A reunião desta sexta-feira, 12, tem um componente de tensão: o desgaste público da Casa Rosada com a inflação. Nos últimos dias, o preço da carne tem ocupado as manchetes principais da imprensa local. Além dos empresários, Moreno se reúne, também nes ta sexta-feira, com Cristina Kirchner e os ministros Amado Boudou (Economia), Débora Giorgi (Indústria) e Julián Domínguez (Agricultura). "Esperamos o pior destas reuniões porque a metodologia aplicada por este governo para enfrentar a inflação é apertar os exportadores e intervir nos mercados", confessou à AE um diretor de um frigorífico estrangeiro instalado no País, que pede para não ser identificado.
O executivo relata que, desde dezembro, a ordem de Moreno é de permitir os embarques somente dos cortes destinados à Europa, que fazem parte da Cota Hilton, miúdos e carne processada. "Os cortes nobres não são os preferidos dos argentinos, e os outros dois são absolutamente descartáveis pelos consumidores locais", detalha a fonte. O artesão Pablo Rocha, de 47 anos, que vive na periferia de Buenos Aires e tem a carne como uns dos principais produtos do cardápio, discorda do executivo. Ele diz que o argentino consome os cortes mais baratos porque não pode pagar os que custam mais caro e são exportados para a Europa, como o filé (lomo), contrafilé (bife-angosto), ponta do contrafilé (bife ancho), picanha (tapa de cuadril) e a alcatra (cuadril).
"Nós não compramos filé porque nos vendem aqui a preços altíssimos, como se fossem em euros ou dólares. Mas a gente ganha em pesos e gasta em pesos", reclamou Rocha, um típico argentino que prepara churrasco (asado) para o jantar da família, pelo menos três vezes por semana. Contudo, o alvo do secretário Moreno é o de garantir preços mais baixos dos cortes populares. Na reunião de hoje, Moreno vai anunciar aos frigoríficos o aumento dos subsídios aos criadores de gado confinado em feedlots (currais fechados) para que eles aumentem a oferta das "promoções" semanais de carne que os supermercados realizam há seis meses.
Algumas das maiores redes de supermercados fizeram um acordo com o governo para vender os cortes populares por um preço de 6,99 pesos (R$ 3,40) o quilo. Pelo acordo, o frigorífico oferece ao comércio local a carne com o preço fixado pelo governo e em volume suficiente para atender à demanda. Em troca, o frigorífico "ganha" a licença de exportação dos cortes nobres para a Europa. Quem não entrega o volume acertado com Moreno recebe o sinal vermelho do Registro de Operações de Exportações (ROE), controlado pela Oficina Nacional de Controle Comercial Agropecuário (Oncca). Nesse cenário, segundo a fonte, somente 30% dos frigoríficos estão exportando seus produtos.
Na Oncca, o procedimento é desmentido e os assessores argumentam que "estão exportando todos os frigoríficos que cumprem as normas de exportação". O problema é que os produtores afirmam não ter animais para atender à demanda argentina e que a situação é reflexo da política agropecuária equivocada do governo, como afirmou à AE, ontem, o presidente o Instituto de Promoção da Carne Bovina, Miguel Schiaritti. Cristina, por sua vez, acusa os pecuaristas de esconder o gado para forçar uma alta dos preços. "Nunca estiveram lucrando tanto como agora", acusou a presidente durante um discurso na última quarta-feira.
A assessoria de imprensa do Ministério de Agricultura desmentiu a adoção de medidas para fechar totalmente as exportações. O sub-secretário de Pecuária, Alejandro Lotti, disse ao jornal La Nación que "não haverá medidas que atentem contra as exportações de carne, nem fecharão os embarques".
FONTE economia.estadao.com.br
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