segunda-feira, 3 de julho de 2017

Começa na segunda-feira liberação de R$ 190,25 bi para financiamento da safra


Recursos do governo federal se destinam às operações de custeio, comercialização e investimento
O agricultor brasileiro poderá contar a partir de segunda-feira (3) com recursos para financiar a próxima safra agrícola. São R$ 190,25 bilhões destinados pelo governo federal a operações de custeio, comercialização e investimento, por meio do Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018. A expectativa é que mais uma vez o setor do agronegócio contribua para impulsionar a economia do país, com uma colheita que poderá superar 240 milhões de toneladas de grãos
“Mesmo num cenário de dificuldade, o governo reduziu os juros de algumas linhas de crédito para permitir que os agricultores tenham safras capazes de garantir a segurança alimentar do brasileiro e excedentes exportáveis para gerar divisas”, ressalta o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento, Neri Geller, acrescentando que o cenário é bastante otimista para a próxima temporada agrícola.
“Programas como PCA (Programa de Construção e Ampliação de Armazéns), que reduziu os juros a 6,5% ao ano, vão alavancar a retomada dos investimentos em armazenagem. Isso ajudará a amenizar ou resolver o problema de logística e dará condições ao nosso produtor para continuar avançando forte no aumento da produção agrícola no país”, enfatiza Geller.
O secretário acredita que o produtor vai, mais uma vez, mostrar firmeza e disposição para fortalecer a atividade agrícola. “E nós, do governo, estamos fazendo nossa parte para dar sustentação tanto do ponto de vista de crédito quanto da ampliação do recurso e da garantia de preço mínimo.” Segundo ele, o apoio ao setor é fundamental porque o agronegócio representa quase metade das exportações e por cerca de 21% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Do montante anunciado em 7 de junho último pelo presidente Michel Temer e pelo ministro Blairo Maggi, durante solenidade no Palácio do Planalto, R$ 550 milhões são do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) e R$ 1,4 bilhão para apoio à comercialização.
Juros
O Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018 reduziu em um ponto percentual ao ano as taxas de juros das linhas de custeio e de investimento e, de dois pontos percentuais ao ano, às dos programas voltados à armazenagem e à inovação tecnológica na agricultura.
No crédito de custeio e de investimento, os juros caíram de 8,5% ao ano e 9,5% ao ano para 7,5% e 8,5%, à exceção do PCA e do Inovagro, nos quais a taxa foi fixada em 6,5% ao ano.
Crédito
O volume de crédito para custeio e comercialização é de R$ 150,25 bilhões, sendo R$ 116,25 bilhões com juros controlados e R$ 34 bilhões com juros livres. O montante para investimento saltou de R$ 34,05 bilhões para R$ 38,15 bilhões, com aumento de 12%.
FONTE: MAPA

Bill Bullard: "A JBS manipula o mercado nos Estados Unidos"

Bill Bullard, CEO da R-Calf USA, grupo de pecuaristas norte- americanos que pede investigação das operações da JBS nos Estados Unidos (Foto: Divulgação/R-Calf USA)

Foto: Divulgação/Assessoria
Afirmação é de executivo de associação de pecuaristas norte-americanos, que quer investigação completa sobre as atividades da empresa no país
“Se as acusações estiverem corretas, então a JBS zombou das leis dos Estados Unidos. Se construiu seu império utilizando meios ilegais, ele deve ser alienado”. As afirmações estão em uma carta de uma associação de criadores de gado, criticando autoridades e questionando o crescimento operações da empresa no país.
Quem assina embaixo é Bill Bullard, executivo-chefe da R-Calf, com sede em Montana e que, segundo seu site oficial, diz ser “dedicada a assegurar a rentabilidade” dos criadores independentes do país.
Datado de 6 de junho, o documento foi endereçado ao presidente Donald Trump, ao chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Sonny Perdue, ao chefe do Comitê Judiciário do Senado, Charles Grassley, e ao Procurador geral Jeff Sessions. Pede uma “investigação completa” da JBS, em função das acusações de corrupção.
No documento de 11 páginas, ele diz que reguladores do país foram indiferentes às “aquisições agressivas” feitas pela empresa ao longo dos anos. Acusa também a JBS de exercer um poder abusivo de mercado. A reportagem entrou em contato com a JBS USA, presidida pelo brasileiro André Nogueira, questionando sobre o conteúdo da carta, mas a empresa não comentou.
Globo Rural conversou com o executivo da R-Calf USA em duas ocasiões. Entre uma e outra, a JBS anunciou um programa de venda de ativos de R$ 6 bilhões, incluindo a Five Rivers Cattle Feeding, sua divisão de confinamentos de gado no território norte-americano. “É uma notícia bem vinda”, diz Bullard.
Até então, ainda não havia sido feito o anúncio da suspensão das importações de carne bovina in natura do Brasil pelos Estados Unidos que, em nota, a entidade comemorou.
Na entrevista, o representante da associação de pecuaristas reafirma o conteúdo da carta enviada às autoridades de seu país. E diz que as investigações realizadas no Brasil trazem “evidências que sustentam nossas preocupações”. Por esse motivo, acredita que seu pedido será atendido pelo governo dos Estados Unidos.
Globo Rural – Como você define as práticas da JBS no mercado norte-americano?
Bill Bullard – A JBS, junto com outras empresas, controla o acesso ao mercado para os pecuaristas americanos. Sozinha, ela controla em torno de 24% do mercado, o que lhe dá um tremendo poder de compra e que utiliza para baixar os preços pagos pelo gado aos criadores de gado americanos. Em 2015, nós vimos os preços de gado caírem rápido como em nenhum outro momento da história. Criadores de gado perderam algo como US$ 500 por cabeça.
GR – Na sua carta, você afirma que houve manipulação do mercado e menciona uma forte queda de preços em 2015 e 2016. Foi apenas nesse período ou houve algum outro?
Bullard - Eu não sei a extensão total dos danos, mas acreditamos que a JBS, com outras indústrias, vinham suprimindo preços de gado durante anos nos Estados Unidos. E faziam isso de duas maneiras. Número um: importar gado vivo de países como México e do Canadá e carne de outros lugares para reduzir a demanda pelo gado norte-americano. Outra coisa que faziam era manter um grande volume de gado compromissado para não precisar entrar no mercado. Quando os preços estão mais altos, a JBS abate seu próprio gado e quando estão mais baixos, aí sim a JBS pode ir ao mercado e comprar dos pecuaristas americanos. É assim que manipulam os preços.
GR – Você afirma na sua carta que as autoridades dos Estados Unidos não fizeram o necessário para evitar o crescimento da JBS. Por que isso aconteceu, na sua opinião?
Bullard – Infelizmente, os reguladores demonstraram uma indiferença às violações de leis antitruste nos Estados Unidos. A JBS estava em um processo de obter um monopólio no mercado e deveria ter sido freada, mas não foi.
GR – Pode ser mais fácil dizer isso agora, mas você acredita ser possível ter havido corrupção aí nos Estados Unidos?
Bullard – Ficaríamos muito surpresos se uma empresa como a JBS, que usa de propina como ferramenta de negócios, não houver tentado usar de meio semelhante para influenciar políticas nos Estados Unidos. Por isso pedimos a investigação.
GR – Você já recebeu alguma reposta das autoridades sobre a investigação?
Bullard – Apenas a confirmação de que receberam a nossa requisição.
GR – O que faz você acreditar que dessa vez haverá uma investigação depois de tanta, como você diz, indiferença?
Bullard – Por causa das ações que têm sido feitas pelas autoridades brasileiras. Agora temos evidências para apoiar nossas preocupações com condutas inapropriadas.
GR – Na sua carta, você defende compensações a pecuaristas e consumidores. Que tipo de compensação?
Bullard – Estamos falando de compensação monetária. Porque acreditamos que as práticas da empresa levaram a preços depreciados pagos aos pecuaristas e ao aumento dos preços que os consumidores pagaram pela carne. É uma conduta inapropriada, que incluiu exploração do produtor de um lado e do consumidor no outro. Se isso for considerado verdadeiro depois da investigação, a JBS deve ressarcir produtores e consumidores.
GR – Aqui no Brasil, fala-se sobre a JBS não ser mais tão grande quanto antes. Acredita que isso pode acontecer também aí nos Estados Unidos?
Bullard – Sim. É uma parte do nosso requerimento. Nossa posição é: se for identificado que a JBS adquiriu ativos por meios ilegais, esses ativos devem ser alienados e ela deve ser forçada a vendê-los.
GR – A JBS anunciou um programa de desinvestimentos que inclui alienar os ativos da Five Rivers. O que você achou dessa decisão?
Bullard – É uma notícia bem vinda. Ficamos satisfeitos que eles estão deixando seus ativos de confinamento. Nossa posição é a de que a indústria de carne deve ser indústria de carne e os confinamentos devem ser confinamentos. Indústrias de carne não deveriam ter confinamentos porque isso lhes dá um poder de manipular os preços do gado. Estamos muito satisfeitos que a JBS está colocando confinamento à venda e esperamos que nenhuma outra grande indústria seja o comprador da Five Rivers, que o comprador seja completamente independente.

Fonte: Globo Rural