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Foto: Divulgação/Assessoria |
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As raças sintéticas deram um rasante nesta primavera de reposição de gado no Rio Grande do Sul. Na terceira temporada seguida de valorização dos reprodutores Brangus e Braford,
os altos preços, realidade até o circuito passado restrita a tradicionais selecionadores, se generalizaram pelas expofeiras e pelos leilões particulares, um frenesi atrás de touros com 3/8 de sangue zebuíno e 5/8 britânico. Diversos são os fatores apontados para a multiplicação de médias, de até R$ 12,6 mil. O crescimento da participação do Centro-Oeste nos negócios e a redução de áreas ocupadas pela pecuária, que estaria determinando um investimento mais empresarial e intensivo, estão entre eles. O leiloeiro Marcelo Silva classifica
o ciclo de “fabuloso” e acredita que ele deve se manter enquanto a soja estiver no atual patamar, o que tende a se manter pelo menos por mais cinco anos em sua opinião.
De acordo dados preliminares do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Rio Grande do Sul (Sindiler), a raça Braford, líder de preço neste ano, deve encostar na europeia Angus no quesito touros vendidos, ameaçando pela primeira vez o posto da britânica desde que o sindicato criou o acompanhamento, em 2010. “É um processo crescente e contínuo nos últimos cinco anos. Há uma clara redução do número de animais vendidos de Angus e Hereford, cujos preços também vêm numa curva descendente”, avalia o presidente Jarbas Knorr.
A busca frenética por gado sintético está relacionada também a uma necessidade específica dos gaúchos. O movimento começou há cinco anos e tem em sua raiz a mudança da base do gado de corte de cria no Estado. Por mais de dez anos, os pecuaristas usaram de forma mssiva touros de raças britânicas para padronizar o rebanho, na época azebuado e na contramão da demanda industrial por melhor qualidade de carne e lotes com mais cobertura de gordura. Com o maior número de gerações de cria de alta influencia europeia, o gado foi perdendo rusticidade e também resistência a parasitas, características que interferem diretamente na produtividade e nos custos da pecuária, sustenta o consultor Fernando Velloso. Segundo ele, o atual ciclo mira o equilíbrio, a eficiência em nível de campo e de mercado. “O que se busca são touros com melhor desempenho, que suportem o clima rigoroso, que se de senvolvam e ganhem peso mesmo em condições adversas de alimentação. É como se tivéssemos água quente e fria, para chegar ao ideal, agora estamos alibrando a água.”
A produção de gado adaptado ao ambiente é uma tecla que o professor do Departamento de Zootecnia da Ufrgs, José Piva Lobato, não se cansa de bater em dias de campo e seminários. Ele lembra que convivemos com verões bastante quentes, e campos com presença de carrapato. A única região livre do parasita é a de Santa Vitória do Palmar. Velloso lembra que as regiões com maior necessidade de sintético são as de campo nativo, com baixa oferta de pastagem de qualidade e criação extensiva. Já nas de intensa agricultura, eles se fazem menos imprescindíveis porque o gado europeu puro tem condições de alimentação melhor e há menor presença de ectoparasitas como a mosca-do-chifre, o carrapato e o berne. O setor é carente em estatísticas. De acordo com o diretor do Departamento de Defesa Animal da Seapa, Eraldo Marques, hoje não há como estratificar o rebanho bovino do Rio Grande do Sul para detectar o avanço ou recuo de raças. Assim, os principais indicadores de crescimento utilizado pelas associações são o número de registros genealógicos, de novos criatórios e a venda desêmen, que espelha sempreo futuro.
Sintéticos na Primavera
■ Média pico dos touros Braford: Reculuta e São Bento R$ 12.642,86
■ Média pico dos touros Brangus: Gap Genética: R$ 11.181,81. (O remate ainda teve média de categoria 3 anos de R$ 21.954,51 puxada pela venda de um de touro por R$ 112,5 mil.)
BRAFORD - O Independente
Reza a lenda que touro Braford come até casca de árvore na falta de algo melhor. Verdade ou não, estudos e avaliações a campo comprovam que a raça tem alta conversão alimentar e produz muito bem tanto em campos de alta qualidade, como em áreas bem menos pujantes, e ainda garante importante peso de carcaça, atrativos que seduziram o pecuarista José Amilton Moss Filho, de Guarapuava (PR). Depois de criar Charolês, Angus e Hereford, o empresário se fixou no Braford há cinco anos. Dentro do confinamento e com o calor típico da região, explica que a raça é a que melhores resultados apresentou. Prova do entusiasmo com o gado que “aguenta qualquer tirão”, ele tem mais de 700 fêmeas em produção. Paraná é um dos estados em que a Associação Brasileira de Criadores de Braford e Hereford (ABHB) está fomentando a raça além do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins. Goiás, Sul da Bahia e Pará. Segundo Diego Kassali, gerente de fomento ABHB, a ação está ligada ao programa de carne de qualidade.
Referência na criação de Braford, o pecuarista Pedro Monteiro Lopes, do grupo Pitangueira, não esconde o entusiasmo. Nesta semana, no estande Apex/ABHB na Feicorte, em Paragominas, Pará, classificou 2013 como a melhor da década para a raça, demanda no cruzamento com Nelore. “Sem dúvida, esse cruzamento veio para ficar, conquistamos confiabilidade, não foi fácil, mas está aí.”
O trabalho de expansão, classificado de corpo a corpo pelo presidente da ABHB, Fernando Lopa, inclui a apresentação de estudos como o desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria sobre a viabilidade de sistemas de recria e terminação de novilhos precoces Braford e seus reflexos na qualidade e em características da carne. Para Lopa, é todo um cenário que permite avançar mesmo no Estado, onde há boa distribuição da raça. Um exemplo de terras a galgar é a região Noroeste, onde há o pecuarista que planta, mas também o lavoureiro que cria gado, e esse perfil quer facilidades no manejo diário.
Além da adaptabilidade e eficiência, Lopa acrescenta que a Braford conseguiu agregar a mansidão do Hereford, o que interfere na qualidade da carne. “Carne de qualidade qualquer raça pode produzir, agora em escala industrial é outra coisa, e aí está a vantagem do sintético. O animal Braford se vira.”
Registros em alta
■ Em 2006, a raça Braford tinha a marca de8 mil registros anuais. Em 2013, a expectativa é de 30 mil registros. Do total de registros, cerca de 85% foram feitos no Rio Grande do Sul;
■ O número de criatórios no Brasil saltou de 70, em 2007, para 250 até outubro de 2013;
■ Em dez anos, foram produzidos 25 mil touros no Rio Grande do Sul;
■ Em 2012, a comercialização de sêmen no país chegou a 132.128 doses, uma evolução de 55,10% em relação a 2010, segundo a Asbia. O resultado garantiu a fatia de 1,78%
do total nacional;
■ Nos próximos cinco anos, a expectativa é ultrapassar 1 milhão de doses de sêmen vendidas.
Fonte: ABHB
BRANGUS - O flexível
São tempos de expansão também na raça Brangus que analisa o crescimento como sustentável e não quer nem ouvir falar em fase ou modismo como aconteceu no passado como,
por exemplo, o Limousin. O presidente da Associação Brasileira de Brangus (ABB), Raul Torrent, aponta um aliado de respeito ao projetar um futuro promissor a perder de vista: a agricultura. Pela tese desenvolvida por Torrent, com o crescimento da produção de grãos onde jamais se cogitaria plantar no passado, o gado esta sendo empurrado para áreas marginais, para dentro de matagais, para brejos e varzões, onde é preciso rusticidade a toda prova.
Nem a fama de “esquentatinho” que os touros da raça têm no mercado abala a convicção do pecuarista. “É verdade que os animais têm mais temperamento que o Braford, mas tudo é manejo correto, apartar os touros a pé, sem grito, sem cachorros. Eu acho que o futuro pertence ao Brangus pela sua adaptabilidade ao meio e às condições. Somente nesta semana recebemos o pedido de registro de 800 fêmeas no Mato Grosso.”
Torrent acredita que a mina do ouro está no Brasil Central já que nos campos do Rio Grande do Sul existe uma diferenciação que é a qualidade de pastagem. Ainda assim, avalia,
que há muito espaço para preencher em âmbito estadual. Prova está no desempenho da raça nesta primavera. Números provisórios sobre a temporada indicam crescimento (ver boxe), fruto de valores mais altos e de mais animais vendidos em relação ao ano passado. “A questão está no desenvolvimento potencial onde não há condições ideais, estamos crescendo e vamos continuar crescendo”, aposta Torrent.
O crescimento em números
■ Entre janeiro e setembro, foram feitos 10 mil registros, o que representa o aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano passado;
■ Em 2012, a comercialização de sêmen no país chegou a 112.092 doses, alta de 120,54% em relação a 2010, segundo a Asbia. O resultado garantiu a fatia de 1,51% do total nacional;
■ A receita com a venda de animais nesta Primavera cresceu entre 16% e 20% em relação a temporada passada;
■ O resultado garantiu a fatia de 1,78% do total nacional.
Fonte: Caderno Correio do Povo Rural
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