SÃO PAULO - A exportação de boi em pé no Brasil cresceu, em seis anos, 24.000%. De acordo com o departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA), o País deve avançar, em 2010, mais 20%, enquanto a taxa mundial de crescimento por ano varia entre 3% e 4%. Segundo Alex Santos Lopes da Silva, analista de mercado da Scot Consultoria, se este ritmo se mantiver por mais cinco anos, além de o Brasil ser o primeiro no ranking mundial de carne in natura, também pode liderar o de boi vivo. O Brasil ocupa hoje o quarto lugar, depois do líder Canadá, seguido do México e da Austrália.
O Pará é o maior estado produtor, seguido pelo Rio Grande do Sul. Juntas, as duas regiões respondem por 98% das negociações do setor no mercado externo. "Começamos em 2003 exportando duas mil cabeças, hoje são 518 mil", diz Silva.
De acordo com números da Scot, no ano passado, o faturamento do setor no Brasil foi de US$ 419,5 milhões ante os US$ 740,2 mil de 2003.
A estimativa positiva da USDA, segundo Silva, se deve a sinalização da Venezuela: somente em janeiro, os venezuelanos adquiriram 35% a mais do que no mesmo período em 2009. O analista afirma ainda que mesmo com a desvalorização do dólar, o que encarece o produto brasileiro no mercado externo, as exportações de bois vivos em janeiro, se comparado ao mesmo período de 2009, recuou 1%, enquanto o faturamento cresceu 18%.
O Líbano - que prefere fazer o abate religioso em seu território, o halal, de acordo com os rituais islâmicos - importa do Brasil desde 2003. No entanto, de acordo com levantamento da Scot, a Venezuela, que começou a negociar com o País apenas em 2007, importou em três anos 139, 5 mil cabeças a mais do que os libaneses. "A política de tabelamento do preço interno na Venezuela, em 2007, desestimulou a produção local, acarretando em aumento de importação", diz Silva.
De acordo com o analista, o estudo da USDA aponta que os números de exportação do Canadá devem se manter estáveis em 2010, em torno de 1,2 milhão de cabeças. Já o México pode avançar este ano além da taxa mundial de crescimento (8%). Em 2009, os mexicanos exportaram 925 mil cabeças. A Austrália também se estabilizará na casa dos 910 mil animais vivos vendidos.
Para Ricardo Merola, pecuarista e presidente da Associação Nacional de Confinadores (Assocon), o crescimento das exportações de boi em pé está beneficiando os produtores do norte, Pará e Tocantins que vendiam gado abaixo do preço de mercado. "Vem em boa hora. O excesso de oferta permitia que os frigoríficos pagassem pouco", comenta.
Até o ano retrasado, ainda segundo o pecuarista, o Brasil comercializava apenas boi gordo, de aproximadamente 450 quilos. Hoje, a tendência é ganhar mercado externo com o gado de 300 quilos (ou 10 arrobas).
"O Oriente e a América Central tiveram problemas com rebanho e para repor estoque devem comprar gado magro." De acordo com o analista, Tocantins começou a exportar em 2009.
Silva disse que o Pará tem a vantagem também de contar com condições geográficas favoráveis que facilitam a comercialização, além de um custo de produção menor.
Segundo o analista, as chances de o Brasil ampliar ainda mais o leque de países compradores e seguir rumo ao topo do ranking mundial também depende da não sobrevalorização do real. "Uma cotação ideal seria o dólar entre R$ 1,90 e R$ 1,95", estima.
Para Merola e Silva, o avanço das exportações de animais vivos não compromete o setor de carne in natura. "O vivo responde por 1% do montante abatido", afirma o analista.
De acordo com o pecuarista, o crescimento de mercado externo para o País vai ocorrer até que os preços estejam equilibrados, ou seja, se um subir o outro tende a cair . "A disputa seria semelhante a do álcool com a gasolina em relação aos carros bicombustíveis", compara Merola.
Em 2009, o Brasil também exportou para o Egito um total de 8.208 cabeças, e para Angola, em 2008 e no ano passado, 120 bois em pé. Em anos anteriores, o Uruguai, em 2003, o Paraguai, em 2004 e 2005, e a Bolívia, em 2007 e 2008 também importaram do País um total de 1.701 bois em pé.
FONTE
www.dci.com.br