sexta-feira, 3 de março de 2017

Carta Conjuntura - Importação de carne bovina




Recentemente foi anunciado que um grande frigorífico importará carne norte-americana para ser distribuída no mercado brasileiro.

Alguma novidade? Nenhuma, pois importamos há tempos picanha da argentina, sem trauma algum.

A importação, será de carne premium, mais cara e dirigida para um público que gosta de comidas gourmet.

Mas por que importar essa carne?  Naturalmente, para que o frigorífico importador supra esse nicho de mercado e fature mais. Oportunidade de negócio.

E esse nicho não poderia ser atendido pelos produtores nacionais, os pecuaristas? Poderia é claro, e na verdade atende, mas, além do apelo do consumo do produto importado e o brasileiro gosta disso, especula-se que a produção lá fora seja mais barata, que o custo seja menor, que se paga menos imposto e que a ração seja mais barata. O frigorífico ganharia mais, apesar da cotação da arroba do boi gordo norte-americano ser maior.

Até aí nada demais, contudo, será ruim se a produção norte-americana for subsidiada, com facilidades para os fazendeiros norte-americanos. Nesse caso a competição seria desleal, estaríamos importando subsídios. Uma sacanagem.

Mas afinal, a carne norte-americana é melhor? Não, não é melhor, é na melhor das hipóteses, igual, de mesma qualidade, digamos assim. Os restaurantes brasileiros e as casas de carne são supridas de carne bovina de primeira qualidade, suculentas, saborosas, bem cortadas, bem embaladas, porcionadas e, originadas dos rebanhos nacionais.

E os rebanhos nacionais? Bem, aí levamos uma vantagem tremenda. Nossas boiadas são criadas em pasto, soltas, livres, respeitando a característica do ruminante, do pastejo, do descanso. Nos Estados Unidos, quase todo o rebanho é confinado desde a desmama e com dieta a base de grãos. Uma violência. Tem-se que transformar um bovino, um animal com quatro estômagos, num animal monogástrico. Dureza.

No Brasil, quando muito, apenas 10% dos bovinos abatidos são terminados em confinamento, de três a quatro meses, e não a vida toda. 

E quanto aos hormônios? Nos EUA eles são liberados e no Brasil proibidos. Como fica isso? Boa pergunta, se você é contrário ao uso de hormônios em bovinos, certamente não poderá consumir carne importada dos EUA, por que lá pode. E hormônio faz mal? Aí entramos numa discussão sem fim. Se no Brasil o uso de hormônios está banido, para que discutir isso? Carne brasileira não tem hormônio.

No ano passado os Estados Unidos abriram o mercado para a carne bovina in natura, em função desse ato, não deveríamos, em contrapartida, receber carne bovina norte-americana? Numa transação comercial, a contrapartida é inerente ao negócio e se esse cenário se desenhar, a da importação de carne premium, especula-se que o Brasil exportará para os EUA carne de zebu, carne magra para processamento em hambúrgueres. É verdade? Não sei, trata-se de especulação, mas o que importa é o equilíbrio da balança comercial, que por sermos pobres e fracos, não pode pender para o lado de lá.

Mas se você não está gostando desse negócio de carne bovina importada, faça o seguinte, recuse-a. Quando o garçom oferecer picanha argentina, desconverse e diga que prefere a nacional, se o cara insistir e oferecer um delicioso T-bone, norte americano, decline e peça um suculento contrafilé meio sangue angus, meio sangue nelore.

Se você for um purista, peça uma peça de carne de nelore, de angus, de Hereford, de Braford, de Senepol, etc., mas produzidas no Brasil, em todo o Brasil.
fonte: Scot Consultoria

RS: Rio Grande do Sul exporta carne bovina in natura para os EUA pela primeira vez




O primeiro embarque de carne in natura produzida no Rio Grande do Sul com destino aos Estados Unidos ocorreu nessa quinta-feira (02). O envio de dois contêineres, totalizando 52 toneladas, partiu da unidade Marfrig de São Gabriel. Até o momento, o frigorífico Marfrig é o único do estado credenciado a exportar carne para os EUA.

"Sem dúvida é um marco, uma grande conquista. Este foi um dia histórico para o Rio Grande do Sul, pois os Estados Unidos são um mercado com grande potencial. Parabéns à indústria Marfrig por cumprir todas as etapas e alcançar esse mercado e a todos os demais envolvidos nesse avanço e conquista, que certamente trará novas e boas perspectivas para a pecuária de corte gaúcha", afirmou o secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação, Ernani Polo, que acompanhou o embarque.

A autorização para que o Brasil iniciasse as exportações aconteceu no ano passado, quando o secretário Ernani Polo esteve em Brasília com o ministro da agricultura, Blairo Maggi. Na ocasião, Maggi trocou uma carta de Reconhecimento de Equivalência dos Controles de Carne Bovina com a embaixadora americana no Brasil, Liliana Ayalde, selando o acordo de abertura de mercado. Atualmente, em todo o Brasil, existem 11 frigoríficos habilitados.

Fonte: Governo do Rio Grande do Sul 

RS: primeiro embarque de gado vivo do ano no Porto do Rio Grande, diz Suprg




Nesta sexta-feira (03), está sendo realizada a primeira operação de carga viva na zona primária do Porto Novo, no Porto do Rio Grande, em 2017. A embarcação responsável pelo transporte é o navio, de bandeira panamenha, MV ‘Polaris-2’. Ao todo, serão exportadas cerca de nove mil cabeças de gado com destino à Turquia.

O navio Polaris-2 possui 150 metros de comprimento e 23 de largura. No ano de 2016, foram exportados à Turquia 46.481 animais vivos. Um aumento de 416% quando comparado ao ano de 2015 que movimentou apenas nove mil cabeças de gado. A primeira exportação para o país pelo porto rio-grandino foi em 2009.

A Superintendência através da Ordem de Serviço 02/2016 definiu medidas para que operações desse tipo ocorram com a menor interferência nas demais atividades portuárias.  Entre os itens resolvidos estão a determinação que a embarcação deverá chegar ao Porto do Rio Grande, com seus porões e currais limpos, sem resíduos e sem carga viva a bordo.  A medida procura garantir os menores impactos sociais causados pela aglomeração de animais.

Fonte: Superintendência do Porto do Rio Grande (Suprg) 

quinta-feira, 2 de março de 2017

Na comparação mensal carne bovina ganhou competitividade frente à carne de frango



Foto: www.independent.co.uk

Atualmente, a relação de troca entre o boi casado de animais castrados e a carcaça de frango está em 2,57. Ou seja, com o preço de um quilo da proteína bovina é possível adquirir 2,57 quilos de carcaça de frango no atacado.

Em relação a fevereiro do ano passado, esta relação está 5,5% maior, o que quer dizer que a carne bovina perdeu competitividade frente à carne de frango.

Este fato vem ocorrendo desde outubro de 2016, resultado da queda de 20,1% na carcaça de frango e de 1,0% para o boi casado de animais castrados no período.

Já em relação a janeiro deste ano a relação está 2,0% menor. Isso que dizer que a carne bovina ganhou competitividade frente à carne de frango no último mês.

Figura 1.Relação entre o boi casado de animais castrados e a carcaça de frango no atacado em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

quarta-feira, 1 de março de 2017

Dados mostram que o padrão do gado brasileiro melhorou muito


Foto: beefpoint.com.br
Dados obtidos com exclusividade por DBO mostram que o padrão de carcaças do gado brasileiro melhorou muito e já permite ao País vislumbrar a posição de vendedor de carne de qualidade e não apenas commodity.
O Brasil é apenas um produtor de carne commodity ou pode atender mercados de maior valor agregado? Esse sempre foi um dilema da cadeia pecuária bovina nacional. Inúmeros debates abordaram o tema nos últimos anos sem chegar a conclusões práticas, pois embarravam na heterogeneidade da matéria-prima entregue aos frigoríficos.
Esse cenário começa a mudar. Dados obtidos com exclusividade por DBO mostram que o padrão do gado brasileiro melhorou muito. Falta pouco – apenas um ou dois degraus – para se atingir níveis mais elevados de qualidade.Os principais frigoríficos do País (JBS, Marfrig, Minerva e Frigol) confirmam: nossas carcaças estão “saindo do vermelho”. Uma mudança digna de comemoração, mas que impõe novo desafio: articular a cadeia produtiva para decidir novos rumos.
Onde estamos? Segundo levantamento da JBS, com base no Programa Farol da Qualidade, apenas 15,27% das carcaças processadas pela companhia, entre janeiro e outubro deste ano, tinham padrão indesejável (farol vermelho), apresentando peso inadequado (abaixo de 16 ou acima de 26@), maturidade avançada (4-5 anos) e falta de acabamento, em contraste com 32,9% em 2014. Isso significa redução de 17,6 pontos percentuais O número de bovinos classificados como desejáveis (farol verde) passou de 14,47% para 18,53% e o de toleráveis (farol amarelo) de 52,55% para 66,19%. “Com algumas exceções regionais, o padrão da matéria-prima nacional melhorou por dois motivos simples: o gado está sendo abatido mais jovem e mais pesado”, explica Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da JBS, cujo abate, estimado em 7 milhões de cabeças/ano, constitui amostra representativa do gado produzido no País.
O que falta para darmos um salto maior? Diminuir problemas de acabamento e pH, que funcionam como uma trava à agregação de valor nas carcaças. Hoje, 64,8% dos animais abatidos pela JBS ainda têm gordura ausente (0 mm) ou escassa (1 a 3 mm). Já foi pior. Em 2013, esse percentual era de 67,5%.
Observou-se um leve aumento no número de animais com gordura mediana (3 a 6 mm), que passou de 30,1% para 33,4% do abate total no mesmo período, mas esse movimento é ainda tímido e quase sempre circunscrito às regiões de pecuária mais tecnificada. “Em Estados como Rondônia, por exemplo, que produz boi a pasto e foi deixando gradativamente de castrar, o percentual de farol vermelho subiu de 28%, em 2011, para 66%, em 2015. Estamos recebendo animais pesados, porém velhos, sem acabamento e com problemas de pH, por serem inteiros”, diz Fábio Dias.

Vitória da balança

Antes de discutir essa questão, contudo, é necessário compreender a vitória da balança. Não somente as indústrias relatam incremento de peso nas carcaças. Levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que os machos, por exemplo, estão pesando 1,5@ mais do que há 10 anos.
Entre 2007 e 2016, seu peso avançou de 17,2@ para 18,7@. As fêmeas passaram, no mesmo período, de 12,5@ para 13,6@. Conforme mostra o gráfico abaixo, elaborado pelo economista Alexandre Mendonça de Barros, da MBAgro Consultoria, de São Paulo, o maior salto ocorreu entre 2014 e 2015. O descolamento entre as linhas verde e azul representa uma diferença de mais de 10 kg no peso das carcaças. Os números de 2016 (linha vermelha) ainda são parciais, mas confirmam a tendência de alta. No chão de fábrica, não tem sido diferente. A JBS registrou pesos ainda maiores do que os do IBGE. Os machos passaram de 17,7@, em 2013, para 19,5@, em 2016, e as fêmeas, de 10,2 para 14@.
Mesmo sem revelar números, o Frigol diz ter observado aumento contínuo no peso das carcaças, especialmente no Pará, onde a empresa concentra 65% de seus abates. Maurício Manduca, gerente corporativo de compra de gado da Marfrig, relata aumentos de 10%, 7% e 6% no peso das categorias de 0, 2 e 4 dentes respectivamente, nos últimos quatro anos, porém o recorde de peso é do Minerva. Por exportar 70% de sua produção, essa empresa compra pouca fêmea, dando preferência aos machos, cujo peso médio passou de 18,5@, em 2014, para 20@, em 2016. “Há variações regionais.
Em Palmeiras, GO, por exemplo, a média subiu de 18,4@ para 19,2@ nesse período; em Araguaína, TO, de 17,5@ para 18,5@, e, em Bonifácio, SP, de 19,1@ para 20@”, informa Fabiano Tito Rosa, gerente de compra de gado da empresa. Os bovinos abatidos no País também estão mais jovens. Em 2013, 56,7% dos machos abatidos pela JBS tinham até quatro dentes incisivos definitivos (30 a 36 meses de idade); hoje, esse percentual é de 67,2%, com expressivo crescimento na categoria de até dois dentes (15,4% para 27%). Os animais erados (oito dentes ou 4-5 anos de idade) caiu de 17,4% para 11,9%. Os números da Marfrig também indicam avanços: em quatro anos, a participação dos novilhos dente de leite no abate aumentou em 4% e a dos machos de oito dentes diminuiu em 3%.
O Frigol confirma redução na idade do gado, especialmente em São Paulo. Já o Minerva não observou muita mudança nesse quesito porque trabalha com bois de até 36 meses, que lhe permite atender todos os mercados de exportação. “Se eu tinha 75%-80% de animais até essa idade, agora tenho 80%-85%. O que posso afirmar é que ficou mais fácil achar essa matéria-prima”, diz Tito Rosa.

Propulsores do peso

Segundo Flávio Portela, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), a causa dessa evolução em peso e precocidade é conjuntural. “Claro que os investimentos feitos em nutrição, genética e sanidade ajudaram, mas o principal elemento propulsor foi a alta do bezerro. Com ágios que ultrapassaram a barreira dos 40%, os produtores foram obrigados a diluir seus custos aumentando o peso das carcaças”, salienta. Essa estratégia ganhou força especialmente entre 2014 e 2015, apesar do milho caro. Nesse período, o bezerro Nelore chegou a atingir picos de R$ 1.400. “Hoje, já está mais barato, porém suponhamos que um animal de 6@ seja comprado por R$ 180 a arroba e que o boi gordo esteja a R$ 145/@.
De cara, o produtor já começa com um prejuízo de R$ 35/@ ou R$ 210/cab, que precisa ser diluído nas etapas seguintes”, diz Portela. O ágio do bezerro, que estimulou o aumento de peso das carcaças, está inserido no processo de intensificação da pecuária, acrescenta Flávio Dutra de Resende pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), polo regional de Colina. “Como a margem do produtor diminuiu, ele foi obrigado a produzir mais por hectare em menor tempo, acelerando o ciclo produtivo”, diz Dutra, que é um dos “pais” do chamado boi 7-7-7, abatido aos 24 meses após ganhar 7@ na cria, 7@ na recria e 7@ na terminação.
Para produzir esse tipo de animal, é necessário suplementá-lo desde a desmama, prática já bastante difundida no País. “Todo mundo hoje dá um trato no gado”, salienta Tito Rosa, do Minerva, informando que 90% dos bois abatidos pela empresa, nesta entressafra, passaram pelo cocho (75% em confinamento e 15% em semi). Na safra, esses percentuais foram de 40% e 30%, respectivamente.
Uma quantidade muito expressiva em comparação com os 5% e 10% de 2014. As vendas de insumos refletem essa nova realidade da pecuária. Conforme levantamento da Associação Brasileira de Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram), em 2015 as vendas de suplementos proteico-energéticos (principais produtos usados para tratar bovinos a pasto) cresceram 22,1% em comparação com 2014, passando de 193.454 para 235.629 toneladas.
Sua participação nas vendas totais subiu de 13% para 17,5% no período. No Mato Grosso, 18,5% dos bois já são arraçoados (6,4% em confinamento e 12,1% em semi), conforme estudo feito pela Acrimat, associação dos criadores do Estado. A integração lavoura-pecuária, adotada por 30% dos pecuaristas entrevistados na pesquisa, também contribuiu para a redução na idade de abate e a produção de carcaças cada vez mais pesadas, com a ajuda de duas ferramentas gêmeas no Brasil: boi inteiro e confinamento.
Fonte: Portal DBO