Atualmente os preços do boi gordo no estado giram entre R$ 10,00 e R$ 10,30/kg de carcaça, a prazo, sem bonificações.
Isto representa uma queda de 7,9%, em média, nos últimos 30 dias, uma retração considerável. Agosto é um período em que geralmente as cotações dos animais gordos recuam pelo aumento da oferta, mas em 2015 está sendo mais forte.
Se analisarmos os últimos 10 anos, percebemos que a retração média do período é de 1,2%. Mas como já é velho e sabido, a maior área plantada de soja no estado tem modificado as variações de preço no mercado do boi.
Então se observarmos a variação média de 2011 a 2014, de agosto em relação a julho, o valor sobe para 2,3%, ainda assim 5,6 pontos percentuais menor que a variação deste ano até o momento, e o incremento da área de soja na safra 14/15 não foi tão grande, não a ponto de triplicar a variação mensal.
Em parte, esta variação negativa, bem acima da média, pode ser explicada pelo fraco consumo. Algumas indústrias estavam pulando dias de abate e/ou abatendo abaixo da capacidade que normalmente operam.
Mesmo com o clima adverso que atrapalhou o desenvolvimento das pastagens na região da campanha, a oferta de animais começou a aparecer, inicialmente na região da Serra gaúcha.
A margem mais apertada dos frigoríficos este ano também colabora para este cenário, pois nos últimos dois anos, apesar do aumento dos preços da carne no atacado e no varejo sentido pelo consumidor, o maior preço pago ao produtor não conseguiu ser completamente repassado, e achatou a margem. Neste período de queda é a chance de reverter, pelo menos um pouco, este estreitamento.
Ao que tudo indica, o somatório destes quatro fatores: oferta de animais da Serra, aumento na área de soja (consequentemente pastagens de inverno), fraco consumo no mercado interno (este merecendo destaque) e a diminuição da margem das indústrias, são os principais responsáveis pela queda mais acentuada dos preços no mercado do boi no Rio Grande do Sul.
É complicado falar de tendência num cenário de amplitude de variação acima da média, mas pela média dos últimos quatro anos, o preço tende a cair até outubro, considerando o preço médio mensal. Porém, no ano passado, as cotações recuaram em agosto e setembro apenas, retomando a firmeza em outubro, ou seja, antes do que a tendência nos apontava.
Foram retrações mensais maiores, mas com dois meses de duração, e não três, o que pode acontecer este ano novamente, pois o recuo de agosto parece que será bem acima da média.
É difícil falar em lado positivo, mas como quase tudo, vejo algo de bom neste cenário: A retomada de preços, ou a alta, após o período de pressão, tende a ser proporcional à queda, ou seja, quando há grandes quedas (como agora) a variação de preços para cima tende a ser maior.
Não há como saber certamente o que vai acontecer, não existe isso em análise de mercado, mas pode ser um período favorável para aqueles produtores que se planejaram, estão capitalizados e podem fazer bons negócios visando a comercialização a partir de dezembro.
O nível de planejamento e gerenciamento de qualquer negócio em proporcional ao sucesso obtido.
Por Renato Bittencourt