terça-feira, 21 de abril de 2015

Reportagem de ZH de hoje no caderno campo e lavoura

Apesar de preço maior, incerteza sobre crédito vira desafio nas feiras de terneiros no RS.

Entusiasmo e certa cautela convivem na temporada de feiras de terneiros no Estado. De um lado, valorização do boi gordo e a qualidade cada vez maior dos animais puxam para cima os preços dos primeiros leilões, com médias que até superaram R$ 6 o quilo vivo para os machos. De outro, oferta mais restrita de crédito para os remates, estiagem na Zona Sul e queda no consumo de carne fazem surgir dúvidas sobre os negócios.
Para o presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Estado (Sindler-RS), Jarbas Knorr, se a média de R$ 6 se confirmar no fim da temporada – R$ 1 acima do ano passado –, já será um resultado para comemorar. Outro fator que pode ajudar a sustentar a cotação é oferta, que pode ser 15% inferior à do ano passado, avalia Knorr.
Veja o calendário de feiras de outono no Estado
A previsão de um número menor de terneiros nas pistas é atribuída, principalmente, ao avanço da soja nas áreas de pecuária. A incerteza, ressalta, fica por conta do crédito, que normalmente eleva os preços nos remates.
– Cerca de 70% a 80% das vendas são financiadas. Sem financiamento, diminui 
(o preço) – pondera.
Efeito cascata em frigoríficos
Eduardo Lund, proprietário da Lund Negócios, tem dúvidas quanto à diminuição de oferta de animais. Se cair, entende, seria apenas nas feiras, com os produtores preferindo vender nas propriedades devido à incerteza quanto à disponibilidade de crédito. Assim, lembra, também escapam de pagar comissão às leiloeiras.
Em relação aos preços, Lund lembra que o principal fator a influenciar o ímpeto do mercado para adquirir gado de reposição é o quilo do boi gordo, que, apesar da queda do consumo na carne bovina no país devido à desaceleração da economia, ainda se mantém em um patamar elevado.
– O preço não cai porque a oferta de boi gordo é reduzida – observa Lund.
Maisa Módulo, analista de pecuária da paulista Scot Consultoria, avalia que a tendência é de que o preço do boi gordo se mantenha firme no país nos próximos meses. A causa é a mesma: baixa oferta devido a abate de fêmeas em anos anteriores e a seca no Sudeste. A cotação em alta, completa, é garantia de que o gado de reposição também seguirá valorizado.
A conjuntura, porém, tem esmagado as margens da indústria. Com a menor oferta, os frigoríficos pagam caro pelo gado, mas têm dificuldade de repassar preços para o varejo porque o consumidor vem diminuindo o consumo.
– Este cenário é reflexo da situação da economia e da baixa confiança do consumidor – resume Maisa.
Crédito mais restrito e caro
Ao contrário de temporadas anteriores, o crédito agora não será tão farto e barato. Diretor-executivo do Sicredi Pampa Gaúcho, que abrange 11 municípios da Fronteira Oeste, Leandro Gindri de Lima confirmaque a oferta de recursos neste ano será menor.
No caso da cooperativa, em torno de 30% a menos na comparação com a estação passada, principalmente nas linhas com juro mais em conta, entre 5,5% e 6,5% ao ano.
– É notório que os recursos diminuíram. Já sentimos essa retração também nas demais instituições financeiras, pois nossa demanda aumentou. A alternativa é uma oferta com recursos livres, mais caros, mas que podem atender na plenitude a demanda dos associados – diz Lima.
O Banco do Brasil, alvo da maior parte das queixas de vendedores e compradores, diz que não faltam recursos, mas admite que a linha mais procurada para a compra isolada de animais nos remates não está mais disponível. A prioridade passou a ser uma modalidade que, além da simples aquisição de gado, contempla outros investimentos nas propriedades, mas tem acesso mais complexo.
O Banrisul promete ampliar o crédito para a temporada em R$ 50 milhões, mas o juro é um pouco maior. No ano passado, as taxas variavam de 1% a 5,5% e, agora, vão de 1,5% a 6,5%.
– Creio que teremos uma demanda bastante grande, até porque estamos praticamente sozinhos no mercado – diz o novo diretor de crédito do Banrisul, Oberdan  Celestino de Almeida.
Gado uruguaio virou alternativa à indústria
Foto Francisco Bosco, Especial
Uma das estratégias para driblar de forma pontual a escassez de animais para abate no Rio Grande do Sul é a importação de gado do Uruguai. No ano passado, em especial a partir do segundo trimestre, frigoríficos gaúchos adquiriram 10 mil cabeças do país vizinho, com um desembolso total de US$ 6,87 milhões.
A solução foi adotada também no início de 2015. Nos três primeiros meses do ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foram importados mais 1,7 mil bovinos, ao custo de US$ 1,3 milhão. 
Para Eduardo Lund, da Lund Negócios, uma das razões para a busca por animais de outro país pode ser uma tentativa de forçar baixa de preços no mercado local. Apenas o Frigorífico Silva, em Santa Maria, comprou cerca de dois terços do total de animais importados pelo Rio Grande do Estado nos últimos 12 meses, diz Diogo Soccal, responsável pela área de compra de gado da empresa. Com a escalada da moeda americana, porém, a importação deixou de compensar.
– Com este dólar, inviabiliza o negócio – afirma Soccal, lembrando que, pela legislação, a carne de gado importado pode ser destinada apenas para o mercado interno.
Em Bagé, preço abaixo do esperado
Importante centro de produção de terneiros no Estado, Bagé fez, na semana passada, uma feira de terneiros com a comercialização apenas de machos – a de fêmeas será nesta quinta-feira. Todos os 1,3 mil animais que passaram na pista foram vendidos, mas ficou a sensação de que as médias poderiam ser maiores.
Entre os lotes formados por exemplares acima de 160 quilos, os valores médios ficaram em R$ 5,80 por quilo, relata o leiloeiro Aloizio Tavares, proprietário da AT Remates.
Entre os animais mais leves, o preço ficou perto de R$ 6. Para Tavares, o resultado um pouco abaixo do esperado pode ser atribuído à indisponibilidade, pelo Banco do Brasil, da linha de crédito mais procurada para a compra de animais.
– Poderiam ser um pouco maiores. Nem todos são clientes do Banrisul e do Sicredi. Se o Banco do Brasil nos acompanhasse, o resultado seria melhor – resume Tavares, referindo-se às médias.
Mesmo considerando que os preços da pecuária são hoje remuneradores em função da área menor destinada à atividade – resultado da concorrência com a soja –, a produtora Enilda Barbosa da Cunha, tradicional vendedora na feira, teve sensação semelhante:
– Esperava preço maior.
Fonte: Zero Hora

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O preocupante mercado da carne

A cadeia da carne — produtores, frigoríficos, distribuidores e exportadores — vive um momento de instabilidade. Está bom, pode ficar ruim, pode ficar melhor... Os preços do boi gordo nunca foram tão bons para os produtores — chegaram a R$ 148,7 por arroba e R$ 5,00 o quilo vivo — e ruins para os frigoríficos e os consumidores. Mas a demanda de carne caiu no mercado interno, pelos altos preços ao consumidor, e no internacional, Rússia (queda nas compras de 58,9%) e Venezuela (queda de 50,1%), por falta de dinheiro naqueles países. Internamente, o crédito está difícil, caiu o abate, frigoríficos estão demitindo ou fechando, saindo do mercado, forçados pela baixa rentabilidade de 1,99%, o pior nível desde julho de 2008. Mas a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) confia na abertura do mercado para carne in natura do Brasil nos EUA, aguardada para este primeiro semestre; na retomada das compras da China e no fim do embargo da Arábia Saudita e Japão. O Frigol, frigorífico de Lençóis Paulista (SP), acredita na volta das vendas para a Rússia. O governo olha o cenário com atenção, pois os produtos de origem animal participam com mais de 22% nas exportações, entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões, conforme o momento.
fonte: Jornal do Comercio