento de água e energia:
  • Aumento do custo de produção para o pecuarista: em função do aumento de suplementos nutricionais para o gado à pasto (já sentimos isto na Fazenda) e até mesmo do envio de maior quantidade de animais para o cocho, ou pelo menos de maneira antecipada;
  • Alteração no padrão de consumo do mercado interno de carne, responsável por 80% do consumo, pelos motivos: menor consumo doméstico e industrial (consequência do impacto negativo na economia para ambos).
Esperamos que a situação acima não ocorra. Não há certeza destes impactos, pois é algo novo, sem precedentes. Há quem diga que os impactos serão pequenos na cadeia da carne… Espero que não cheguemos nesta situação para ver quem está certo…
5.2.) Teremos  “7 x 0.1” em 2015 e o que isto tem a ver conosco?
Do ponto de vista geral, o que está escrito aí em cima não trás nenhuma novidade em termos de mercado, em relação ao que temos dito nas últimas semanas, ou seja:
  • nada de sobre-oferta de animais acabados, por ora em 2015: as escalas estão heterogêneas não só em SP, mas também em termos de Brasil. Estados que estão sentindo bem a seca, como GO e BA estão com vendedores menos “duros” na hora de negociar e o boi vai com mais facilidade para a escala.  Já outros, como MT, MS e SP, a oferta segue mais estável e há mais dificuldade de se achar o bovino. De maneira geral, os animais acabados não abundam mesmo nesse momento;
  • nada de termos uma demanda pujante do lado externo, por ora em 2015: devem sair os dados das vendas externas de janeiro, que devem ser de queda, entre 20 a 30%. Os principais importadores da nossa carne andam sofrendo com a baixa do petróleo. Vejam um exemplo disto: http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,venezuela-pede-calma-a-populacao-e-diz-que-ha-comida-ate-abril,1625075. Menos mal que o dólar está subindo…
  • nada de termos uma demanda pujante do lado interno, por ora em 2015: nem a volta as aulas e o começo de mês melhoraram as vendas. Isto sempre é esperado para janeiro, mas impressiona a intensidade do movimento, refletida em uma carcaça casada vendida cada vez mais barata por parte da indústria.
Em outras palavras, já está ocorrendo o maior desafio do ano para a cadeia da carne: a busca pelo equilíbrio de preços ao longo da cadeia.
Veja no gráfico abaixo: desde o início do ano, a carne que o frigorífico vende (com base no preço do atacado do mercado interno, ou equivalente físico em R$/@) caiu cerca de R$ 14/@ (linha preta) e o boi quase não cedeu (linha verde). No gráfico está o ano de 2014 inteiro e este início de 2015. Veja o mergulho do preço da carne (inclinação para baixo da linha preta, após o início de 2015, representado ao lado direito da seta azul):
20150201 - equival físico x indicador2
Com isto, vários indicadores de margens da indústria monitorados por nós fizeram o mesmo movimento descendente acima descrito, expondo a provável queda de lucratividade que os frigoríficos experimentam atualmente (estes indicadores estão nos menores níveis da história).
E, em nossa opinião, é em função disto que, agora em 2015, a indústria começa o ano de maneira mais direcionada a fazer ajustes de produção, reduzindo abates e usando (provavelmente) mais o artifício de férias coletivas, p.ex.
No ano de 2014, estes mesmos indicadores atingiram níveis quase tão baixos como os de agora, mas isto ocorreu somente no último trimestre, concomitantemente ao recorde de preços do boi, logo atenuado pelas vendas melhores de nov/dez. Mas, em 2015, a indústria já começou o ano pressionada e está sinalizando que vai mudar o seu comportamento, fazendo ajustes que durante o ano de 2014 inteiro, mesmo com a alta quase ininterrupta do boi, não fez.
O pano de fundo desta busca pelo equilíbrio de preços ao longo da cadeia são a economia e o clima. No link disponibilizado neste texto (seção “hora do quilo”), ficou claro que sobre clima, não dá para prever… E sobre economia, apesar da previsibilidade ser também inconsistente, uma coisa é certa: há muito menos pessoas (quase ninguém na verdade) estimando um cenário de “mar de rosas” para este ano, isto, acho que está mais do que claro.
Nesta semana, o relatório Focus do Banco Central revisou a previsão do crescimento da nossa economia deste ano para baixo, foi para 0.13%. Veja:http://www.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/readout/R20150123.pdf.
Mantido o cenário de inflação próximo a 7%, está feito o “7 x 0.1” da nossa economia, referenciado no título deste, placar que vai contra nossa demanda, e que portanto, será enfrentado pela cadeia da carne. Não resta dúvida. Nenhuma cadeia está imune a isto. Está ai a indústria automobilística para nos exemplificar.
Apesar disto tudo, não estamos pessimistas com o preço do boi, pois em que pese haver todas estas nuvens negras caminhando para o lado da demanda da cadeia da carne, ainda entendemos como cenário menos provável um forte derretimento dos preços do boi gordo, em função dos sólidos suportes concedidos pelas forças do ciclo pecuário (não deve ser um ano de boa oferta, além da seca, que por si só também é um fator negativo no médio prazo para a originação de animais gordos num País que abate 90% de sua produção via engorda a pasto).
Este cenário tenebroso nos leva mais a pensar em resistências para novas altas do que em fortes derretimentos de preços, mesmo sendo o nível atual de preços bem alto.
De toda a forma, a prudência nunca matou ninguém e sugerimos você dar uma olhada nos atuais preços futuros ofertados para o boi, pois estão ainda razoavelmente remuneradores. Não é uma atitude correta manter a euforia que 2014 pode ter nos trazido e que vejo ainda bem “esparramada” mercado a fora, na cabeça de quem produz. Lembramos que a cadeia da carne está em busca de seu equilíbrio de preços e não sabemos ainda como este equilíbrio pode ser alcançado…
Uma boa semana para você, sua família e seus empregados. Que você irradie apenas bons valores a quem cruzar o seu caminho nesta semana abençoada que se inicia.
Rodrigo Albuquerque (@fazendaburitis)
&
 Ricardo Heise (@boi_invest),

Num trabalho feito a 4 mãos…

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