quarta-feira, 3 de junho de 2015

Vale a pena receber gado a rendimento na minha pastagem?

Atendendo a um pedido de um leitor, escrevi sobre este tema que gera muitas dúvidas na cabeça do produtor rural.
Primeiramente já começo com a resposta. Depende!
Na agricultura e na pecuária, esta é a resposta para quase tudo. É muito difícil falar sobre este tema, já que há muitas variáveis, como: custo da pastagem, categoria que pastejará, período de utilização, temperatura, época de implantação, manejo, divisão de potreiros, produção/ha, mercado do boi, custo da mão de obra, custo de medicamentos, etc..
Resumindo, para explanar sobre tudo, seria um livro, não um artigo. Mas tentarei explicar como fazer o cálculo, porque quase todos os fatores citados variam caso a caso.
Outro fator relevante é se o dono da pastagem é sojicultor. Neste caso, a forragem está ali para fazer cobertura e adubação verde do solo para a cultura, e colocar gado na pastagem é mais uma forma de capitalizar a área. Então boa parte do custo da pastagem pode e deve ser vinculado à lavoura de soja, pois será feita com ou sem colocação de animais, os desembolsos extra, que não seriam necessários apenas para a lavoura, como adubação de base e ureia (se for o caso), mão de obra e medicamentos (conforme o acerto), devem ser descontados da receita da pecuária.
Farei um exemplo “feijão com arroz” trabalhando com ponto de equilíbrio (produção necessária para cobrir os custos da pastagem no período).
Primeiro fator que devemos levar em consideração é o custo da pastagem.
Consideremos um custo R$ 700,00, com adubação de base (150 kg de DAP) e cobertura (100 kg de ureia). Podemos estimar uma carga animal de 700 kg, com esta adubação pode ser maior, mas vamos pelo seguro.
Qual categoria irá entrar na área? Terneiro, vaca, novilhos? Como a maioria do pessoal não pretende ou não possui área para seguir com os animais no período pós pastagem, o mais comum são categorias mais próximas à terminação, que são comercializadas antes do fim da pastagem.
Não que terneiros não possam ser comercializados como novilhos após a pastagem, mas o deságio de preço do terneiro para o novilho e a diminuição da procura por estes animais no período em questão dificulta um pouco os negócios. Entretanto, terneiros é a categoria de bovinos que tem a melhor produtividade por hectare, e isto deve ser levado em consideração.
Com isto, consideremos novilhos para terminação, no mais comum 60:40 (60% do ganho de peso na pastagem para o dono do campo e 40% para o dono do gado).
Pagando a pastagem: Primeiro ponto, devemos estimar o preço de venda e a produção animal. Na questão de preço, sempre faça o cálculo estimando a variação do mercado no período. No caso de realização dos animais em outubro, em relação ao preço de maio (atuais R$ 5,00 – R$ 5,20/kg vivo) o preço caiu 4,4% nos últimos 4 anos.
R$ 5,10 – 4,4% = R$ 4,87 (parece pessimista, mas é a media).
Consideremos R$ 20,00 de medicamentos por cabeça e R$ 10,00 de mão de obra (um campeiro de R$ 1.300,00 (com encargos) mensais para cada 500 cabeças).
Com esse custo de R$ 30,00/cab + R$ 700,00 hectare, consideremos R$ 750,00/ha (quase duas cabeças).
Analisando do ponto de vista que o dono da pastagem receberá 60% do valor da produção, dos R$ 4,87/kg vendido, receberá R$ 2,92 por cada kg.
R$ 750,00 / R$ 2,92 = 256,9 kg
Ou seja, o ponto de equilíbrio é de 256,9 kg / ha. Com esta produção, os custos do dono da pastagem estão cobertos. Se produzir mais, atividade está sendo lucrativa, se produzir menos, está tendo prejuízo.
Divida esta produção pelo período de utilização e terá a produção/ha/dia, veja os exemplos:
90 dias de utilização / 256,9 = 2,85 kg/dia
120 dias de utilização / 256,9 = 2,14 kg/dia
150 dias de utilização / 256,9 = 1,71 kg dia
180 dias de utilização / 256,9 = 1,43 kg/dia
Não irei me alongar mais, mas outas ferramentas podem ajudar no ganho de peso por animal e por área que valem ser  analisar são a suplementação energética na pastagem de inverno, (Veja o artigo sobre Suplementação em pastagem de azevém), e a adubação de pastagens de inverno (Veja o vídeo Adubação de azevém).
Como havia dito, há muitas variáveis. Se o preço cair menos, se cair mais, se o custo for maior, se o custo for menor, se o ganho médio diário for maior, se for menor, se o suporte de carga for maior, se for menor, etc.. São muitos “se’s” a analisar.
Vale ressaltar que cada situação é particular, por isto, cabe ao gestor analisar o seu sistema e fazer este tipo de cálculo e ver a viabilidade do negócio. A boa gestão do negócio é o fator mais crítico para o sucesso do empreendimento rural.

Por Renato Bittencourt

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