Além da investigação, queda do valor do boi gordo afeta o mercado
Na feira de Cachoeira do Sul, os terneiros tiveram média R$ 5,80, enquanto ano passado o valor chegou a R$ 6,61.Foto: Marcus Tatsch / Especial
Um fator conjuntural e outro pontual se somaram para a temporada de outono de feiras de terneiros no Rio Grande do Sul dar a largada com a última batida do martelo a preços abaixo do que o ano passado. Não bastasse o movimento de recuo do preço do boi gordo iniciado ainda em 2016, o mercado ficou mais confuso a partir de março com a polvadeira provocada pela Operação Carne Fraca, que investiga irregularidades em frigoríficos e trouxe como consequência a paralisação momentânea de abates também no Estado, além de mais pressão nas cotações.
No radar, a incerteza sobre o tamanho do impacto nas exportações e no consumo interno, já desaquecido devido à recessão atravessada pelo país.
Os primeiros remates confirmaram os reflexos. Na feira de Lavras do Sul, uma das que abrem o circuito, no início do mês, os terneiros encerraram com média de R$ 5,20 o quilo vivo e, as terneiras, de R$ 4,90. O consultor Fernando Velloso, da Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha, esperava preços acima de R$ 5,50 para os machos. Mesmo assim, observa que não falta liquidez, e lotes de maior qualidade – com padrão racial e de peso e boa sanidade – seguem melhor remunerados.
– O mercado sentiu as dúvidas gerada pela Operação Carne Fraca. Se os frigoríficos pararam por um tempo de comprar, o preço cai e é natural que os produtores não demonstrem grande empenho em adquirir animais para reposição – lembra o especialista.
Mesmo que o início da temporada não empolgue, as feiras da estação vão até o início de junho e há tempo para o mercado se recuperar, lembra Velloso. Sem se dobrar ao pessimismo, o presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Estado (Sindiler-RS), Jarbas Knorr, diz acreditar que, no transcorrer das feiras, números melhores vão aparecer nas planilhas, se aproximando mais dos preços do ano passado, quando a média dos terneiros no Rio Grande do Sul, com a comercialização de 31,5 mil animais, chegou a R$ 6,16.
– Até tinha receio que todos esses comentários influenciassem mais – diz Knorr, referindo-se à operação.
O presidente do Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte de Bagé, Valdomiro Resner, parece mais cético. Para a feira do município, marcada para a próxima quinta-feira, avalia que os preços devem ficar na casa dos R$ 5 para os machos e R$ 4,70 nas fêmeas, abaixo do evento no ano passado. Mas a oferta deve ser boa. Até o dia 12 de abril, eram 1,5 mil animais inscritos.
– A expectativa é chegar a 2 mil – diz Resner, que apesar de não demonstrar otimismo no curto prazo, acredita em uma recuperação nos próximos meses com a normalização das exportações e ambiente melhor na economia.
Na Fronteira Oeste, a feira de terneiros de Quaraí, na terça-feira, seguiu a tendência, com médias de R$ 5,29 para os machos e R$ 4,81 para as fêmeas. Na quarta-feira, em Cachoeira do Sul, os terneiros saíram a R$ 5,80. Ano passado, a média foi de R$ 6,61.
Também na terça-feira, São Sepé surpreendeu de forma positiva. Foram cerca de 680 animais comercializados com média de R$ 6,03.
– Foi além da expectativa. Imaginava que ficaria por volta de R$ 5,50 – diz o presidente do núcleo de produtores de terneiros do município, Luiz Cidinei Becker Scherer.
A desconfiança em relação aos resultados antes do leilão era atribuída à conjuntura da agropecuária, com preços do gado, milho e soja baixos, além dos reflexos da operação da Polícia Federal. Segundo Scherer, o mercado do boi gordo também não vem mostrando grande demanda na região, com os frigoríficos mais tímidos nas compras. Para o produtor, a qualidade da terneirada em pista e a disponibilidade de crédito ajudaram os resultados.
Fim de um ciclo na pecuária
Na próxima terça-feira será a vez da feira de terneiras e Scherer diz esperar média parecidas com a dos machos.
A temporada de cotações mais moderadas é resultado do fim de um ciclo, de retenção das fêmeas e aposta dos produtores em manter as matrizes nas propriedades para a produção de terneiros para atender à demanda. A avaliação é da pecuarista, veterinária e consultora Lygia Pimentel, diretora da Agrifatto, de São Paulo. Quando o IBGE apresentar os dados de abates no país no primeiro trimestre, o aumento de abate de fêmeas deve ser confirmado.
– Por uma questão de ciclos, devemos ver os preços do bezerro subirem em um período de dois anos e meio – aposta Lygia.
Em relação à exportação, a consultora avalia que está se normalizando. A reabertura rápida dos mercados, acredita Lygia, é resultado da alta internacional dos preços pela ameaça de oferta global enxugada se o Brasil, um dos líderes em produção de carnes, for alijado do mercado por alguns dos principais importadores.
Bancos garantem acesso a crédito
Se os negócios perderam um pouco de brilho, o crédito para as feiras oficiais não parece ser uma das causas. No Sicredi Pampa Gaúcho, que abrange
12 municípios da Fronteira Oeste, são cerca de R$ 20 milhões disponíveis, o que deve suprir a demanda. Ano passado, nas ferias de terneiros de outono, foram tomados R$ 12 milhões, diz o diretor-executivo da unidade, Leandro Gindri de Lima. Os recursos com juro controlado têm taxas de 8,5% a 9,5% ao ano, com dois anos de prazo. Na modalidade livre, vai a 14,5%, com três de prazo.
– Acreditamos que é o suficiente. E o próprio prazo de pagamento que é dado nos remates, sem usar dinheiro de banco, tem atendido às expectativas – informa Lima.
O Banrisul disponibiliza linhas para adquirir terneiras, vaquilhonas, machos e fêmeas destinados à reprodução com prazo de dois anos. Para terneiros de até 12 meses destinados à recria e engorda, são 18 meses. O limites são de R$ 70 mil por produtor.
O Banco do Brasil tem linhas para aquisição de animais para recria e engorda com um e dois anos de prazo, com taxas de 9,5% ao ano, no custeio. Para investimento, é possível comprar matrizes com prazo de cinco anos e juro de 10,87%.
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