Rogério Goulart
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Semana passada o mercado físico estava trabalhando com uma arroba ao redor de 101 reais à vista, livre de impostos em São Paulo.
E o contrato de maio apostava que a arroba iria cair para 99 reais também à vista, livre de impostos. Hoje a arroba no mercado físico está 99 reais e o contrato de maio renovou a aposta de baixa e diz agora que ela cairá para 97 reais.
Considere que os 99 reais de hoje, e entre 97 e 101, é praticamente o mesmo preço.
Então, devemos perguntar o seguinte: estarei vendendo boi na entressafra pelo mesmo preço de hoje? Essa é a pergunta mais importante, de longe, que devemos refletir essa semana.
Nem vou falar dos fundamentos de mercado. Vamos simplesmente dar uma olhada para o que realmente ocorreu nos últimos 16 anos.
Em primeiro lugar temos a variação do preço da arroba da safra para a entressafra. Hoje a perspectiva é de uma alta de 4% de agora até lá. Preste atenção nesse número, pois ele é ruim.
O mercado está esperando um 2011 mais fraco que a mais fraca entressafra da pecuária, que foi em 2009, quando a arroba subiu 8% da safra para a entressafra.
Guarde essa informação que usaremos ela novamente daqui a pouco.
Mesmo assim, nem tudo é coisa ruim. Independente do mercado estar caindo agora, lembre-se que na safra do ano passado a arroba valia 72 reais. Com o contrato de maio valendo R$ 98,90 nessa sexta-feira, isso equivale a uma alta de 37% do ano passado até agora. É a mesma alta que ocorreu na safra de 2008, a maior da história, quando ela saiu de 50 reais em 2007 para 70 reais.
Então, a firmeza dos preços, a alta da arroba que começamos a ver no segundo semestre do ano passado ainda não acabou para a pecuária. A coisa ainda está atingindo a safra.
Lembre-se, repito, que esses valores não estão sujeitos à interpretação. Eles são história, o que realmente ocorreu. Somente 2011 ainda não, pois contamos com os contratos futuros, que oscilam, e todo esse texto de hoje trata da oscilação dos preços dos contratos futuros e a visão desse mercado para horizonte próximo.
Pois bem, então sabemos que o mercado subiu forte no ano passado e está demonstrando que irá subir forte também nessa safra. Mas daí adiante os contratos mudam completamente de atitude. Mudam completamente de humor.
Esperam preços 12% abaixo nessa entressafra em relação ao ano passado. Em outras palavras, os preços estão sendo cotados como se estivéssemos em um ano de crise, como foi 2009, ou nas fases de baixa do ciclo pecuário, como foram 1995 ou 2005.
Daí pergunto. Estamos em 2011 em um ano de crise? Estamos na fase de baixa do ciclo pecuário?
Bom, não sei qual a sua opinião, mas a humilde impressão que passa olhando e andando nesse país afora é que o Brasil não está em crise em 2011.
Também não estamos na fase de baixa do ciclo pecuário, pois o preço do bezerro voltou a subir e o abate de fêmeas ainda não aumentou o suficiente.
Mas vamos nos manter aos números de deixar as opiniões para uma conversa de buteco ou para o twitter.
Com a queda atual da arroba a conta já está em –3% indo para –4%.
Com os 98,90 reais dessa sexta-feira do contrato de maio isso daí levaria essa força do movimento para um índice ao redor de –5%.
Entendeu? O maio estaria sinalizando o fundo do poço dentro dessa linha de raciocínio.
Abaixo disso? Bom, abaixo disso a arroba teria que cair para R$ 94,00 para esse índice chegar em –10%.
“Ah, Rogério, mas por que você não disse esse tipo de coisa semana passada?” Ora, caro leitor, porque semana passada o mercado ainda não estava próximo desses números que estou falando hoje. Esses números são gatilhos, entenda bem, são fronteiras de preço que tendem a ser respeitadas. Não adianta nada antecipar essas coisas. Temos que esperar elas acontecerem para tomarmos partido.
Então, se maio está, tecnicamente, próximo de algo que supostamente seria um suporte nos preços, o que dizer do outubro? O outubro, como dissemos no início, está dizendo que essa será a pior entressafra da história. Estaria o outubro também próximos a algo que poderia ser um piso? Não vou estender o texto mais do que já está, mas a resposta seria sim.
Mas qual o potencial? Lembra-se da frase: “O teto do boi é o bezerro”? Sempre falo isso nas minhas palestras.
Isso quer dizer que se tem um lugar que você pode olhar que seria o potencial altista da arroba é olhar para a arroba do bezerro. O movimento da arroba do bezerro tem sido fascinante nesses últimos meses.
O bezerro hoje vale ao redor de 130 reais por arroba, com uma média de 125 reais. O boi vale hoje 101 reais, com uma média de 103 reais.
Deixe-me te dar uns números históricos da pecuária para você ir meditando durante a semana.
O valor médio histórico do bezerro corrigido pela inflação é de 750 reais. Hoje ele vale 780 reais. Ou seja, o bezerro está em linha com o restante das commodities e está corrigindo sua defasagem histórica das últimas décadas.
E o boi? O valor médio histórico da arroba do boi é de 150 reais. Hoje ela vale 101 reais. Hmm, parece que o boi tem que caminhar mais um pouco ainda nos próximos anos.
Com todo o resto do mercado batendo o tambor, soa estranho o boi, pelo menos no mercado futuro, estar tocando clarinete. O que me leva à seguinte pergunta, mudando de metáfora:
Que cheiro é esse? Você está sentindo? Humm, parece cheiro de distorção, não?
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Fonte: Carta Pecuária