quarta-feira, 14 de junho de 2017

Myanmar abre mercado a material genético e animais vivos do Brasil

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País asiático também tem interesse em concluir negociação para importar bovinos para reprodução.

Brasília/DF
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recebeu nesta quarta-feira (14) comunicado da abertura do mercado de Myanmar para as exportações brasileiras de sêmen e embriões de bovinos e bubalinos (búfalos), além de animais vivos para o abate. A confirmação oficial foi envida pelo Serviço de Saúde Animal daquele país, no sul da Ásia.

As negociações entre o Mapa e as autoridades de Myanmar iniciaram em julho do ano passado. As tratativas mantidas entre o Departamento de Saúde Animal (DSA) do ministério e as autoridades sanitárias daquele país, durante a reunião anual da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em maio, na França, foram decisivas para a abertura do mercado.

No encontro em Paris, o diretor do DSA, Guilherme Marques, representante do Brasil na OIE, explicou o funcionamento dos controles sanitários do Mapa sobre o comércio desses animais e produtos.

O Serviço de Saúde Animal daquele país também quer dar continuidade às negociações para importação de bovinos destinados à reprodução. Myanmar pretende implementar um programa de desenvolvimento da pecuária, com foco no aumento da produtividade de leite e carne.

Segundo Guilherme Marques, o constante acesso a novos mercados importadores de bovinos e material genético é decorrente das conquistas sanitárias obtidas pelo Brasil na última década. Entre elas, destacam-se a ampliação das áreas livres da febre aftosa, o status de risco negligenciável para a encefalopatia espongiforme bovina (mal da vaca louca) e o reconhecimento do país como país livre da pleuropneumonia contagiosa bovina (PCB).

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) 

O terneiro derreteu

Por Fernando Furtado Velloso 
Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha


Entre a operação Carne Fraca (março) e os escândalos do JBS com o Governo federal (maio), estamos vendendo terneiros no Sul do Brasil. O ciclo pecuário e o mercado já nos sinalizam um ano de retração em preços e os dois fatos citados anteriormente ajudaram a piorar o quadro para o vendedor de terneiros. Comento sobre o mercado no Sul no Brasil, pois é onde vivemos e acompanhamos mais os negócios, mas a situação deve ser muito similar para os criadores em todo o País.

No mesmo período do ano passado foram vendidos terneiros no RS entre R$ 6,00 e R$ 6,50/kg para machos. Um bom terneiro (200 kg) rendia ao criador entre R$ 1.200,00 e R$ 1.300,00 por animal. Em plena temporada de venda de terneiros em 2017, os preços que mais se repetem são de R$ 5,00 a R$ 5,50/kg, faturando R$ 1.000,00 - R$ 1.100,00 para o mesmo terneiro de 200 kg. Ou seja, passado um ano inteiro, o criador está recebendo de 15 a 20% menos. Não é bonito de ver. Em SC e no PR, as cotações são um pouco superiores, pois há menor oferta de animais nesses estados, mas a redução de valores em relação a 2016 observa-se lá também.

Nos últimos anos, lotes de animais com raça ou cruzamento definidos (ex.: definidos Angus/ Hereford ou cruza Angus ou cruza Hereford) eram bastante buscados pelo mercado e somente em função da padronização racial já eram tratados como diferenciados, recebendo valores superiores na venda particular ou em feiras. Lotes de terneiros de raça definida não eram o padrão disponível e valiam mais no mercado.

As associações de criadores, com especial destaque para as Associações de Angus (ABA) e Hereford/Braford (ABHB), realizaram um importante trabalho nos últimos 15 anos, no Sul do Brasil, fomentando a necessária padronização de nossos rebanhos para melhoria da produtividade no campo e pela valorização do produto na indústria. Ambas as entidades buscavam ampliar o fornecimento de animais para seus programas de carne de qualidade, a Carne Angus Certificada e a Carne Hereford Certificada. Esse trabalho funcionou e o rebanho gaúcho ganhou muito em padronização e qualidade. O terneiro que era escasso e valo rizado por sua qualidade e baixa disponibilidade passou a estar mais disponível, transformando-se praticamente no produto padrão do RS. É natural que esses animais passassem a ser tratados pelo mercado com preços médios ou sem diferenciação. Inicialmente, na venda dos terneiros e, mais adiante, na venda dos novilhos.

No final de março, o Frigorífico Marfrig suspendeu a certificação da Carne Hereford e, em abril, anunciou o mesmo para a Carne Angus no RS (e em Paratininga/MT). Naturalmente que todo produtor gaúcho lamentou esses fatos, pois fomos pioneiros nesses programas e estávamos perdendo espaço em uma indústria muito representativa. É o tal “balde de água fria” no ânimo de um trabalho de tantos anos pela diferenciação do produto carne e pela valorização de animais de qualidade dos fornecedores. Já estávamos meio acostumados a dizeres como “Carne Premium não sente crise” e outros ditos similares. Quase acreditávamos que esse produto poderia passar ileso por maus humores do mercado, crises da economia e escândalos recentes. Não foi bem assim. 

E o terneiro? O que tem a ver com essa conversa toda? 

Pois bem. Que o ano nos apresentaria um mercado menos atrativo para a venda de bezerros, já era esperado por todos nós. O que talvez não estivéssemos atentos é que, o que era “diferenciado” há poucos anos, hoje não é mais. O que tinha alta demanda e disputa pelos compradores teve até dificuldade de liquidez neste ano.

Gosto de dizer que nos animais (e em tantos outros produtos) os diferenciais são móveis. Logo, o trabalho de vender animais superiores é uma tarefa sem fim, pois de tempo em tempo novas características deverão ser incorporadas para manter o produto com o status de “diferenciado”.

Existe também um dizer que parece “filosofia de palestrante” e aprecio muito: “Quando sabemos as respostas, mudam as perguntas”. Aplica-se perfeitamente à venda de terneiros “diferenciados” e também como reflexão para os programas de carne de qualidade. O modelo usado até o momento foi bom e ajudou muito no crescimento do uso da genética Angus e Hereford. Talvez seja momento de reinventar-se.

* Publicado na coluna Do Pasto ao Prato, Revista AG (Junho, 2017)