quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Estudo da Farsul aponta mudanças no mercado internacional de carne bovina


A Farsul divulgou nesta terça-feira o mapeamento das exportações brasileiras de carne bovina entre 2006 e 2016. O estudo traça um panorama do mercado mundial de carne e das mudanças pelas quais o setor passou durante o período no Brasil. Segundo o presidente do Sistema Farsul, Carlos Sperotto, entender o movimento da última década é fundamental em um momento de mudanças geopolíticas, em função das primeiras ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.


- Vivemos um momento em que existe a abertura de um espaço para um posicionamento do Brasil em relação às exportações de carne. Com o recuo dos Estados Unidos em participar do Acordo de Associação Transpacífico, existe um recuo na ameaça que o país representava para  a inserção do Brasil no mercado asiático. Esse é um momento de buscar um posicionamento com o setor para aproveitar as janelas de oportunidades que se abrem – afirma Sperotto.


É justamente no continente asiático que está o maior potencial para a carne brasileira, em um movimento que vem sendo consolidado nos últimos dez anos. Segundo economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, os chineses já são os maiores compradores de carne brasileira e devem se consolidar como os maiores importadores de carne do mundo, até 2018. No período analisado pelo estudo, houve um crescimento de 778% no valor de carne bovina exportada pelo país para o continente asiático. O volume cresceu 299%.


O Oriente Médio desponta como outra região em crescimento. O valor de carne brasileira exportada para a região cresceu 101% em dez anos, com uma valorização de 78% no preço do produto comercializado. Na América Latina e o Caribe o valor aumentado cresceu 337% enquanto o volume teve aumento de 136%.


- O estudo nos mostra que precisamos estar mais abertos ao mercado mundial, principalmente aos mercados emergentes. Passamos muito tempo com o foco exclusivo na União Europeia e no Leste Europeu, e o que o estudo revela é que essas regiões não concentram o melhor potencial no momento – avalia o economista.


Segundo o mapeamento, apresentado por Renan dos Santos, analista de relações internacionais, o valor das exportações para a União Europeia caiu 51%, apesar do aumento de 79% no preço. O Leste Europeu também apresentou desaquecimento, com queda de 47% no valor e 59% no volume de carne exportada. O movimento está em sintonia com um decréscimo mundial da participação da União Europeia na importação de carne, que caiu pela metade desde 2006.


Nos mercados emergentes, um dos aspectos que chama a atenção é a mudança no perfil do produto, que passou a priorizar carne in natura em detrimento de miúdos e carne industrializada. A expectativa é que haja um contínuo crescimento de comércio com a Ásia, já que, apesar do aumento observado nos últimos dez anos, o consumo de carne per capita no continente ainda é baixo em relação à média mundial. Na China, o consumo é de 3,5 kg de carne bovina por habitante, em contraste com os 45 kg de consumo per capita no Rio Grande do Sul. No entanto, da Luz ressalta que para aproveitar essas oportunidades, é importante que o país tenha um papel mais ativo na política de aproximação desses mercados:


- Temos que ter uma posição mais firme em diversas áreas, como a exposição de nossos produtos, mas principalmente em relação ao Mercosul, que representa um entrave ao impedir a realização de acordos bilaterais. É muito difícil celebrar um acordo com o qual todos os países do bloco concordem, por isso a presença no bloco impede o aproveitamento de todo o potencial desses novos mercados. Precisamos buscar acordos com países de perfil semelhante ao Brasil, e o Mercosul é um impedimento para que isso aconteça. – alerta o economista.


Fonte: Sistema Farsul

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O fim da vacinação contra a aftosa é uma questão de tempo

Líderes do segmento privado do Brasil, Bolívia e Paraguai reuniram-se em MS

“A decisão de que a vacina contra a aftosa deixe de ser obrigatória já está tomada. Resta saber quando e como isso vai ser feito”. Essa afirmação foi feita em Campo Grande, na última terça-feira, por Décio  Coutinho, consultor em Defesa Agropecuária da CNA - Confederação da Agricultura, Pecuária do Brasil.
Em sigilo absoluto, (a imprensa não foi convidada a participar, mas o Correio Rural esteve presente) foi realizada na Capital, na sede da Famasul, uma reunião do setor privado do Brasil, da Bolívia e do Paraguai, coordenado pelo Grupo Interamericano de Erradicação da Febre Aftosa. O presidente do Giefa, Sebastião Costa Guedes, que é vice-presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, presidiu os trabalhos.
Um dos temas mais importantes na pauta foi justamente o controle da febre aftosa no status “sem vacinação”. E conforme explicou Décio Coutinho em entrevista exclusiva ao Correio Rural, esse grupo vem trabalhando há vários anos inicialmente no programa de controle e depois de erradicação da febre aftosa nas Américas. “É a inter-relação do setor privado desses países no sentido de apoiar os programas de erradicação da aftosa, e que o trabalho seja desenvolvido de forma concomitante para que possa atingir o mesmo status de livre de febre aftosa sem vacinação dentro da mesma temporalidade”, afirmou, destacando ser esse o principal objetivo da reunião.
Questionado de como seria hoje a situação da zoonose na América, Décio disse ser tranquila. “Nas três Américas falta hoje o reconhecimento de área livre com vacinação apenas no Estado do Amazonas, o Estado de Roraima, o Estado do Amapá, e na Venezuela. Somente isso, para que a América seja reconhecida como o primeiro continente no mundo a estar livre de febre aftosa, com vacinação”.
Correio Rural questionou então sobre o quadro no Brasil. Segundo o consultor da CNA, o Brasil já decidiu retirar a vacina. “Mas precisamos saber quando e como poderemos fazer isso. Nesse momento, o setor produtivo, junto com a CNA, a ABCZ e o Sindam, que é o sindicato das indústrias de produtos veterinários, financiaram um estudo que está sendo feito pela USP e que vai subsidiar o Ministério da Agricultura na formulação e apresentação de projeto para ser discutido nas 27 unidades da Federação, com uma proposta para a retirada da vacinação. 
Como a condição de livre de aftosa sem vacinação vai exigir mais recursos do Estado para a continuidade do controle e fiscalização pelos órgãos sanitários, demonstração inclusive já manifestada ao Correio Rural por diretores da Iagro, foi perguntado ao representante da CNA como ele via essa questão: “Vejo essa preocupação como verdadeira, a mudança de status exigirá também uma mudança de estratégia governamental. Na condição atual, de livre de aftosa com vacinação, 99% da responsabilidade é do setor privado, pois é ele que fabrica a vacina, ele que distribui a vacina, é ele que vende, que compra a vacina, é ele que aplica a vacina, ele que comunica a vacinação e mantém o cadastramento das propriedades e mantém o cadastro do rebanho. Mas no momento em que isso sai da condição de livre com vacinação para livre sem vacinação, o que teremos que ter é um aumento do sistema de vigilância e de certificação, e isso é papel dos Estados.  Por isso, esses depoimentos que você ouviu do setor público são verdadeiros”, lembrou  Décio Coutinho.
  
JOGANDO DINHEIRO FORA  
Correio Rural também ouviu no intervalo da reunião da última terça-feira o presidente do Grupo Interamericano de Erradicação da Febre Aftosa, Sebastião Guedes. Ele manifestou algumas posições diferentes àquelas declaradas por Décio Coutinho. Foi mais enfático ao afirmar, por exemplo, que os produtores estão “jogando R$ 600 milhões fora ao vacinar seus rebanhos”. 
“Acho que a disposição de deixar de vacinar é natural. Em muitas regiões do País estamos jogando dinheiro fora. Não existem razões epidemiológicas para continuarmos com isso. E temos duas opções para retirarmos a vacinação: ou por faixas etárias do rebanho ou por questões geográficas. Agora, não é possível que países que começaram a erradicar a febre aftosa 20 ou 30 anos depois de nós, hoje já são 98% livres sem vacinação - e digo o nome, o Peru com estrutura fundiária muito mais complicada com muitas pequenas propriedades, nas montanhas dos Andes - e tem sucesso. Nós precisamos iniciar um processo de retirada da vacina. Se Santa Catarina retirou a vacinação no ano 2000 e até hoje não teve problemas, isso prova que retirar a vacinação é perfeitamente possível e factível”, afirmou Sebastião Guedes, do CNPC.
Prosseguiu destacando que “no Brasil, atualmente, existem pelo menos 92 milhões de cabeças de gado em estados que há mais de 20 anos não registram casos de febre aftosa. E continuamos vacinando nessas regiões. Temos que avaliar criticamente tudo isso”, enfatizou. E prosseguiu lembrando que, “nós do setor privado, fizemos um grande evento em novembro  de 2015, envolvendo todas as entidades privadas do setor. E chegou-se a uma posição  de que é perfeitamente viável iniciar, este ano, a retiradada da vacinação. Podemos começar pelos estados do Rio de Janeiro, Espirito Santo e vai até o Maranhão. Depois nos estados do Pará, Tocantins, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, em 2018. E em 2019/2020 iniciamos com os estados do Amapa, Roraima, Amazonas, Acre, Rondonia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul. Basta iniciarmos. Considero um absurdo transferirmos R$ 600 milhões do bolso do produtor rural para um segmento industrial que fica comodamente sentado em cima de uma obrigatoriedade da vacinação, que é uma prática que agora nem sempre ocorre. Todos compram a vacina mas muitos produtores já nem têm motivação para vacinar”, denuncia.
A NECESSIDADE DE MAIS RECURSOS
E quando questionado sobre a posição do setor de fiscalização e controle de que será necessário muito mais recursos para o trabalho de controle após a desobrigatoriedade da vacinação, Sebastião Guedes simplifica dizendo: “Acho isso um pouco de fantasia, mas se as autoridades sanitárias e os produtores de Mato Grosso do Sul pensam assim, que continuem vacinando então, e outros estados deixam de vacinar”, afirmou. E narrou outra situação semelhante: “Outro dia esse problema foi abordado em uma reunião da Câmara Setorial, quando um Estado manifestou o desejo de não parar de vacinar. Eu coloquei então que se o Estado tem um nível de conhecimento do criador mais atrasado, e não valoriza o sistema de epidemiologia, meu ilustre e querido colega, continuem vacinando. São características regionais”, afirmou. Questionando se seria Mato Grosso do Sul este Estado, Guedes afirmou que não. E prosseguiu dizendo que era um Estado em que há um ou dois anos houve uma apreensão em terrenos baldios e dentro de um rio de sacos de frascos de vacina cheios, sem uso, que os produtores descartaram, pois não têm mais interesse em vacinar”.
Com relação à posição de representantes do setor público da área de controle sanitário sobre a necessidade de mais recursos para a fiscalização, se posicionou garantindo que com o fim da vacinação contra a aftosa nada vai ser tão diferente. “Temos tantas outras doenças para cuidar, brucelose, raiva bovina, as famosas cloristidioses. Vivemos numa época que temos que ser realistas. Para que serve a epidemiologia afinal? Se formos pensar assim vamos voltar a vacinar no Chile, no Peru, nas Guianas”, conclui em tom irônico.
fonte: Correio Rural

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Consumo per capita de carne bovina recuou para o menor nível em 15 anos


Afetado pela combinação negativa entre a escassez de gado bovino para abate e a deterioração da renda, especialmente em 2016, o consumo per capita de carne bovina no país recuou para o menor patamar em 15 anos.
Dados preliminares da MB Agro – braço agrícola da consultoria MB Associados – compilados a partir dos abates inspecionados de bovinos apontam que o consumo per capita atingiu 30,7 quilos de carne bovina em 2016, redução de 1,9% na comparação anual. Trata-se do menor nível desde 2001.
Dependendo dos critérios de cálculo, a queda pode ser maior. A consultoria Agroconsult, por exemplo, inclui estimativas de abate sem inspeção sanitária – atividade que diminuiu nos últimos anos, mas que ainda é significativa. Considerando essa metodologia, a disponibilidade per capita de carne no país recuou 6,6%, para 36,8 quilos ao ano.
No entanto, embora os sinais de retomada da economia ainda sejam tímidos, a recomposição do rebanho nacional e o consequente crescimento dos abates será suficiente para estancar a queda do consumo – que completou três anos seguidos – e iniciar uma trajetória de recuperação.
“Estamos com estoque grande de animais, e provavelmente vamos ter aumento significativo dos abates”, afirmou o coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Nogueira. Conforme projeções da consultoria, a produção de carne bovina no país crescerá de 7% a 11% em 2017.
Com mais carne bovina disponível, a expectativa de Nogueira é de que o consumo no país reaja, sobretudo porque nem toda produção adicional será exportada.
A avaliação é corroborada pelo analista do Rabobank Adolfo Fontes. Embora menos otimista que a Agroconsult, o banco também prevê incremento da produção de carne bovina. De acordo com Fontes, o crescimento deve ficar próximo a 3%, o que adicionará entre 250 mil toneladas e 300 mil toneladas de carne bovina à produção.
Se as exportações não forem capazes de enxugar a oferta adicional, o consumo doméstico pode ser estimulado, concordou Fontes, que trabalha com a expectativa de queda dos preços do boi. “Com o aumento de oferta de boi gordo, a tendência é cair o preço da arroba e isso chegar no varejo”, afirmou, destacando que o preço do animal já dá sinais de enfraquecimento.
Independentemente das exportações, a expectativa do analista do Rabobank é que o consumo de carne no Brasil cresça devido à esperada retomada da economia. O banco holandês estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescerá de 0,5% a 1% neste ano. Ainda que pequeno na comparação com a forte retração da economia nos últimos dois anos, é suficiente para influenciar a demanda. Segundo Fontes, a correlação entre o PIB per capita e o consumo de carne bovina no país é forte, de 77,5%.
O analista César Castro Alves, da MB Agro, acredita em um “pequeno” aumento do consumo no país. Segundo ele, a tendência de queda dos preços das “concorrentes” carnes de frango e suína – que subiram em 2016 devido à disparada das cotações do milho e também amargaram queda no consumo – é um obstáculo para um aumento consistente da demanda por carne bovina.
Para o consumo de carne bovina “decolar”, o crescimento da oferta de boi no país teria de ser maior do que o inicialmente esperado, afirmou Alves. A MBAgro estima que a produção de carne bovina no Brasil crescerá 3% em 2017. Segundo ele, o aumento da oferta de boi gordo será substancial só a partir do segundo semestre de 2018. Portanto, a queda nos preços para estimular o consumo deve levar mais algum tempo.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.