sexta-feira, 19 de abril de 2013

Frigoríficos não aceitam concorrência !!!


Dentro ou fora de casa?


 Um novo embate se desenha no horizonte da produção gaúcha: restringir ou não a venda de gado em pé para outros Estados ou países. O envio de animais vivos para posterior abate fora do Rio Grande do Sul voltou à tona em reunião de um grupo de entidades, entre as quais o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicadergs), com o secretário de Agricultura, Luiz Fernando Mainardi.

Nos últimos cinco anos, a exportação de gado em pé cresceu 197% e as vendas interestaduais, 297%, conforme dados da secretaria. Preocupado com o avanço desse tipo de negociação, o grupo entende que há necessidade de intervenção do governo. Entre as propostas apresentadas, a taxação de R$ 50 por cabeça negociada com compradores externos. Conforme Ronei Lauxen, presidente do Sicadergs, a venda de animais vivos agrava a ociosidade dos frigoríficos gaúchos, hoje em 35%. A oferta anual – entre 1,7 milhão e 1,8 milhão de animais – fica aquém da demanda de 2,5 milhões de cabeças e faz com seja necessário comprar carne de outros Estados, argumenta Lauxen.
– Não é só a indústria que perde. Esse tipo de negociação é um tiro no pé do produtor– observa.
Do outro lado, o argumento a favor dessa negociação é a melhor remuneração – o principal destino tem sido São Paulo, onde terneiros e animais jovens são levados a confinamento e abastecem linhas premium de carne. Fernando Velloso, da FF Velloso & Dimas Assessoria Agropecuária e integrante da câmara setorial da carne, acrescenta outra vantagem: ao vender o animal nesta fase, o produtor escapa do período mais caro da etapa de engorda.
– A lógica não deveria ser a da taxação. Deveria ser como fazer, então, para impedir que o produto saia – opina Velloso.
Agora, Mainardi ouvirá o que tem a dizer a Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Depois, levará o assunto a outras secretarias para só então definir a posição do governo sobre o tema. Vai ser peleia das grandes.

Fonte:  INFORME RURAL | GISELE LOEBLEIN (ZERO HORA)

Governo fixa novas regras para trabalho em frigoríficos


O governo assinou nesta quinta-feira, 18, uma nova regra para condições de trabalho nos frigoríficos que exigirá investimentos de R$ 7 bilhões nos próximos dois anos O custo para adaptação será repassado ao consumidor, segundo a indústria. As mudanças, na avaliação dos exportadores, podem ter impacto positivo na imagem da carne brasileira no exterior, mas para os trabalhadores, o receio é de que a fiscalização não seja suficiente.
Uma das principais novidades da chamada NR dos Frigoríficos é o direito a períodos de descanso. Antes, trabalhadores tinham apenas pausa de uma hora para o almoço. Com as novas regras, eles terão intervalos proporcionais à jornada de trabalho, além da parada para refeição. Para os que trabalham até 6 horas, 20 minutos de descanso. Para quem tem jornada de até 7h20, 45 minutos. Para os que trabalham até 8h48, repouso de 60 minutos. Caso a jornada ultrapasse 9h58, deve haver interrupção de 10 minutos a cada 50 trabalhados.
A estimativa de R$ 7 bilhões em investimentos, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), considera o tempo de repouso do trabalhador, além da adaptação de infraestrutura e compra de equipamentos ergonômicos. "Esse valor está sendo visto como investimento, na busca por melhor qualidade de vida para os trabalhadores", disse o coordenador de Segurança e Saúde no Trabalho da CNI, Clovis Veloso.
Mais gente
A regulamentação, apesar de dar mais segurança jurídica ao setor, vai aumentar os custos, que serão repassados ao consumidor, segundo o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio. Na avaliação dele, ainda é impossível ter uma estimativa, porque o valor será diferente para cada tipo de indústria. "O principal custo serão as pausas, que diminuem a produtividade. Para manter a produção, vai precisar de mais gente."
Apesar de a questão trabalhista não ser uma exigência dos parceiros comerciais do Brasil, Sampaio acredita que a mudança pode melhorar a imagem da carne brasileira no exterior por diminuir a insegurança jurídica e as notícias negativas sobre trabalhadores em frigoríficos do País.
A maior parte dos investimentos deverá ser feita pela indústria avícola, segundo o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. "O número de operações dentro de um frigorífico de aves é bem maior do que em um de bovinos", explicou. Ele garante que a indústria está preparada para as mudanças, porque houve tempo para adaptação, enquanto os técnicos debatiam o assunto.
Exemplo
O governo defende que a regulamentação é fruto de consenso entre patrões, empregados e Ministério Público. "Os empregadores entenderam que, à medida que o trabalhador tem melhores condições de vida, ele também produzirá mais", avaliou o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias. "Não adianta querer baixar normas que, na prática, não são adequadas à realidade. Esse ato servirá de exemplo para outros setores da economia."
Os trabalhadores comemoram as regras, mas temem que não sejam aplicadas. "O ministério não tem uma estrutura adequada para fiscalizar e exigir a implantação da norma", afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA), Artur Bueno. A fim de contornar a situação, os sindicatos farão campanhas para conscientizar os empregados dos novos direitos. "Muitos frigoríficos não cumprem nem a lei de hoje, imagina se vão respeitar as novas regras", lamentou.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pecuaristas de SP retém o gado à espera de aumento na arroba do boi

Arroba do boi passou a valer mais porque tem pouco animal disponível.
Estratégia de muitos criadores é segurar o gado nas propriedades.

A redução da oferta de boi gordo no mercado ajudou a elevar o preço da arroba no mês de abril.
Em relação ao mesmo período do ano passado, o valor é 4% maior, mesmo assim, Fernando Vilela, que cria 400 cabeças de gado nelore em Marília, no centro oeste paulista, acredita que ainda é cedo para comemorar.
A oferta de bois no mercado diminuiu porque tem pouco animal pronto para o abate e nas regiões onde o pasto continua alto, por causa da boa quantidade de chuva, os criadores estão segurando o gado para adiar a temporada de confinamento.
Mesmo com a alta no preço da arroba do boi, alguns criadores querem esperar um pouco mais para vender seus rebanhos.
É o caso de Adamo Crivelli, pecuarista em São Pedro do Turvo. Ele espera que o mercado aqueça ainda mais para tentar obter mais lucro com as vendas. “Temos esperança de segurar mais o gado para vender em junho. O valor de R$ 105 estava bom pra gente”, diz.

Identifique e valorize o bom produtor de terneiros


por Fernando Furtado Velloso
ffvelloso@assessoriaagropecuaria.com.br

É tempo de feira de terneiros. Este é o momento para o criador colher resultados do trabalho bem feito e do invernador investir bem os seus recursos.
O peso dos terneiros deixou de ser a informação mais importante e mais cuidada e outros atributos devem ser levados muito em consideração. Deixo as perguntas abaixo para você refletir se está sendo criterioso nas suas compras e para auxiliar sua conduta na temporada que inicia.

1. Seu fornecedor de terneiros usa bons touros? Registrados e avaliados geneticamente?

2. A informação do touro está disponível no momento da compra, seja particular ou via remate? São usados touros Dupla Marca?

3. Seu fornecedor de terneiros tem um sistema de produção organizado e lhe fornece lotes padronizados em idade e peso?

4. A informação da data do nascimento está disponível?

5. Seu fornecedor de terneiros tem um bom programa sanitário e lhe entrega animais com garantias de sanidade?

6. As vacinas e tratamentos realizados nos animais são informados?

7. Seu fornecedor de terneiros usa alguma estratégia de nutrição (ex: Creep Feeding) que contribua com o desempenho pós-desmame?

8. Seu fornecedor de terneiros submete os animais a alguma certificação (ex: Terneiro Angus Certificado, Terneiro Hereford, etc) para lhe auxiliar na comercialização no momento do abate?

Vejo que estas simples perguntas já nos fazem perceber que dois terneiros, de 200 kg, da mesma raça, podem ser bem diferentes. Um, pode ser um muito bom negócio (se atender a maioria dos itens acima) e, outro, pode ser um negócio arriscado (se não atender minimamente ao listado). Logo, volto ao título de minha coluna: identifique e valorize o bom produtor de terneiros!
Se você não é comprador de terneiros, mas sim criador, avalie se está fazendo o suficiente. Se positivo, avalie se está comunicando adequadamente os valores de seu produto. Se não está fazendo nada para se diferenciar, pense quais dos oito itens acima podem ser aplicados ao seu negócio.
Nesta temporada 2013 teremos ótimos produtores ofertando a sua produção. Temos que identificá-los e dar preferência a eles, pois estes estão preocupados com os resultados de seus clientes e cada centavo pago a mais por kg é um centavo bem investido. Temos boas iniciativas no RS e deve ser destacada a ação da ANPTC (Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte). Na dúvida, dê preferência às feiras da ANPTC, pois são criadores alinhados aos conceitos de qualidade que tentei expor acima. Invista em bons terneiros e colha os resultados no desempenho da engorda e na comercialização! 
 
FONTE: FOLHA DO SUL

Temporada de comercialização de bezerros Angus e Cruza Angus no Angus News

Angus News - O Canal da Raça Angus - Programa 55 que foi ao ar dia 09.04.2013

domingo, 14 de abril de 2013

Bancos disponibilizam crédito para produtores que participarem das feiras de outono

Com a chegada do outono, são tradicionais as feiras de terneiros, terneiras e vaquilhonas, além de matrizes e reprodutores bovinos (leite e corte) no interior do Estado. O Banrisul informa que disponibilizou recursos no valor de R$ 100 milhões para cerca das 195 feiras em que participará. Os produtores que quiserem investir no rebanho contam com os recursos pelo sistema de crédito pré-aprovado, que pode ser solicitado na agência em que o produtor é correntista. Assim, o produtor já participa da feira com a carta de crédito aprovada e o valor definido. O produtor poderá financiar até R$ 100 mil, com taxa de juros de 5,50% ao ano. O prazo para pagamento é de até três anos para matrizes e reprodutores bovinos e de até 24 meses para os demais animais. Banco do Brasil O Banco do Brasil também estará presente nas feiras gaúchas, disponibilizando a mesma quantia de 100 milhões para as operações de investimento relacionadas à agropecuária. Além das linhas de crédito destinadas à aquisição de animais, o destaque para este ano é o Investimento MCR 6.2 Compulsório, linha exclusiva para financiamento de máquinas e implementos agrícolas com recursos de conta própria, o que imprime maior agilidade e rapidez na liberação das operações. O Investimento MCR 6.2 Compulsório possibilita o financiamento de 100% do bem, com prazo de 10 anos e juros de 3% ao ano. A exemplo dos anos anteriores, também estarão disponíveis as linhas de crédito do Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e do Programa Estadual de Expansão da Agropecuária Irrigada – Mais Água, Mais Renda. 
FONTE: FOLHA DO SUL.

Prezado Luis ...



Prezado Luís,
 
Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra, né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão. Por isso o sapato sujava.
Se não lembrou ainda eu te ajudo.  Lembra do Zé Cochilo? Era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra ca­sa, já eram onze e meia da noite e, com a caminhada até em casa, quando eu ia dormir já era mais de meia-noite. De ma­drugada pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu vivia com so­no. 
Estou pensando em mudar para viver aí na cidade, que nem vocês. Não que seja ruim o sítio. Aqui é muito bom. Muito mato, passarinho, ar puro. Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade. Estou vendo todo mundo falar que nós da agricultura estamos destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sítio do vô, que foi do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em ca­sa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro de uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança. Então vejo televisão na praça da igreja. Então vejo televisão na praça da igreja.
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou, deve ser verdade, né Luís?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né), contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou.

Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família.

Mas vieram umas pessoas aqui, do Sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana, aí não param de fazer leite.

Ô, os bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só comprando outra, né Luis?

O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele.
Bom Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos Sindicatos, pelos fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra Delegacia, bateram nele e não apareceu nem Sindicato, nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? Casei) tiramos o leite às 5 e meia, aí eu levo o leite de carroça até a beira da estrada, onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros.
Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor.
Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos, as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas.
O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não vai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luís, aí quando vocês sujam o rio também pagam multa grande, né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados.
As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da cidade.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luís? Quem será?
Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora! Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da Capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vir fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar.
Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo, aí eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto!
No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foram os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado, Luís, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, aí tem luz, carro, comida, rio limpo.
Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar aí com vocês, Luís. Mas fique tranquilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Aí é bom que vocês é só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem plantar, nem cuidar de galinha, nem porco, nem vaca, é só abrir a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.
Ah, desculpe, Luís, não pude mandar a carta com papel reciclado, pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)
Prezado Luís,

Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra, né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão. Por isso o sapato sujava.
Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo? Era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra ca­sa, já eram onze e meia da noite e, com a caminhada até em casa, quando eu ia dormir já era mais de meia-noite. De ma­drugada pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu vivia com so­no.
Estou pensando em mudar para viver aí na cidade, que nem vocês. Não que seja ruim o sítio. Aqui é muito bom. Muito mato, passarinho, ar puro. Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade. Estou vendo todo mundo falar que nós da agricultura estamos destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sítio do vô, que foi do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em ca­sa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro de uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança. Então vejo televisão na praça da igreja. Então vejo televisão na praça da igreja.
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou, deve ser verdade, né Luís?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né), contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou.

Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família.

Mas vieram umas pessoas aqui, do Sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana, aí não param de fazer leite.

Ô, os bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só comprando outra, né Luis?

O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele.
Bom Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos Sindicatos, pelos fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra Delegacia, bateram nele e não apareceu nem Sindicato, nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? Casei) tiramos o leite às 5 e meia, aí eu levo o leite de carroça até a beira da estrada, onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros.
Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor.
Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos, as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas.
O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não vai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luís, aí quando vocês sujam o rio também pagam multa grande, né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados.
As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da cidade.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luís? Quem será?
Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora! Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da Capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vir fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar.
Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo, aí eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto!
No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foram os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado, Luís, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, aí tem luz, carro, comida, rio limpo.
Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar aí com vocês, Luís. Mas fique tranquilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Aí é bom que vocês é só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem plantar, nem cuidar de galinha, nem porco, nem vaca, é só abrir a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.
Ah, desculpe, Luís, não pude mandar a carta com papel reciclado, pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)