Para analista, operação serviu para expor as falhas do sistema de controle de qualidade de carne do Brasil, que ainda precisa ser melhorado
Alisson Freitas
Ampliar fotoCarne Fraca chacoalhou o setor em 2017
No dia 17 de março de 2017 o agronegócio brasileiro sofreu o primeiro de uma série de golpes que abalaram o setor ao longo do ano. Naquela data, a Polícia Federal deflagrou a operação Carne Fraca, que investiga fraudes cometidas por fiscais agropecuários federais e empresários ligados à JBS e BRF.
Embora o processo envolvesse apenas a proteína de frango, a cadeia produtiva da carne bovina também sofreu as consequências. Enquanto a arroba despencava no mercado interno, diversos países importadores suspenderam a compra de carne bovina do Brasil. Com isso, as exportações do mês seguinte, abril, caíram 25% em receita e 26% em volume, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
“Na época, muitas informações erradas foram disseminadas e isso abalou a confiança do consumidor. Infelizmente, os responsáveis (Polícia Federal) não deram as caras para fazer a devida retratação”, lembra o analista de mercado José Vicente Ferraz, da Informa FNP, citando o caso da “carne com papelão”, que se referia à embalagem em que o produto foi colocado e não à mistura no processamento da proteína.
Em meio a esse turbilhão, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e diversas entidades do setor foram atrás dos países importadores para prestar os devidos esclarecimentos e os embargos momentâneos foram vencidos ao longo do ano. A partir daí, as exportações voltaram com força total e o Brasil encerrou 2017 com alta de 9% em volume e 13% em receita sobre o ano anterior.
Passado um ano do início da operação, o turbilhão já se dissipou e o setor já não sente mais os impactos da Carne Fraca, na visão da analista Isabella Camargo, da Scot Consultoria. “Os preços se recuperaram rapidamente, antes até de qualquer projeção feita na época. Isso mostra o grande poder de reação da pecuária brasileira”.
A analista também afirma que a operação serviu para unir todos os elos da cadeia produtiva e reforçar as qualidades da carne brasileira no exterior. “O setor mostrou total união e a ação das entidades junto aos exportadores foi fundamental para isso. Hoje, o mundo sabe que pode confiar na carne brasileira, prova disso foi o aumento expressivo nas exportações em 2017 o e no início desse ano”, concluiu.
Para Ferraz, a Carne Fraca serviu para expor as falhas do sistema de controle de qualidade de carne do Brasil, que ainda precisa ser melhorado “Ainda somos falhos em questões sanitárias e isso ainda nos impede de acessar mercados mais exigentes”, avalia.
Embora celebre a reversão do cenário caótico de 2017, o analista acredita que a Carne Fraca causa impactos no setor. “De certa forma a imagem da carne do Brasil ainda é vista com certa desconfiança no exterior. Ainda deve levar algum tempo para que isso seja totalmente esquecido, o que é normal após tudo o que aconteceu”.
Operação Trapaça – No dia 5 de março deste ano, a Polícia Federal deflagrou a 3ª etapa da Carne Fraca. A operação, entitulada de “Trapaça”, cumpriu 91 ordens judiciais no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo, que culminaram nas prisões temporárias do ex-presidente da BRF, Pedro de Andrade Faria, e do ex-diretor e vice-presidente, Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior.
Diferente do que aconteceu no ano passado, a nova fase da investigação não deve afetar o mercado do boi. “Está muito claro que o foco das investigações é a cadeia de aves e isso não deve impactar as outras proteínas. As demais empresas do setor também não devem ser abaladas, a única que sofrerá as consequencias é a BRF, por ser alvo das investigações”, conclui José Vicente Ferraz.
Fonte: Portal DBO