Introdução
A Índia tem a maior população de bovinos e búfalos do mundo: possui 57% da população mundial de búfalos (105 milhões) e 15% da população de bovinos do mundo (199 milhões). De acordo com o último censo (2007), o rebanho de búfalos cresceu 1,8% ao ano durante os últimos cinco anos.
Historicamente, os bovinos eram principalmente usados na indústria de lácteos e o fato de a Índia ser o maior produtor de leite do mundo explica sua grande população de bovinos. Essa grande população dá a Índia uma oportunidade para participar no comércio mundial de carne bovina do abate de búfalos não produtores de leite. A ‘carne bovina’ produzida na Índia é principalmente carne de búfalo. O abate de vacas é restrito na maioria dos estados e o abate de vaca para exportação é proibido.
A participação da Índia no comércio de carne bovina aumentou bastante rápido na última década e dobrou nos últimos três anos. A indústria de carne de búfalo indiana começou como um subproduto do setor leiteiro, atendendo aos consumidores de carne bovina. A Índia é agora o quarto maior exportador de carne de búfalo do mundo e deverá se tornar o número um em 2012. As exportações de carne da Índia deverão ser de 1,5 milhão de toneladas (equivalente peso carcaça) no valor de US$ 2,85 bilhões no ano fiscal de 2011/12. Isso torna a carne de búfalo um dos maiores produtos agrícolas exportados (em valor) no país, depois de arroz e frutos do mar.
Uma das forças da carne de búfalo da Índia é seu preço competitivo no mercado global (Figura 1). Os búfalos, particularmente aqueles que já completaram seus ciclos de lactação, são usados para produção de carne e vendidos após não serem mais usados para a produção de leite; dessa forma seu custo fica competitivo.
A indústria de lácteos da Índia cresceu 4% ao ano (em volume) durante a última década e é incentivada pelo governo, além da participação do setor privado no desenvolvimento da indústria. O crescimento da indústria leiteira estimulou a reconstrução do rebanho e garantiu a disponibilidade de gado para produção de carne. Direcionada pelo baixo custo e disponibilidade da oferta, as exportações de carne de búfalo da Índia aumentaram nos últimos três anos, colocando a Índia em mesmo patamar dos maiores exportadores de carne do mundo.
De acordo com o último censo, o rebanho ainda está crescendo. Acredita-se que a indústria pode exportar carne de búfalo sustentavelmente por outros cinco a dez anos, apesar da taxa de crescimento não ser expressiva como ocorreu nos últimos dois anos, ficando em média de 41%. O novo censo está sendo processado e o resultado será crucial para a taxa de crescimento nas exportações de carne de búfalo da Índia.
Considerando que a produção de carne de búfalo, expansão do rebanho e taxas de abate se mantenham nas taxas atuais, em três anos as exportações podem ser prejudicas devido à liquidação do rebanho (Figura 2). No momento, existe pouco foco na criação de búfalos machos, mas com o apoio certo do Governo, programas de criação de búfalos machos podem ser desenvolvidos para fortalecer a base de oferta.
As exportações de carne de búfalo da Índia cresceram de forma significante devido à crescente demanda para o comércio de carne bovina, mesmo contando com os exportadores tradicionais. O comércio mundial de carne bovina cresceu 2,1% ao ano entre 2008 e 2011, enquanto a produção global declinou 1% ao ano durante mesmo período. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as exportações globais podem aumentar 7% em 2012 comparado com 2011. Direcionado pelo crescimento econômico nos mercados de carne bovina de baixo valor no Sudeste da Ásia, Oriente Médio e África do Norte, a carne de búfalo da Índia continuará ganhando participação de mercado. Devido à baixa produção global de carne bovina, os preços permaneceram em níveis elevados, o que ajudou a carne de búfalo da Índia com baixo preço a ganhar participação. Entretanto, a Índia ainda não é um país livre de febre aftosa, o que limita o alcance de mercado da indústria, restringindo a demanda para regiões emergentes.
Indústria em crescimento
Em 2011, a Índia foi o quinto maior produtor de carne bovina do mundo. A produção quase dobrou nos últimos 10 anos, aumentando de 1,65 milhão de toneladas em 2001 para 3,1 milhões de toneladas em 2011, uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 7% (Figura 3).
Quando comparado com as taxas de crescimento dos principais países produtores, o crescimento da Índia realmente se destaca, com o Brasil mostrando um crescimento de apenas 3% ao ano durante o mesmo período.
O crescimento na produção de carne de búfalo da Índia foi direcionado pelo potencial de exportação. O consumo doméstico cresceu 4% ao ano entre 2001 e 2011, mas ficou em média em 1% entre 2009 e 2011. O crescimento doméstico mais lento do consumo é compreensível, à medida que a carne bovina não é amplamente consumida na Índia. O abate de bovino não é aceito na religião Hindu, onde as vacas são associadas com santidade. Apesar do búfalo não ter uma associação religiosa, eles são criados tipicamente por produtores que têm um valor religioso similar por esses animais. Dessa forma, a carne de búfalo é pouco consumida na Índia, consumido pela população não Hindu (cerca de 20% do total da população).
Em todo o país, o consumo per capita é baixo, de 1,6 quilos por ano. Baseado na população não Hindu como consumidores alvo, o consumo per capita pode ser de até 8,1 quilos por ano. Embora esse número possa ser comparável com os níveis de consumo da Ásia, ainda é bem abaixo dos níveis globais. Com o desenvolvimento da indústria de frango da Índia e uma mudança na preferência para a carne de frango, a demanda doméstica por carne bovina deverá se manter baixa. Entretanto, a população não Hindu manterá a carne bovina em suas dietas e, certas regiões, como o sul da Índia (Kerala) e estados do oeste, mostram uma preferência por carne bovina, o que mantém a demanda alta.
Cadeia de carne bovina altamente fragmentada
Na Índia, os bovinos são normalmente criados em quintais, principalmente para produção de leite, esterco (usado como combustível e fertilizante) e para apoiar outras atividades relacionadas à fazenda e de tração. A maioria do sistema de produção de búfalo pode ser classificada como extensiva, onde pequenas fazendas criam dois ou três búfalos em pastagem natural e subprodutos agrícolas com investimentos mínimos.
A produção intensiva de búfalos não é muito comum na Índia, apesar de existirem fazendas leiteiras intensivas. A cadeia de fornecimento da indústria bovina é altamente fragmentada do lado da produção (Figura 5). Seja o produtor ou o coletor (comerciantes a nível de fazenda que coletam animais dos produtores e os levam aos leilões) vendem animais no mercado pecuário semanalmente, de onde os comerciantes compram e vendem animais para os abatedouros, que em grande parte atendem ao mercado local (chamado de wet market) ou a unidades de processamento (abatedouros modernos, que atendem ao mercado de exportação).
Atualmente, existem mais de 4 mil abatedouros na Índia reconhecidos ou autorizados pelos governos locais. Além disso, um número considerável de animais são abatidos em locais não autorizados. Existem cerca de 37 abatedouros e plantas de processamento de carnes orientados à exportação na Índia registrados pela Autoridades de Desenvolvimento de Produtos Alimentícios Processados e Agrícolas para Exportação (APEDA, sigla em inglês).
Além dessas plantas de abate e processamento integradas, existem outras 39 plantas de processamento orientadas à exportação aprovadas pela APEDA. Muitos dos processadores também usam outros abatedouros municipais para suprir seus requerimentos. Existem cerca de 15 grandes participantes nas exportações de carne de búfalo da Índia. Cerca de 85% do comércio de carnes da Índia é feito através de seis principais participantes e o maior exportador é responsável por 50% do comércio (Figura 6), e estas indústrias têm uma forte rede de comerciantes para obter os búfalos, pois a base de fornecimento pulverizada é um grande desafio.
Restrições regulatórias
A Índia não permite exportações de carne de vaca, touro ou bezerro, ou exportações de carcaças de búfalos. As exportações são unicamente permitidas na forma desossada. A carne precisa estar acompanhada de um certificado de uma autoridade veterinária designada e não pode ser de búfalo usado para cria ou produção de leite. Os exportadores também precisam fornecer uma declaração à alfândega dizendo que a carne foi obtida de um abatedouro habilitado ou de uma planta de processamento registrados pela APEDA. Em 15 de junho de 2012, a APEDA terminou o período de carência para atualização das unidades orientadas à exportação para os padrões prescritos.
Desde então, somente exportações de carne de búfalo certificada pela APEDA são permitidas. Essa medida deverá reduzir ou prevenir que unidades não registradas exportem carne de búfalo. Entretanto, essa ação é pouco significante para impactar nos volumes de exportação. Em suporte ao setor, o Ministério de processamento de alimentos lançou um programa para estabelecer 25 novos abatedouros e modernizar 25 abatedouros existentes. O Governo forneceu incentivos fiscais com um topo de 150 milhões de rúpias (US$ 2,7 milhões).Esses programas e o suporte são principalmente voltados a unidades de pequena escala.
Crescimento nas exportações
As exportações de carne de búfalo da Índia tiveram um grande crescimento na última década. As exportações cresceram quatro vezes entre 2000/01 e 2011/12 (abril-março), alcançando 1,5 milhão de toneladas (equivalente carcaça) e representando 18% das exportações mundiais. As exportações da Índia aumentaram de uma base de 300 mil toneladas no começo dos anos 2000 para um nível que desafia os principais exportadores do mundo.
As exportações aumentaram 15% ao ano entre 2001/02 e 2011/12. Notavelmente, o maior impulso às exportações veio em 2010/11 e 2011/12, aumentando em 43% e 39% por ano, respectivamente. As exportações da Índia se beneficiaram dos altos preços globais da carne devido ao declínio do rebanho mundial e a grande liquidação que ocorreu durante a crise financeira global. Apesar da Índia ter se classificado em quarto lugar entre os exportadores em 2011 (janeiro a dezembro), o país continuou desafiando a posição número um e espera se tornar o maior exportador em 2012.
Os atuais altos preços dos alimentos para animais podem resultar em mais liquidação de rebanho, o que manterá os preços globais da carne bovina altos nos próximos anos. Isso apoiará as exportações de carne de búfalo da Índia e as expectativas são de que o país exportará 1,74 milhão de toneladas (equivalente peso carcaça) de carne de búfalo em 2012/13 (abril-março) (Figura 7).
A carne de búfalo da Índia está tendo uma forte demanda nos mercados internacionais devido à sua pouca quantidade de gordura. Esta carne é comparável à carne bovina em termos de propriedades físico-químicas, nutricionais e funcionais, bem como palatabilidade. Além disso, a carne de búfalo tem níveis relativamente baixos de calorias e colesterol, o que se soma ao seu apelo para a saúde. Também, a carne de búfalo tem boas propriedades de ligação/agregação, o que a torna adequada para o processamento de produtos como carne moída.
Os principais destinos de exportação da carne de búfalo indiana são o Sudeste da Ásia, o Oriente Médio e a África do Norte. Vietnã e Malásia surgiram como dois dos maiores destinos, seguidos por Egito. Os três principais destinos representaram aproximadamente 45% do volume exportado da Índia em 2011/12 (abril/março).
Em termos de carne sem osso (a forma pela qual a Índia permite exportar), o país viu um forte aumento nas exportações de carne de búfalo, aumentando de 495 mil toneladas em 2009/10 para 985 mil toneladas em 2011/12 (Figura 8). Os parceiros de exportação da Índia têm sido consistentes nos últimos três anos. O Vietnã tem sido um parceiro dominante de exportações, ficando com 28% de participação nas exportações da Índia em 2011/12. A Malásia, cuja participação nas importações vem aumentando firmemente, fica em segundo lugar, alcançando 10% em 2011/12. Outros parceiros significantes de exportação incluem Egito, Arábia Saudita e Filipinas, com os cinco maiores países exportadores representando mais de 59% das exportações da Índia.
As exportações de carne de búfalo da Índia cresceram de forma significante devido à crescente demanda, que não foi capaz de ser suprido pelos exportadores tradicionais nos últimos três anos. O comércio mundial de carne bovina cresceu 3% ao ano entre 2001 e 2011. De acordo com o USDA, as exportações globais poderão aumentar 7% em 2012 com relação a 2011 (Figura 9). A produção mundial de carne bovina tem sido estável desde 2006 e provavelmente não deverá se expandir em um futuro próximo. Qualquer limitação na oferta da Índia adicionará mais pressão nas ofertas globais.
Os esforços de comercialização da Índia estão aumentando as exportações em mercados tradicionais e novos mercados. A produção de carne de búfalo está aumentando para suprir a crescente demanda através de investimentos nas capacidades de processamento de carne. Graças à indústria de lácteos, a qualidade da carne está melhorando devido ao melhor manejo sanitário dos animais, maior eficiência na produção animal e investimentos em nutrição. Com o aumento no volume de exportação e para aproveitar o potencial, mais investimentos em abatedouros e plantas de processamento de carne com as últimas tecnologias e infraestrutura são esperados.
A Índia não é um país livre de febre aftosa e depende da vacinação para prevenir a doença. Todo o controle sanitário é realizado pela indústria, bem como pelo Governo, para prevenir um foco da doença. Entretanto, a vigilância poderia ser aumentada com melhores instalações nos mercados pecuários e abatedouros, incluindo testes por veterinários.
Melhor padrão de qualidade ajudaria a carne de búfalo indiana a alcançar novos mercados. Entrar em mercados avançados é difícil, à medida que muitos deles requerem status de livre de aftosa e rastreabilidade, que é difícil de se obter além de um certo ponto na cadeia de fornecimento da Índia, apesar de o Governo ter instituído uma política para rastrear a produção de carne a nível de abatedouros.
O rendimento da produção de carne da Índia é baixo comparado com as médias internacionais. Existe um potencial considerável para aumentar a produção de carne através de medidas para melhorar o rendimento, incluindo melhores raças. Para aumentar o lucro potencial, a educação em métodos científicos modernos para engordar bezerros machos de búfalos – que são normalmente abatidos/ou mal alimentados quando os produtores não os considera úteis para uso de tração – é necessária a nível de fazenda.
A indústria de carne de búfalo da Índia enfrenta resistência devido à intervenção frequente pelos ativistas por bem-estar animal. Essa pressão prejudica a indústria, e ainda diversos governos estaduais não querem ser associados ou promoverem a indústria. Além disso, para conseguir as melhorias necessárias, a Índia não somente precisa investir em infraestrutura, mas também, precisa direcionar mais recursos para treinamento de mão de obra para a indústria de carnes.
Indústria de carne de búfalo continua crescendo
Rebanho:
Um dos principais direcionadores da carne de búfalo indiana tem sido o crescimento na indústria de lácteos. Esta indústria está crescendo entre 3% e 4% ao ano, o que tem ajudado o crescimento da população de búfalos. Graças ao desenvolvimento da indústria de lácteos, não somente o tamanho do rebanho, mas também, a saúde dos bovinos/búfalos melhorou. De acordo com o último censo de 2007, o rebanho de búfalos da Índia cresceu 1,8% ao ano entre 2003 e 2007, comparado com 1,43% entre 1997 e 2003. O tamanho do rebanho aumentou de 98 milhões de cabeças para 105 milhões de cabeças. O próximo censo deverá ser feito esse ano, dando uma luz sobre o tamanho e a saúde do rebanho.
Durante 2003 e 2007, a população de búfalos machos cresceu 2,3% e a de fêmeas cresceu 1,74%. O rebanho geral de búfalos cresceu 1,74% por ano entre 1972 e 2007; considerando uma taxa de crescimento similar, o tamanho total do rebanho de búfalos pode potencialmente alcançar 115 milhões em 2012.
Considerando um peso médio de carcaça de 120 quilos a 150 quilos, a Índia poderia estar abatendo de 21 milhões a 26 milhões de cabeças. A população de búfalas para ordenha está estimada em 38 milhões de cabeças para 2012, o que deixa cerca de 48 milhões de cabeças para reconstrução do rebanho. Globalmente, a proporção de animais abatidos com relação à população do rebanho vai de 16% a 26% nas principais regiões produtoras de carne. Baseado nas estimativas do Rabobank, os abates na Índia poderiam alcançar cerca de 18% a 22% do rebanho total.
Considerando a taxa de crescimento do censo de 2007 para búfalos machos e fêmeas de menos de um ano de idade, pode-se estimar que a cada ano outras 32,5 milhões de cabeças são produzidas contra um abate de entre 21 milhões e 26 milhões de cabeças. Se considerarmos a taxa atual de produção de carne e o crescimento da expansão do rebanho, o atual rebanho pode suportar o crescimento da produção até 2015, a uma taxa de crescimento das exportações de 25% ao ano. Entretanto, além desse período, taxas maiores de abates comparado com reposição do rebanho poderiam pressionar a oferta futura.
É importante que seja dada atenção em combinar o desenvolvimento do rebanho com o crescimento na produção de carne. Com o suporte correto do Governo, programas de criação de búfalos machos podem ser desenvolvidos para fortalecer a base de oferta. No momento, existe pouco foco na criação e muitos produtores estão vendendo machos jovens para abatedouros. Com o atual desenvolvimento da indústria, a conscientização entre os produtores poderia levar à criação mais proativa de machos, à medida que os produtores veriam isso como uma fonte sustentável de renda.
Entretanto, a oferta não deveria crescer somente pelo aumento do número de animais, mas também, do aumento no peso individual. Se direcionado adequadamente, o sistema extensivo de criação de búfalos poderia ter um impacto positivo sobre a reconstrução do rebanho, especialmente quando os produtores perceberem o potencial para geração de renda adicional e a produção de carne como uma indústria se tornar mais aceitável.
Os búfalos também dão aos produtores melhor valor residual, diferentemente dos bovinos, que não podem ser abatidos legalmente na Índia. Tipicamente, os produtores indianos vendem búfalos que não estão sendo ordenhados, dependendo da condição, por cerca de US$ 150 a US$ 250 por cabeça, fornecendo um incentivo a mais para os produtores criarem búfalos.
A região de Uttar Pradesh tem a maior população de búfalos da Índia, representando 23% da população total do país (Figura 10). A concentração da indústria bovina pode ser vista nos estados de Uttar Pradesh e Andhra Pradesh, onde estão os maiores rebanhos. Os búfalos também são transportados de áreas de menor produção para importantes centros processadores de carne para processamento.
A expansão do rebanho global está enfrentando desafios, com os principais exportadores buscando reconstruir se recuperar após a liquidação de animais que ocorreu nos últimos três as quatro anos devido a diversas razões, como seca, crise financeira e doenças. O declínio no rebanho global também resultou em maiores preços da carne bovina pelo mundo, fornecendo grande oportunidade para a Índia ofertar ao mercado de carne bovina e outros segmentos selecionados através da produção de carne de búfalo. Os atuais altos preços das commodities agrícolas e utilizadas como alimentos para animais deverão ter um impacto duradouro no preço da carne, mantendo-o em níveis elevados nos próximos dois a três anos. A indústria de carne de búfalo está bem posicionada para aproveitar as vantagens dos maiores preços da carne bovina e para tomar a liderança no comércio global.
Competitividade de preços no mercado importador
Nos cinco principais mercados de exportação de carne de búfalo da Índia, a carne está em maior demanda comparado com a carne bovina importada de outros países. Com exceção do Egito, os cinco principais mercados importam pelo menos duas vezes mais carne de búfalo da Índia do que importam carne bovina do país que está em segundo lugar. O preço da carne de búfalo indiana é muito competitivo, resultado da estrutura da cadeia de fornecimento indiana.
Uma vez que não existe um sistema de criação e a carne de búfalo é um subproduto da indústria leiteira, não é fácil atribuir um custo de produção de carne de búfalo. O valor residual do búfalo é baseado nos preços internacionais, que podem ser repassados à cadeia de fornecimento. Com exceção do Vietnã, onde os preços de importação de carne bovina foram similares para os três principais países fornecedores, a carne de búfalo da Índia foi vendida na Malásia a um desconto de mais de 30% comparado com a segunda mais barata, a carne australiana, e nas Filipinas, a 25% de desconto comparado com a carne neozelandesa (Figura 11). Nos mercados do Oriente Médio, a carne de búfalo tem preços competitivos com relação à carne latino-americana, colocando a Índia entre os principais exportadores a esses países.
Consumo deverá continuar aumentando em mercados de carne bovina de baixo valor
Os países emergentes no Sudeste da Ásia, Oriente Médio e África do Norte mostraram um crescimento econômico relativamente forte (Figura 12) e esse crescimento aumentou o poder de gasto nesses países. A carne bovina também se beneficiou desse fenômeno, à medida que passou a incluída em maior quantidade nas dietas destes países. Assim, o Sudeste da Ásia, onde o consumo de carne bovina cresceu 5,6% por ano entre 2001 e 2012, ficou como a região de maior crescimento no consumo.
O mercado mais forte para o consumo de carne bovina do Sudeste da Ásia, o Vietnã, mostrou crescimento consistentemente forte no consumo. Nos últimos 12 anos, o consumo de carne bovina do Vietnã cresceu 9% ao ano. A Malásia, outro grande consumidor de carne bovina, também mostrou um consumo per capita alto, de 7,3 quilos por ano. Também observou-se que a população consumidora de carne bovina na região está buscando carne com menor preço ao invés das categorias com maiores preços.
Por isso, a carne de búfalo da Índia se adequa perfeitamente a essa categoria de demanda. Existem outros mercados com grande potencial, como Indonésia, que atualmente não importa carne de países que não são livres de febre aftosa. Entretanto, no futuro, mudanças políticas poderão resultar na abertura desses mercados à carne indiana. A demanda por carne de búfalo indiana deve crescer nos mercados do Sudeste da Ásia. Além disso, a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e a África Subsaariana oferecem novas oportunidades de mercado para a carne bovina indiana daqui para frente.
Conclusão
A indústria de carne de búfalo indiana está rapidamente se tornando nova líder mundial neste mercado. O grande e crescente rebanho fornece uma base sustentável para a Índia se tornar líder na exportação de carne de búfalo por pelo menos os próximos anos. Entretanto, a atual taxa de crescimento da produção poderia no final das contas desafiar a base de oferta em longo prazo (além de 2015) e precisaria um grau maior de atenção à reconstrução do rebanho. O consumo doméstico continuará sendo restrito a um segmento limitado da população.
A participação da Índia no comércio de carne bovina aumentou rápido na última década, colocando a carne de búfalo entre as principais commodities agrícolas exportadas pela Índia em termos de valor. As exportações de carne de búfalo cresceram significantemente devido à crescente demanda por carne bovina, que não foi suprida pelos exportadores tradicionais nos últimos três anos devido às secas, queda no tamanho do rebanho e crise financeira.
Direcionado pelo aumento no tamanho do rebanho, preços competitivos nos mercados globais e demanda de mercados de baixo valor no Sudeste da Ásia e no Oriente Médio, a indústria bovina da Índia deverá se tornar líder de mercado. A demanda por carne de búfalo da Índia pode crescer nos mercados do Sudeste da Ásia. Além disso, a CEI e a África Subsaariana oferecem novas oportunidades de mercado para a carne de búfalo da Índia no futuro.
Atualmente, à medida que o rebanho global está sob pressão devido aos altos preços dos grãos e o mundo deverá enfrentar preços elevados da carne bovina nos próximos anos, a carne de búfalo indiana está bem posicionada para aproveitar as incapacidades globais de suprir a demanda por carne. O bom trabalho da indústria de lácteos indiana deveria ver a reconstrução do rebanho acompanhando os abates, como observado no passado.
O fato de a carne bovina ser um subproduto na Índia, seu custo de produção é baixo, enquanto a estrutura fragmentada/pulverizada na base de oferta é um grande desafio e uma barreira à entrada para novos membros na indústria. Diferentemente dos mercados de carne bovina em outros países, a cadeia de produção não existe e sua construção requereria grandes investimentos. Pastagens a nível corporativo não são facilmente acessíveis e o uso de confinamentos fica inviável devido aos altos custos dos grãos. Os players globais poderiam participar da cadeia de abastecimento de carne de búfalo da Índia a nível de valor agregado, conquistando sua clientela global.
Além disso, a indústria de carne de búfalo da Índia enfrenta desafios relacionados à infraestrutura, produtividade e segurança. Para aproveitar o potencial de exportação, serão necessários investimentos para melhorar a infraestrutura de abate e processamento, transmitir o conhecimento e experiência de criação e melhorar os padrões de segurança alimentar. Entretanto, os focos de doença representam os riscos mais sérios ao aumento da indústria bovina indiana.