Pecuaristas e empresários do ramo de transporte de animais vivos apostam na demanda de bovinos e búfalos em países como Egito e Turquia. Nesse caminho, empresa de Minas realiza maior operação do gênero envolvendo 4,7 mil animais.
Preparação para embarque de bois em pé em avião para exportação (foto: Fotos: Agroexport/Divulgação)
A crise econômica intensa pela qual passa a Venezuela - um histórico comprador de bovinos e bubalinos vivos do Brasil - faz com que o País tenha buscado novos mercados. O melhor exemplo disto foi o restabelecimento do comércio bilaterais com o Egito e a Turquia, que desde 2014 embargaram o gado brasileiro vivo exportado, em razão de interpretações divergentes sobre teste laboratoriais de febre aftosa.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), entre os anos de 2009 e 2014, o Brasil forneceu regularmente bovinos para abate no Egito. Nestes anos foram embarcados 75 mil cabeças de gado para o país africano. No segundo semestre de 2014, as exportações foram interrompidas. Os exames para detecção da febre aftosa, alvo da suspensão das exportações brasileiras, integravam o protocolo firmado na época entre os parceiros comerciais. Os dois países passaram, então, a renegociar certificado veterinário que não impedisse o desembarque dos animais no Egito.
(foto: Wagner Tamietti/Divulgação)
Bois embarcando
O acordo que permite a exportação de animais vivos para a Turquia foi fechado em 24 de agosto do ano passado. E os exportadores brasileiros não perderam tempo. Prova disso é que a AgroExport, única empresa mineira especializada na venda de animais vivos para o exterior, com sede em Uberaba, embarcou no dia 7 de junho deste ano 4.750 bovinos para engorda em fazendas de clientes turcos. Esta é a maior operação do tipo já feita por Minas, segundo o diretor da AgroExport, Alexandre de Castro Cunha Carvalho.
Entre 160 e 180 caminhões que saíram do Triângulo Mineiro rumo ao Porto de São Sebastião, no litoral paulista. "Apesar dos riscos e do fato de ser um negócio ainda novo no Brasil, é um mercado interessante", observa Carvalho, lembrando que outros dois destinos liberados recentemente também apresentam novas oportunidades para exportação: Iraque e Jordânia.
"Esse tipo de abertura fomenta a pecuária de uma maneira geral. Abrir o mercado é o que a gente sempre está procurando, pois se torna uma alternativa para os pecuaristas", comenta o gerente de relações internacionais da Associação Brasileira de Criadores de Zebu, Mário Karpinskas Júnior. Ele diz que, a Venezuela, um dos principais compradores de bovinos vivos do Brasil, está há dois anos sofrendo forte crise econômica, que impactou nas importações do país e, consequentemente, atingiu o mercado brasileiro.
"Há, ainda, a Turquia e o Líbano, que compram bastante. E estamos confiantes de que novos mercados vão se abrir daqui pra frente", antecipa Karpinskas. Carvalho, da AgroExport, observa que os venezuelanos, antes os principais clientes da empresa, deixaram de comprar animais há cerca de um ano. "Vendíamos muito pra lá, mas agora eles não conseguem dólar para quitar as cartas de crédito. Se está faltando até medicamento, não é diferente com comida e carne", conta.
Segundo Karpinskas, 20% do que se produz de carne no país é exportado. E, quando se trata de bovinos vivos, esse percentual é bem menor. "O mercado interno ainda é o mais forte. No entanto, há muito consumidor para o gado fora do país, principalmente, nesse tipo de negócio que envolve mercados diferentes. Na Turquia, por exemplo, eles exigem o gado novilho (adolescente) destinado à criação para o abate", afirma. Minas Gerais, por exemplo, segundo ele, se destaca neste mercado com animais para reprodução. "Com o porto de Belém, no Pará, compensa mais a exportação por lá. Aqui em Minas, os bovinos e búfalos são vendidos para reprodução. Os animais têm genética superior, afinal, o estado é um grande provedor de animais de genética apurada."
A coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline de Freitas Veloso, destaca que o Pará é o principal estado exportador de bovinos vivos. "A logística favorece os negócios", observa. Além da localização favorável, Alexandre Carvalho conta que no estado também há uma oferta maior de animais que podem ser comprados para atender clientes estrangeiros. A AgroExport tem filiais naquele estado e no Maranhão. Desde 1988, a empresa já exportou cerca de 1 milhão de animais vivos para 20 países. A maioria foi embarcada a partir do Pará.
Aline Veloso lembra que o acidente ocorrido em outubro do ano passado no cais do porto de Vila do Conde - em Barcarena, Nordeste do Pará -, quando um navio que levava 5 mil bois vivos naufragou, atrapalhou os negócios relacionados à exportação. Carvalho confirma. "Era o principal porto para este tipo de carga", recorda. As atividades, agora, estão sendo normalizadas gradativamente, mas análises ainda estão em curso para a liberação total do porto. "A expectativa agora é de retomada", afirma o empresário.
Fonte: Luciane Evans, Graziela Reis / Jornal Estado de Minas
Adaptação: Equipe CRPBZ
Com muito investimento, inovação e aposta na produtividade, três empresários consagrados no mundo dos negócios, transformaram um latifúndio improdutivo, em Goiás, num mega empreendimento lucrativo.
A fazenda Nova Piratininga é um mundaréu de terras concentradas no noroeste de Goiás, no município de São Miguel do Araguaia, onde o Estado faz divisa com o Tocantins e com o Mato Grosso. São 135 mil hectares, área equivalente a ocupadas por metrópoles como o Rio de Janeiro ou Nova York, registrados em uma única matrícula, no cartório de imóveis local, coisa rara no País. Em geral, grandes fazendas são o resultado da compra e concentração de várias propriedades. No mês passado, a DINHEIRO RURAL esteve durante dois dias na Nova Piratininga, localizada às margens dos rios Araguaia, Javés e Verde, a 480 quilômetros da capital Goiânia. Foi a primeira vez que uma equipe de reportagem entrou na propriedade, depois que trocou de dono, em dezembro de 2010.
Até então, a propriedade pertencia ao empresário Wagner Canhedo, que entrou para os anais do mundo dos negócios por ter levado à falência a Vasp, uma das principais companhias da aviação comercial brasileira. Seu lugar foi ocupado por três empresários goianos, detentores de partes iguais no negócio. Um deles, João Alves de Queiroz Filho, mais conhecido como Júnior, é o controlador do grupo Hypermarcas, colosso que no ano passado faturou R$ 4,6 bilhões com linhas de produtos farmacêuticos, de higiene pessoal e de beleza. O outro sócio é Marcelo Limírio Gonçalves Filho, ex-dono do laboratório de medicamentos genéricos Neo Química, absorvido pelo Hypermarcas, em 2009. Fecha o grupo a família de Igor Nogueira Alves de Melo, membro do Conselho de Administração da farmacêutica Teuto, fundada por seu pai Walterci de Melo e hoje controlado pela americana Pfizer. Alves de Melo foi escolhido pelos parceiros para dirigir a fazenda Nova Piratininga, na qual está envolvido praticamente em tempo integral. “Pegamos uma fazenda falida e hoje não há um único metro quadrado que não seja produtivo”, diz Alves de Melo. A fazenda está registrada como grupo MJW, letras iniciais dos nomes de seus compradores (no caso, o W refere-se ao pai de Alves de Melo, Walterci, falecido no ano passado).
Remodelada, a Nova Piratininga pode ser colocada no rol das propriedades que servem de modelo para uma pecuária que produz gado bovino de alta qualidade e em larga escala. Da área total, 95 mil hectares são compostos de pastos, que alimentam um rebanho de 105 mil nelores puros ou cruzados com angus, que vem sendo submetido a um processo acelerado de seleção e melhoramento genético para dobrar de tamanho nos próximos cinco anos. O trabalho, mesmo feito a porteiras fechadas, tem chamado a atenção do mercado, principalmente de fundos de investimentos interessados em comprar a fazenda. “Já recebemos várias ofertas, mas nossa resposta é sempre não, porque, como empresários não temos perfil especulador”, diz Alves de Melo. “A Nova Piratininga, definitivamente, não está à venda. Segundo ele, o horizonte da trinca de controladores é de longo prazo, com a pretensão de produzir o melhor gado do País, com sustentabilidade. “A fazenda tem um enorme potencial para superar desafios de toda ordem.” Os sócios, que se reúnem a cada dois meses para discutir os rumos do empreendimento, acreditam que vão rentabilizar o negócio nos próximos anos, assim como fazem com seus investimentos urbanos. No ano passado, a Nova Piratininga já pagava suas próprias contas, ao fechar o exercício com uma receita de R$ 43 milhões obtida com a venda de gado. Mas o negócio vai além desse valor. Ao arrematar a propriedade, o grupo sabia que estava realizando uma grande tacada, em função da valorização da terra, principalmente a partir do momento em que ela começasse a se mostrar eficiente. A fazenda foi comprada por R$ 310 milhões, em parcelas – a última delas, no valor de R$ 50 milhões, será quitada nos próximos meses. Hoje, essa quantia pode ser considerada uma verdadeira pechincha: cinco anos depois da aquisição, o valor de mercado da fazenda decuplicou e é estimado em nada menos de R$ 3 bilhões. Não à toa, na época da compra, o trio de empresários goianos teve de disputar a fazenda de Canhedo com a família Batista, da JBS, e com o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.
Ao tomarem posse da propriedade, os sócios estabeleceram um plano de governança com várias frentes de trabalho e algumas prioridades: era preciso olhar para o gado, para a terra, para a imensa infraestrutura e para os funcionários. “Quando entrei na fazenda pela primeira vez deu medo, mas, ao mesmo tempo, também senti uma imensa vontade de trabalhar nela”, diz Alves de Melo. “Estava tudo muito fora do que eu entendo por pecuária.” É preciso considerar que o diretor da Nova Piratininga, aos 35 anos de idade, não é exatamente um vaqueiro de primeira viagem. Ele começou a trabalhar aos 13 anos, dividindo o tempo entre a Teuto e uma fazenda que a família possuía antes de entrar no projeto Nova Piratininga. Alves de Melo, formado em administração de empresas, com especializações na universidade da Flórida, nos Estados Unidos, vem usando todo o seu conhecimento e ainda buscando ajuda para não errar.
TERRA ARRASADA
A gestão do rebanho foi a primeira e mais urgente tarefa a ser realizada. “Nós não sabíamos nem quantos animais havia nos pastos”, afirma Alves de Melo. A contagem do gado mostrou um cenário de terra arrasada. O rebanho encontrado era de cerca de 90 mil animais, dos quais 60 mil eram fêmeas em idade reprodutiva. No entanto, apenas 18 mil haviam parido e 16 mil bezerros foram desmamados, em 2012. Isso significa que, naquele momento, a taxa de natalidade era de 30% e a de desmame, de 26,5%, quando o índice considerado aceitável em uma fazenda de bom nível técnico é de pelo menos 70%. No Brasil, a taxa média de desmame é de cerca de 55%, praticamente o dobro da que era obtida pela fazenda. Na pecuária, essas duas mensurações são reconhecidas como os principais indicadores da eficiência reprodutiva em bovinos de corte. E a verdade, é que eles não estavam nada bons. “O manejo era muito ruim”, diz Melo. “Havia gado na fazenda que nunca tinha sido levado para o curral, que nunca tinha sido visto por um peão.” Em outras palavras, para o antigo dono, gado rústico era sinônimo de sobrevivente.
Além da contagem dos animais e da separação de lotes por categorias, entre elas as de vacas, novilhas e garrotes, a Nova Piratininga fez uma parceria com os criadores Adir do Carmo Leonel, e seu filho Paulo, que administra a fazenda Barreiro Grande, em Nova Crixás, município vizinho a São Miguel do Araguaia. Leonel, que há 50 anos cria nelore, apartou as melhores fêmeas do rebanho para um projeto de uso de sêmen de touros de sua criação. Iniciado em 2012, o projeto tem como meta 100 mil nascimentos por ano, através da técnica de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). “Hoje somos alvo de muita curiosidade de pecuaristas de todo o País”, diz Paulo Leonel. Só para ter uma ideia, entre cinco mil e dez mil animais nascidos por intermédios dessa biotecnologia já são considerados projetos de porte.
É desse grupo de fêmeas inseminadas que começa a surgir a base das matrizes que vão produzir animais destinados ao abate. “Nosso objetivo é criar na Nova Piratininga um gado que eleve a qualidade genética da base do rebanho”, diz Adir Leonel. “Com ela, vai ser possível produzir animais padronizados em tamanho, peso e qualidade da carcaça.” Leonel é reconhecido por seus pares como um dos maiores conhecedores de genética nelore. Inclusive, segundo Alves de Melo, entre os funcionários da fazenda, os animais que vão nascendo dessa parceria são chamados de “gado do Adir, numa referência ao vizinho. “A gente realmente tira o chapéu para o trabalho desse criador especialista, porque de fato é um gado diferente e muito superior ao que tínhamos antes.” A compra de sêmen de reprodutores de Leonel, para a IATF, iniciada na safra 2011/2012, é o maior negócio já realizado diretamente entre duas fazendas, no País. Geralmente, esse tipo de comércio passa pelas Centrais de Inseminação.
Na safra 2014/2015, do total de 45 mil fêmeas apartadas para reprodução – as demais foram abatidas – 43,4 mil entraram no programa de IATF. Desse total, 15 mil fazem parte do projeto Adir e as demais foram inseminadas com sêmen de angus importado pela CRI Genética, empresa americana de genética animal. “A ideia com o cruzamento é fazer com a melhor base nelore, animais destinados a certos nichos de mercado, como as marcas de carne”, diz Alves de Melo. “Por isso, usamos o angus na inseminação.” A taxa de prenhes nesta estação de cria foi de 45% com a IATF, bem superior ao primeiro ano de uso da técnica, quando foi utilizada em apenas sete mil fêmeas e 35% emprenharam. Nesse projeto, as fêmeas que não pegam cria são cobertas por touros nelore. O rebanho de reprodutores é de 1,6 mil animais, usados na proporção de um para cada 20 vacas. A meta é chegar a uma taxa final de prenhes de 70%, mas o zootecnista Frederico de Faria Jardim, responsável pelos negócios da CRI em Goiás, Tocantins e Pará, acredita que possa passar dos 80%, índice que as fazendas altamente tecnologicamente avançadas, conseguem alcançar. “Vamos perseguir essa meta, porque criação, com baixa produtividade, é um mau negócio”, diz Jardim.
Para William Koury Filho, doutor em produção animal e dono da consultoria BrasilcomZ, de Jaboticabal (SP), que monitora cerca de 25 rebanhos de seleção, na cadeia produtiva da pecuária o setor de cria sempre foi um gargalo, porque não se dá a ela a devida importância. Segundo ele, o Brasil poderia produzir mais bezerros, com um número menor de fêmeas. Em outras palavras, com mais produtividade. São 44 milhões de animais destinados aos frigoríficos, menos de um quinto de um rebanho de 210 milhões de reses, o que representa uma taxa de abate de cerca de 21%. Nos Estados Unidos, por exemplo, são cerca de 88 milhões de bovinos, para um abate de 38 milhões de animais, ou seja, uma taxa de 43%, o dobro da brasileira. “Não há nada mais impactante na atividade pecuária que a fertilidade do rebanho”, diz Koury Filho. “E para quem faz o ciclo completo, do nascimento à entrega do boi no frigorífico, ser eficiente nesse setor é fundamental para ter lucro no negócio.”
MARCA DE CARNE
Atualmente, a fazenda Nova Piratininga tem na sua prateleira vários produtos, de bezerros, a animais jovens e vacas de descarte. Mas, no futuro, ela quer fazer o ciclo completo. “Pensamos também na construção de uma marca de carne”, diz Alves de Melo. “Chegar lá é uma questão de tempo.” Em 2014, a fazenda vendeu 39,7 mil animais prontos para o abate. Toda a produção de machos desmamados, que totalizou 17 mil bezerros nelore e cruzados, foram vendidos para o produtor Alexandre Negrão, ex-dono do laboratório Medley, para variar.
A nova roda virtuosa: o manejo é acompanhado por técnicos agrícolas que coletam os dados no campo. O serviço vai dos currais ao confinamento, estrutura para dez mil animais, a maior parte bezerros cruzados de nelore com angus, que são alimenta dos com ração e silagem de capim. Nos pastos, os retiros virtuais são para descanso. Cercas e estradas foram reformadas.
Negrão possui a Conforto, uma das maiores fazendas independentes de confinamento do País (não vinculadas a frigoríficos), com cerca de 80 mil animais no sistema. Neste ano, a Nova Piratininga vai produzir para a Conforto 20 mil bezerros. No mês passado, os nelores eram negociados a R$ 1.370 e os cruzados por R$ 1.521, valores de mercado acrescidos de bônus de até 50% sobre o preço da arroba. As fêmeas cruzadas de angus, por sua vez, são recriadas por Alves de Melo em confinamento até a fase de novilha e vendidas ao empresário Valdomiro Polisselli Júnior, dono da marca de carnes VPJ. “Conseguimos preço de bois por elas e bonificações de até 11%”, diz Alves de Melo. Os demais animais, fêmeas nelore descartadas do projeto Adir, mais as vacas velhas e os touros improdutivos, passam rapidamente pelo confinamento e depois são vendidos para abate, à JBS.
Nos planos de Melo está justamente o aumento da capacidade estática do confinamento para 30 mil animais, para sair desse modelo. “Com mais estrutura, o número de animais confinados poderia até triplicar.” Hoje, a capacidade é para dez mil animais, e o sistema tem a função principal de apenas padronizar os bezerros e recriar as novilhas cruzadas até alcançarem 20 arrobas, aos 20 meses, antes de irem à venda. “Seria um bom negócio se conseguíssemos confinar todos os animais até o abate, mas ainda não temos pernas para isso”, afirma Alves de Melo.
Para sustentar o projeto de crescimento de uma pecuária baseada na criação no pasto e na terminação em confinamento, o segundo problema atacado pela Nova Piratininga foi o estoque de alimento para o gado. Dos 135 mil hectares da área total, havia apenas 77 mil hectares de pastagens em condições mínimas de uso. Hoje, são 95 mil hectares, dos quais cerca de 50 mil já foram reformados. “Em um único ano chegamos reformar 20 mil hectares, mas é loucura. Hoje, mantemos a média de seis mil por ano”, diz Alves de Melo. Da área total, a fazenda possui 94 mil hectares em área de várzea, na qual foram construídos imensos canais em sistema de comportas para escoamento do excesso de água. “É um varjão controlado, o único do País, que nos permite ter pasto verde praticamente o ano todo.” Na área alta, que ocupa 41 mil hectares, há produção de silagem. Além disso, desde o ano passado 780 hectares de soja estão sendo cultivados por safra, para melhorar a estrutura do solo e implantar uma área de pastos irrigados destinados à produção de silagem.
Também foram construídos 1,4 mil quilômetros de cercas para dividir melhor esses pastos. Até 2010, havia áreas de até três mil hectares, com 480 hectares de matas sem cercas, onde cinco mil vacas disputavam espaço com animais silvestres e selvagens, entre eles as onças. Alves de Melo diz que, felizmente, a infraestrutura de almoxarifado, oficina mecânica, laboratórios, escritórios, fábrica de ração, oficina, borracharia, em um conjunto de galpões, um deles, gigantesco, com 20 mil metros2 de área, era imensamente superior à montada para os animais.
“Nós não teríamos recursos para construir metade do que a fazenda tem hoje, caso tivéssemos comprado uma área para começar do zero”, diz Alves de Melo. Não se trata de exagero. A Nova Piratininga abriga, inclusive, um aeroporto com pista de 1,7 mil metros de extensão (240 a menos que Congonhas, em São Paulo), capaz de receber até jatos de médio porte. As estradas internas, cascalhadas e levantadas do leito original, somam 972 quilômetros, equivalente à distância entre as cidades de Goiânia e São Paulo, nas quais há 300 pontes e três viadutos de concreto, somente vistos em rodovias de pista dupla.
O valor dessa infraestrutura, que passou por reforma e ampliação, é estimado por R$ 1 bilhão, um terço da avaliação total da propriedade, de acordo com Alves de Melo. Há, ainda, dez reservatórios de água, para um projeto de 15, com capacidade de armazenar 10,6 bilhões de litros apenas para o gado. A rede de distribuição para 408 bebedouros tem cerca de 400 quilômetros de encanamentos, que deverão ser ampliados para 570 quilômetros. “Vamos dividir ainda mais a área de pasto, já construímos 250 casas de cocho para sal e proteinados, mas o projeto é chegar a mil”, afirma Alves de Melo. “Só assim vai ser possível dobrar o rebanho.” Juntamente com essa expansão, também vem sendo construído 20 locais de descanso para os cerca de 100 vaqueiros, chamados de retiros virtuais.
AS PESSOAS
Os investimentos em infraestrutura também passaram fortemente pela área social. Casas, restaurantes coletivos, escola, clube com quadra de esporte, campo de futebol e piscina foram melhorados. Atualmente, vivem na fazenda 600 pessoas que desfrutam de moradia, salão social e até duas igrejas. Desse total, 300 são funcionários, mas, contando o quadro de terceirizados, formado por peões que trabalham, por exemplo, no manejo da inseminação, são 400 trabalhadores. “Quando assumimos a fazenda havia apenas 70 empregados e, por isso estava tudo largado”, diz Alves de Melo. “Sem mão de obra qualificada não há como ir em frente.”
Entre os contratados está o atual gerente da fazenda, José Cláudio da Silva, com mais de 20 anos no setor. “Quando me chamaram não pensei uma única vez”, diz Silva. “Essa é uma fazenda de uma porteira só, a de entrada.” Da equipe antiga, Selho José Ramos de Souza, contratado há 15 anos como peão, ainda na época de Canhedo era capataz até dois anos atrás. Hoje ele é um dos três gerentes de pecuária e braço direito de Silva. “Agora, sinto que tenho espaço para crescer na profissão, porque antes trabalhava olhando para o chão, enquanto hoje olho para as pessoas de frente.”
Da equipe de novos funcionários, os controladores do rebanho são exemplos da demanda por novas funções. Há dois anos, em busca de mão de obra, Alves de Melo foi conhecer o trabalho da Fundação Bradesco, no município de Formoso do Araguaia (GO), e fechou uma parceria com a instituição de ensino. O grupo é formado por 12 jovens técnicos agrícolas, que munidos de notebook, rádio e sensores de rastreamento, controlam todo o fluxo de gado dentro da fazenda. Nenhum manejo acontece sem que algum deles esteja presente.
Na Nova Piratininga, os cuidados com os empregados são estendidos às novas gerações. Nos últimos quatro anos letivos, a escola da fazenda ganhou o título de melhor instituição de ensino do município, para alunos até o sexto ano. Aparelhada de computadores, material de audiovisual conectado à internet, ela poderia servir de modelo para uma boa parte das escolas do País. Aliás, a internet é aberta para toda a fazenda. A professora Vita Maria Saraiva, por exemplo, tem 25 anos de magistério e é pós-graduada em pedagogia. Sua filha, Lara, que também é professora, seguiu os passos da mãe e foi além. Ela cursou magistério, letras, pedagogia e é pós-graduada em língua portuguesa. “Aqui não parece uma fazenda, somos uma comunidade com seus problemas e acertos”, diz Lara. “Quando vejo uma criança que não gostava de estudar, pedindo tarefa extra, sei que estou no lugar certo.” Há três anos, elas criaram um projeto de incentivo à leitura, com distribuição de bicicletas como prêmios para os mais aplicados. No ano passado, Jenifer, de nove anos, e Artur, de oito anos, filhos de mecânicos, se destacaram. A menina leu 50 livros infantis, o menino, 46. “Mas neste ano vou ler mais”, afirma Artur.
Orgulhoso, Alves de Melo, que se acostumou a ser abordado sem cerimônia pelos funcionários, sempre que percorre a fazenda, diz que o que vale na Nova Piratininga o conjunto da obra. “Não adianta ter máquinas, gado e terra, pois sem as pessoas certas nada tem valor como unidade produtiva”, afirma. “Quando vejo a garotada, sei que a fazenda também é parte da vida deles, agora, mas pode continuar a ser também no futuro.”
Visando a disponibilidade de alternativa para possibilitar um maior controle sanitário e emissão de GTA a partir de eventos com aglomeração de ruminantes e/ou equinos, nos quais o Serviço Veterinário Oficial não puder se fazer presente, a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação normatizou, através da IN n° 9/2016, a regulação de habilitação de médicos veterinários que atuam no setor privado para atuar em conjunto com a secretaria.
Os profissionais irão atuar fiscalizando o ingresso de animais no evento, cadastrando os mesmos e emitindo as GTAs de saída dos eventos, certificando-se de que os animais participantes nos eventos em que estejam atuando tenham boa sanidade e cuidados relativos ao bem estar animal.
A habilitação dos profissionais fica condicionada à capacitação promovida pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO), por meio da secretaria da agricultura, que abrangerá temas como vigilância sanitária e emissão de documentos. Essa habilitação tem a validade de um ano, devendo ser validada a cada mês de abril pela Secretaria.
“Este é mais uma medida importante que estamos tomando, pois permitirá uma agilização das emissões de Guias de Trânsito Animal, com o trabalho de médicos veterinários habilitados, principalmente em grandes eventos com presença de equinos, quando o Serviço Veterinário Oficial não puder estar presente. Desta forma poderemos atender presencialmente um maior número de eventos, agilizando as emissões de GTAs, com a devida responsabilidade sanitária e controle da secretaria da agricultura, pecuária e irrigação”, avalia o secretário Ernani Polo.
Como fazer? Os médicos veterinários interessados devem procurar a Superintendência Federal de Agricultura, do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul (SFA-RS/Mapa ) e encaminhar a documentação de requerimento conforme estabelecido pela Instrução Normativa nº 22/2013/Mapa, de 20 de junho de 2013.
O Ministério da Agricultura quer dar sangue novo às exportações de gado vivo, um setor que já foi responsável por receitas de até US$ 724 milhões, como ocorreu em 2014, mas, atualmente, anda em ritmo lento.
As exportações de animais vivos somam apenas 86 mil cabeças nos cinco primeiros meses deste ano. Há dois anos, atingiam 372 mil cabeças no mesmo período.
O ponto alto das exportações ocorreu nos anos de 2013 e 2014, quando as vendas médias somaram 670 mil animais por ano, com receitas anuais de US$ 703 milhões.
A queda brusca se deve praticamente à saída de mercado da Venezuela nos dois últimos anos. Neste ano, os venezuelanos importaram apenas 8.000 animais, ante 308 mil em igual período de 2014.
Enquanto a Venezuela não resolve seus problemas econômicos, a saída tem de ser mesmo pela busca de tradicionais importadores de gado em pé, como Jordânia, Egito, Líbano e Turquia.
O Líbano chegou a importar 130 mil animais vivos do Brasil em 2013, enquanto a Turquia comprou 44 mil em 2012. Mas, se o Brasil tem a vantagem de um real mais fraco atualmente, para atingir esses mercados, o país encontra uma concorrência mais forte dos europeus.
Uma das saídas, como espera o Ministério da Agricultura, é atingir os mercados asiáticos da China e do Vietnã. A logística de exportação, no entanto, não é tão favorável como as de indianos e australianos, próximos à região. A ampliação das exportações de gado em pé sempre gera uma controvérsia. Para uns, como argumentam os frigoríficos, o país troca as vendas de produtos de maior valor agregado por apenas matéria-prima.
Para outros, no entanto, a saída do gado vivo dá ânimo aos preços do boi internamente em regiões especializadas em exportação.
Há espaço para as duas atividades. O país já se tornou grande nas exportações de carne e pode suprir, também, parte do mercado externo com gado vivo.
Se não o fizer, outros países vão ocupar esse espaço, o que não significa necessariamente aumento de exportação de carne
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vem buscando diversificar mercados para exportação de gado vivo para abate e engorda. Até 2014 a Venezuela era um principal importador, mas o país passa por dificuldades financeiras. “Diante disso, desde o ano passado, intensificamos o comércio com os países do Oriente Médio. Retomamos os negócios para a Jordânia e o Egito e abrimos o mercado da Turquia”, diz o diretor do Departamento de Saúde Animal, Guilherme Marques.
Este ano, de acordo com Marques, estão previstas negociações internacionais com países asiáticos, como o Vietnã, Malásia, China, Indonésia e Tailândia. Em 2015, o Brasil exportou US$ 210,6 milhões de dólares em bovinos vivos.
“O acesso e a manutenção de mercados importadores de bovinos é estratégico para o Brasil. Esse tipo de comércio se torna viável em razão do reconhecimento da excelência condição sanitária do nosso rebanho e dos esforços dos atores públicos e privados do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA)”, afirma.
Esta conjuntura, acrescenta Guilherme, permite também a exportação de outros produtos, como material genético de bovinos (sêmen e embriões), carne e seus derivados, produtos para fins laboratoriais.
Si bien se exportaron en las últimas semanas más de 50 mil cabezas a Turquía, en las últimas semanas el mercado se enfrió porque, de ahora en más, las negociaciones se realizarán directamente con el Gobierno de ese país.
Al ser consultado al respecto, Alejandro Dutra, presidente de la Unión de Exportadores de Ganado en Pie, sostuvo que “estamos esperando que el Gobierno de Turquía comience a comprar, algo que se podría dar en breve, y ante esto las empresas locales comenzaron a hacerse de ganado para tener stock”.
Para Dutra, “hoy los números reflejan que el mejor negocio es Turquía porque hasta el momento tiene precios muy superiores a cualquier otro mercado” a lo que agregó que “con otros países no dan los precios, ya que Turquía paga valores de hasta US$ 2,15 y en otros países buscan ganado, pero pagan hasta US$ 1,70 y Uruguay propone otro tipo de valores” puntualizó.
En lo que refiere a la región, los únicos movimientos fueron de una firma del norte que exportó vacas gordas a Brasil a un frigorífico que habitualmente compra en Uruguay.
Com crescimento em diversos mercados, indústria brasileira embarcou 129 mil toneladas; Hong Kong continua na liderança dos países ou regiões que mais importaram carne bovina brasileira, seguido pela China e União Europeia
As exportações de carne bovina brasileira apresentaram um crescimento, no último mês de maio, tanto em volume como em faturamento. Com o embarque de mais de 129,8 mil toneladas e faturamento de US$ 503,5 milhões, o aumento foi de 15% - em volume e receita - ante abril passado. Com relação a maio de 2015, o aumento foi de 14% em volume e 8% em faturamento.
Hong Kong continua na liderança dos países ou regiões que mais importaram carne bovina brasileira, seguido pela China. Para Hong Kong, em meio foram embarcadas no período 28 mil toneladas de carne com faturamento de US$ 96 milhões. Já para a China foram 20 mil toneladas (30% mais que abril), com receita de US$ 84 milhões (aumento de 32% em relação ao mês anterior).
No acumulado do ano (janeiro-maio), o crescimento é de 12% em volume em relação ao mesmo período do ano passado, com o embarque de 609,7 mil toneladas. Já em faturamento, o crescimento é de 1,4% com US$ 2,3 bilhões.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), Antônio Jorge Camardelli, destaca os números positivos de Hong Kong e China no acumulado do ano, evidenciando o crescimento do mercado asiático para a carne brasileira. "Em menos de um ano de reabertura do mercado, a China já é nosso segundo maior comprador no ano, o que nos faz manter a expectativa positiva de atingirmos os mesmos níveis de exportação que tivemos em 2014, quando embarcamos o total de 1,5 milhão de toneladas para o mercado exterior", afirma Camardelli.
Categorias
A carne in natura seguiu como a categoria de produtos mais exportada, atingindo um faturamento de US$ 397 milhões no mês de maio (17% a mais que o mês anterior), com o volume de 100 mil toneladas em exportações (crescimento de 16% em relação a abril).
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em maio foram exportadas 22,29 mil cabeças de bovinos vivos, com faturamento de US$15,11 milhões.
Na comparação com abril, houve aumento de 29,0% no número de cabeças exportadas. Já na comparação com o mesmo período do ano passado houve queda de 23,3%.
Em relação ao faturamento, houve aumento de 47,3% quando comparada a abril e queda de 35,9% quando comparada ao mesmo período de 2015.
Desde o início do ano já foram exportadas 75,42 mil cabeças de bovinos vivos, tendo como principais destinos Venezuela, Líbano, Turquia e Iraque.
Exportações de gado em pé e vendas diretas em propriedades rurais impactam negócios nas feiras de outono
Concorrendo com as exportações de gado em pé e com as vendas diretas nas propriedades rurais, as feiras de outono no Rio Grande do Sul tiveram uma redução de 24% no número de terneiros vendidos. Levantamento do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Estado (Sindiler), confirma a tendência dos últimos anos: um volume cada vez menor de machos ofertados em remates.
– Esse décrescimo vem ocorrendo ano a ano. Em 2014, vendemos mais de 50 mil terneiros. Agora mal passamos de 30 mil – compara Jarbas Knorr, presidente do Sindiler.
A principal explicação para a queda vem do crescimento das exportações de gado em pé, especialmente para países asiáticos. Também contribui para a baixa oferta a venda de terneiros para confinamento no Centro-Oeste e as vendas diretas em propriedades.
– Muito antes de começar a temporada de feiras, as vendas particulares já estavam ocorrendo – acrescenta Knorr.
O juro mais alto para financiamento e o atraso no plantio do azevém também complicaram, completa Francisco Schardong, presidente da Comissão de Exposições e Feiras da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
– O comprador de terneiro precisa ter pastagem. O atraso na colheita da soja neste ano retardou a cobertura de inverno – explica.
Apesar do faturamento menor, o preço do quilo vivo se manteve valorizado, com média de R$ 6,16. A estabilidade segue o mercado do boi gordo, principal balizador do preço dos terneiros.
– A média ficou acima do esperado. A qualidade genética dos terneiros é o ponto forte – afirma Schardong.
Soma-se aos bons preços, a estabilidade nos custos de produção. Com uma dependência menor de ração animal, ao contrário da produção de aves e suínos, a pecuária bovina pode se considerar privilegiada neste momento de cotações nas alturas do milho e do farelo de soja.
O boi gaúcho está passando fome, revela a primeira fase do projeto que começou no Rio Grande do Sul e vai percorrer 60 mil quilômetros em 11 Estados
"É a integração da lavoura com a pecuária que está garantindo a qualidade do meu pasto” Marcelo Xavier,da fazenda Cinamomo, em São Sepé (RS)Foto: Guto Andrade/rally da pecuária
Na manhã do dia 12 de abril, uma caravana de quatro picapes de cabine dupla, lotadas de agrônomos e veterinários, saiu do município gaúcho de Santa Maria com destino a Passo Fundo, um trajeto de 280 quilômetros que se transformou em 1,2 mil quilômetros. É que o grupo, antes de chegar ao seu destino, passou por São Sepé, Dom Pedrito, Bagé, São Gabriel, Alegrete e São Borja, municípios da região do Pampa gaúcho onde estão os principais polos de produção pecuária do Estado. No Pampa são criados 4,7 milhões de bovinos, 36% do rebanho gaúcho de 13 milhões de animais. Na fazenda Cinamomo, de 1,1 mil hectares que pertence ao produtor Marcelo Xavier, em São Sepé, por exemplo, eles visitaram o rebanho de 800 animais da raça braford, criados em 400 hectares. Outros 500 hectares são cultivados com soja. “É a integração da lavoura com a pecuária que está garantindo a qualidade do meu pasto”, diz Xavier. “A integracão tem sustentado o melhoramento genético do rebanho e a venda de gado comercial.”
Gado ESPECIAL: a produção de Valter Pötter, da Guatambu, pode entrar nos mercados que mais pagam pela qualidade de carne
Os dados colhidos na Cinamomo vão fazer parte do banco de informações do projeto Rally da Pecuária, promovido anualmente desde 2011 pela consultoria Agroconsult, de Florianópolis (SC), que também realiza o Rally da Safra para avaliar as culturas de soja e milho. Até o início de junho, a caravana vai percorrer 60 mil quilômetros por 11 Estados, passando pelos maiores polos de criação de bovinos do País. A DINHEIRO RURAL acompanhou com exclusividade o primeiro circuito de viagens, dos sete que estão sendo realizados. De acordo com o agrônomo Maurício Palma Nogueira, sócio da Agroconsult e coordenador do rally, apesar das análises mais detalhadas sobre as regiões visitadas serem apresentadas apenas no final do projeto, as visitas às fazendas e os encontros realizados com os produtores de cada região já fornecem um bom recorte do que será consolidado lá na frente. “Apesar de visitarmos bons produtores que servem de exemplo do que deve ser feito na pecuária, de modo geral o boi gaúcho está passando fome”, diz Nogueira. “Enquanto isso não melhorar, o Rio Grande do Sul não vai aproveitar a chance que tem, que é vender carne premium em quantidade.” Pela primeira vez, desde que foi criado, o rally está fazendo um diagnóstico do tipo de gado entregue aos frigoríficos, além de colher os dados zootécnicos das propriedades, como ganhos de produção, de produtividade, parque de máquinas e equipamentos, investimentos e crédito.
Para os apreciadores de um bom bife, é fato que os gaúchos possuem a genética da melhor carne do País. Mas filés mignon suculentos, picanhas com bom acabamento de gordura e contra-filés com grande área de olho de lombo são cortes encontrados nos rebanhos dos pecuaristas que castram os seus animais. Esse tipo de gado é o mais valorizado do mercado, podendo chegar a bonificações de até 8% nos programas de carne de qualidade. Além disso, na comparação com outros Estados, o mercado gaúcho é naturalmente mais valorizado. No ano passado, por exemplo, enquanto a média da arroba do boi gordo era vendida a R$ 143 em São Paulo, no Rio Grande do Sul, o preço médio foi 15% superior, ou R$ 163 por arroba. Mas, olhando de perto, a realidade é outra. Do total de 1,8 milhão de animais abatidos no ano passado pelos frigoríficos gaúchos, a estimativa é de que apenas 4%, ou 74 mil animais, conseguiram acessar mercados de carne premium. Isso ocorre por falta de peso dos animais, mais leves que em outras regiões, e pela falta de acabamento das carcaças. Nos últimos dez anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, enquanto o peso médio das carcaças de bois aumentou 7,8% no País, ficando em 244 quilos, nesse mesmo período, o peso do gado abatido no Rio Grande do Sul caiu 0,6%, rendendo no ano passado 217 quilos de carcaça por animal. Isso significa que se a pecuária gaúcha tivesse crescido no ritmo da produção nacional estaria produzindo 445,4 mil toneladas por ano em equivalente carcaça, em vez das 395 mil toneladas registradas em 2015, uma diferença de 50 mil toneladas. Analisando o valor bruto da produção de gado, segundo dados do Ministério da Agricultura, nos últimos dez anos o faturamento no Estado cresceu 34,5%, chegando a R$ 3,8 bilhões em 2015, ou R$ 2,12 mil por animal. No restante do País, o crescimento foi de 75%, chegando a uma média de R$ 2,41 mil por animal. “É preciso que o produtor invista mais, para ganhar mais”, diz Nogueira, da Agroconsult. “Um bom modelo de gestão seria fazer, por exemplo, o semiconfinamento dos animais, um método bastante praticado em várias regiões do País, mas com poucos adeptos no Rio Grande do Sul.” Para ele, a saída é apostar em programas de nutrição animal adicionais e também na adubação do pasto natural do Pampa, que sozinho não é capaz de sustentar a pecuária.
Lucro: Camardelli, o presidente da Abiec, diz que, sem exceção, a regra do jogo é buscar a melhor rentabilidade
MERCADO Xavier, da fazenda Cinamomo, é um exemplo de que as mudanças são possíveis. No ano passado ele faturou R$ 500 mil com o abate de 200 bovinos, além da venda de 60 touros. “Nossa carne tem sido disputada por três frigoríficos da região”, diz Xavier. “Antes, isso não acontecia.”
Produtividade: Luiz Cezar da Silva, da fazenda São Manoel, quer sair de uma produção de dois para cinco touros por hectare
Para o executivo Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que acompanhou quase todo o trajeto do rally gaúcho, a grande oportunidade do produtor gaúcho está nas exportações, onde ele poderia competir com os maiores produtores mundiais de raças taurinas, principalmente a angus e a hereford e os cruzamentos realizados a partir desse gado. “O pecuarista do Sul está há poucos passos de realmente passar a ganhar mais”, diz Camardelli. “Qualidade de gado ele já tem, só é preciso acertar o manejo para fornecer animais mais pesados e em volume adequado à indústria frigorífica.” No ano passado, a indústria de carne gaúcha faturou US$ 213 milhões. Mas, caso houvesse mais carne premium para exportar, poderia ter ido além porque o mercado está em alta. Neste ano, por exemplo, a Abiec estima para as exportações um aumento da ordem de 27% na receita em relação a 2015, chegando a US$ 7,5 bilhões. “Sem exceção, a regra do jogo é buscar a melhor rentabilidade”, diz Camardelli. “É esse caminho que toda a pecuária gaúcha deve trilhar.”
Na estrada: coordenadas por Nogueira, da Agroconsult, até junho, quatro picapes vão percorrer 60 mil quilômetros para diagnósticar a cadeia da carne bovina Agroconsult
Um exemplo de que é possível produzir qualidade em escala é a Estância Guatambu, em Dom Pedrito, do pecuarista Valter José Pötter, um dos mais respeitados produtores da região. Pötter cria gado desde os anos 1970. Em uma área de 5,2 mil hectares de pastagem ele cria 5,7 mil animais. Além do gado comercial, a Guatambu é referência no melhoramento genético das raças hereford e braford. No ano passado, Pötter mandou para o abate dois mil animais que renderam 230 quilos de carne cada, 6% acima da média do Estado. “Toda a minha produção vai para a linha de carnes especiais do Marfrig, que tem espaço no mercado de exportação”, diz Pötter. O criador não revela quanto faturou com os bois, mas, tomando o preço da arroba e a bonificação média na região, a estimativa é de uma receita superior a R$ 5 milhões com o gado abatido.
Para o CEO da divisão Bovinos Brasil do grupo Marfrig, Andrew Murchie, o incremento na produção de carne é uma tarefa para toda a cadeia produtiva, da nutrição mais caprichada a uma genética mais apurada. “Com genética diferenciada, o produtor passa a ter um gado mais precoce, de melhor conversão alimentar”, diz Murchie. “Os gaúchos precisam estabelecer essa meta.” Dos 2,1 milhões de animais abatidos pelo Marfrig no ano passado, 300 mil vieram de bovinos de raças europeias em todo o País. O Rio Grande do Sul respondeu por 20% desse abate. “Mas queremos mais”, afirma Murchie.
Além de grandes produtores, como é o caso da Estância Guatambu, a genética pode vir de pequenas criações. Uma das proprieades na rota do rally, a fazenda São Manoel, em Santa Maria, do pecuarista Luiz Fernando Cezar da Silva, vem melhorando a produção de touros através da adubação dos pastos, da integração com a lavoura de soja há oito anos e também com a suplementação alimentar nos cochos. Com isso, de uma lotação de dois animais por hectare, Silva acredita que pode chegar a cinco animais ainda este ano. “Com a intensificação agrego valor à produção dos touros”, diz ele. O produtor tem garantido um aumento da receita de 12% ao ano com os reprodutores, desde 2008. Em 2015 ele faturou R$ 600 mil com esses animais. “Agora, quero irrigar a área de pasto”, diz Silva. “Vou ter mais grãos e touros muito melhores e mais precoces para vender.”
Ganhos: para Andrew Murchie, do grupo Marfrig, a valorização da carne começa por uma cadeia produtiva mais alinhada
O mercado financeiro só quer saber das chances do fenômeno La Niña se confirmar para 2016. A informação é altamente relevante pois revela o perfil das condições climáticas que devem incidir sobre a safra norte-americana e também da América do Sul.
Em entrevista ao Mercado&Cia, o PhD em meteorologia e professor da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Carlos Molion, afirmou que a incidência do fenômeno em 2016 já está totalmente garantida.
“A chance é de 100% do La Niña não tem 75% de chance,não. O fenômeno já esta se instalando, as águas do oceano Pacífico já estão começando a se esfriar. Obviamente a gente ainda não tem ideia da possível intensidade que ele venha a ter. Se seguir os mesmo passos do pós El Niño de 1997 e 1998 devemos ter o La Niña persistindo pelo resto desse ano e pelo próximo ano”, destacou Molion.
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A meteorologista da Somar, Desirée Brandt também apontou sinais da chegada do fenômeno.
“Já tem alguns indícios de água com temperatura abaixo do normal no Pacífico e é um sinal de que o La Niña está se instalando. No entanto, a gente não vai sentir imediatamente os efeitos. Vai ser mais no decorrer do segundo semestre que a gente começa a sentir os efeitos do La Niña”, esclarece.
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E quais efeitos podem ser esperados para este La Niña? Na opinião de Molion, o fenômeno está com características diferentes das usuais em ocorrem mais chuvas no nordeste e secas no sul do Brasil, por exemplo.
“A configuração global está um pouco diferente. Houve um período de 1976 e 1998 que realmente isso acontecia, que os La Niñas produziam muitas chuvas no nordeste e seca no sul. A ocorrência dos La Niñas que vão ocorrer agora serão semelhantes ao da década de 40 e 50 em que na realidade vamos ter chuvas em torno da média”, destacou.
A incidência do fenômeno La Niña já permite antecipar alguns dos efeitos no Brasil e nos Estados Unidos, destaca Desirée Brandt.
“A safra norte-americana vai sentir os efeitos no final. Traz o risco da formação de geada. Enquanto no ano passado os norte-americanos ainda estavam colhendo em setembro e outubro, neste ano a colheita mais tarde é arriscada porque o frio pode chegar mais cedo em virtude do La Niña. No Brasil, a gente já consegue ter a expectativa de um verão mais complicado para o sul com o La Niña totalmente instalado. Para o Rio Grande do Sul é bastante preocupante já que O estado já costuma ter um verão com secas regionalizadas, quando a gente tem o La Nina aumenta o risco de seca no verão”,explica.