Desde o final dos anos 2000s, as exportações de carne bovina da Índia, especialmente de carne de búfalo d’água, também conhecida como carabeef, expandiram-se rapidamente, com a Índia passando à frente do Brasil para se tornar o maior exportador mundial em 2014.
As exportações de carne bovina da Índia durante o período cresceram a uma taxa anual de cerca de 12%, aumentando de um volume médio de 0,31 milhão de toneladas em 1999-2001 para um volume estimado de 1,95 milhão durante 2013-15. O forte crescimento nas exportações da Índia contribuiu para a expansão do comércio mundial de carne bovina durante esse período e também aumentou a participação do país no volume de envios pelos principais exportadores mundiais de apenas 5% durante 1999-2001 para cerca de 20% durante 2013-15. A participação do mercado dos Estados Unidos flutuou durante esse período, mas declinou com relação à média de 18% durante 1999-2001, para 12% durante 2013-15, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O surgimento da Índia como um importante exportador de carne bovina tem sido facilitado por três principais fatores. Primeiro, a demanda global por carne bovina está forte, particularmente pelos países em desenvolvimento de baixa e média renda com preferência pela carne de búfalo de custo relativamente baixo da Índia.
Segundo, o rebanho de búfalos da Índia, de longe o maior do mundo, tem sido sub-explorado para a produção de carne devido à preferência relativamente baixa dos consumidores domésticos por carne, seja de bovinos ou de búfalos, pela maioria dos consumidores indianos. Na Índia, o termo “beef” refere-se a carne de bovinos e de búfalos. Aproximadamente 80% da carne produzida na Índia é de búfalos e, pela lei, somente carne de búfalo pode ser exportada.
Terceiro, o desenvolvimento de frigoríficos privados, orientados para exportação, em vários estado da Índia tem levado ao processamento de animais e comercialização de produtos com especificações de um diverso grupo de mercados de exportação. Embora as exportações de carne de bovinos sejam proibidas por questões religiosas, alguns estados proibiram todas as exportações de bovinos. Os búfalos não têm o mesmo significado religioso para a maioria dos indianos e o abate de búfalos, bem como as exportações de sua carne, continuam legais no país.
A expansão das exportações de carne bovina da Índia têm implicações para os Estados Unidos e outros exportadores que buscam expandir as exportações principalmente aos mercados em desenvolvimento agora servidos pela Índia. As exportações de carne de búfalo da Índia têm custos relativamente baixos com relação às exportações dos Estados Unidos e de outros exportadores, o que reflete as diferenças de qualidade percebidas – a Índia exporta carne de búfalo produzida principalmente de animais leiteiros descartados ou não produtivos e seu produto não pode suprir os padrões relativamente rígidos sanitários de mercados mais avançados para importações de carne. Entretanto, as exportações indianas suprem a demanda de um segmento de rápido crescimento do mercado mundial de carne bovina, principalmente nos países da Ásia e do Oriente Médio, que atualmente não são servidos pela carne americana.
Análises da capacidade da Índia de sustentar crescimento nas exportações de carne de búfalo são complicadas devido aos limitados dados confiáveis, mas hipóteses conservadoras sobre as taxas de abate e os pesos sugerem que a produção poderia cair abaixo das atuais projeções do USDA até cerca de 2020. Se, entretanto, os produtores e processadores da Índia responderem à oportunidade comercial agora fornecida pela demanda de exportação criando mais bezerros machos e/ou adotando engorda pré-abate para aumentar os baixos pesos ao abate, o crescimento na produção e nas exportações poderá se sustentar. O sucesso em obter acesso oficial a novos mercados, incluindo as atuais iniciativas de abertura de mercado da China e da Rússia, também podem ajudar a determinar o crescimento futuro das exportações de carne bovina da Índia.
Exportações
Em 2000, os cinco maiores exportadores de carne bovina do mundo eram Austrália, Estados Unidos, União Europeia (UE), Canadá e Brasil. Entre esses países, hoje, somente Austrália, Estados Unidos e Brasil continuam entre os top cinco, e a Índia emergiu como o maior exportador (Figura 1). O crescimento nas exportações de carne bovina da Índia e a participação no mercado global têm sido particularmente fortes desde o final dos anos 2000s, com o volume de exportações expandindo em cerca de 17% anualmente desde 2008. O crescimento nas exportações tem ocorrido principalmente nos mercados de renda média na Ásia, Oriente Médio e norte da África, com a carne de búfalo da Índia tipicamente sendo comercializada a baixos valores unitários com relação à carne bovina de outros países.
Os mercados de exportação de carne de búfalo da Índia são em grande parte determinados por dois fatores. Primeiro, porque a carne bovina é produzida principalmente por búfalos d’água descartados usados na produção leiteira, é um produto de preço relativamente baixo com apelo particular aos consumidores de baixa renda, principalmente em países em desenvolvimento. Esses consumidores frequentemente exibem propensões relativamente altas de gastar novas rendas em itens alimentícios de maior valor, como carnes, bem como têm alta capacidade de resposta a mudanças no preço dos alimentos e outros bens. Nesse ponto, há muito pouca engorda de búfalos na Índia para a produção de produtos de maior qualidade para mercados desenvolvidos e a Índia não é capaz de garantir que esses produtos cumpram com padrões sanitários mais rígidos, bem como com padrões de ausência de doenças dos mercados desenvolvidos.
A qualidade relativa percebida da carne de búfalo da Índia é refletida nos valores unitários reportados para o produto congelado, sem osso, exportado pela Índia e dos produtos congelados e sem osso exportados por outros fornecedores, como Argentina, Austrália, Brasil, Nova Zelândia e Estados Unidos (Figura 2).
Entre os principais exportadores, a Índia tem consistentemente sido o de menor valor unitário desde 2000. O valor unitário de exportação dos Estados Unidos está tipicamente entre os mais altos dos principais exportadores, refletindo a qualidade percebida da carne americana e a ampla aceitação do produto em mercados desenvolvidos. Os valores unitários de importantes exportadores, particularmente Argentina, Brasil e Austrália, que tendem a exportar mais carne produzida a pasto com características similares em termos de gordura à da carne indiana, ainda são consistentemente comercializadas a preços premiums substanciais com relação ao produto indiano.
Os valores unitários não são estimadores perfeitos da qualidade, à medida que cestas de alimentos podem se encaixar em códigos individuais de comércio. Embora todos os produtos incluídos sejam carne congelada sem osso, os cortes e outras características podem variar. A Índia, entretanto, parece ser a opção significativamente mais barata para os importadores que buscam carne de baixo custo.
O segundo importante fator que ajuda a determinar os mercados de exportação para carne de búfalo da Índia é que o produto é requerido pela lei a ser produzido de acordo com os padrões halal. Essa característica, junto com a capacidade dos frigoríficos indianos de serem orientados à exportação para suprir outros padrões de qualidade e sanidade requeridos por certos mercados, tornam a carne de búfalo indiana competitiva em vários mercados de países em desenvolvimento no Sudeste da Ásia, Oriente Médio e norte da África com populações muçulmanas que requerem a observação de práticas de abate muçulmanas.
Mercados de exportação da Índia
As exportações de carne bovina à Ásia, Oriente Médio e África aumentaram dramaticamente nos últimos anos e agora representam cerca de 97% das exportações totais de carne bovina da Índia (Figura 3). A maior parte vai para o Sudeste da Ásia, com Vietnã, Malásia, Tailândia e Filipinas sendo responsáveis pelo maior volume da região. A região do Oriente Médio, principalmente Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Jordânia, é o segundo maior destino de exportação da carne bovina indiana, seguida pelo norte da África.
As exportações da Índia enfrentam proteção tarifaria em uma série de importantes destinos de exportação. Entre os 19 dos 25 principais mercados de exportação de carne bovina da Índia durante 2012-14, 8 têm tarifas de Nações Mais Favorecidas (MFN) para carne sem osso congelada de menos de 10%, 7 têm tarifas de 10-20% e 4 têm tarifas maiores que 20%. Entretanto, a participação da Índia em um acordo comercial regional com membros da Associação das Nações do Sudeste da Ásia (ASEAN) garante seu acesso preferencial na Tailândia (onde a Índia tem tarifa zero, comparado com 50% da tarifa MFN), Laos (21%, comparado com 30%) e Filipinas (7%, comparado com 10%).
O maior destino de exportação da carne bovina da Índia e fonte do mais recente crescimento das exportações do país, é o Vietnã. As exportações de carne bovina da Índia ao Vietnã alcançaram o recorde de 927.760 toneladas em 2014, antes de cair para 791.188 toneladas em 2015 e alcançar 44-45% das exportações da Índia em ambos os anos. Os envios ao Vietnã começaram em meados dos anos 2000, mas aumentaram muito no começo de 2011.
O destino final da carne bovina indiana exportada ao Vietnã não é claro. Embora dados de exportação da Índia identifiquem o Vietnã como destino final, as importações não podem ser verificadas por dados de importação vietnamitas, nem pela base de dados estatísticos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o que sugere que é improvável que esse grande volume de carne seja consumido no Vietnã e que o país provavelmente reenvia essa carne indiana a outros mercados da Ásia. Se uma proporção significativa de exportações indianas está sendo reenviada a outros mercados, as exportações de carne bovina da Índia são altamente dependentes dessas rotas de reexportação ou da abertura formal dos mercados envolvidos.
Brasil e Austrália, dois outros importantes exportadores de carne bovina, têm mais de seus importantes mercados em comum com a Índia do que os Estados Unidos. Brasil e Austrália têm 9 dos 25 principais mercados em comum com a Índia durante 2013-15. No caso do Brasil e da Índia, suas exportações a esses mercados comum de modo geral expandiram-se até 2010, após o que somente a participação da Índia nesses mercados aumentou. Mais recentemente, em 2015, a forte desvalorização do Real reduziu a diferença entre os valores unitários de exportação entre Índia e Brasil para a carne bovina e isso deverá levar a alguma recuperação na participação de mercado do Brasil. A competição entre Índia e Austrália nos principais mercados comuns para esses dois países têm sido bem menos significativa e sugere que eles são concorrentes em segmentos bem diferentes de mercado dentro desses mercados.
Fonte: USDA, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint