quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O conceito "isso não dá pra fazer"...

por Miguel Cavalcanti


Ontem a noite participei de um evento de um projeto interessante, que nos faz pensar no futuro da pecuária.

Fui num jantar em um dos melhores restaurantes de SP, o Figueira Rubaiyat, para conhecer o programa Marfrig+, lançado pelo frigorífico com uma série de parceiros. Alguns dos principais professores, produtores e lideranças da pecuária estavam presentes.

Um momento interessante para encontrar uma série de pessoas que admiro, respeito e aprendo. Como o Prof. Celso Boin, fundador do BeefPoint, com quem sempre aprendo muito.

O evento contou a fala de Marcos Molina, Andrew Murchie ambos do Marfrig e também de Cau Paranhos, presidente da ABCZ, Pedro Novis, presidente da Nelore, Paulo Marques, presidente da Angus e Gustavo Junqueira, presidente da SRB.

Marfrig+ é um avanço em relação ao programa de fomento atual da empresa. Agora, vão trabalhar com embriões sexados de macho, produzidos a partir de matrizes de alta qualidade genética. A empresa parceira na parte técnica é a In Vitro.

Em 2014, o projeto piloto foi de 20 mil matrizes, para 2015, a meta é de 300 mil matrizes, que segundo a empresa, já foi fechada até ontem no evento. Para 2016, a meta é de 600 matrizes, e um milhão para 2017. Ou seja, um plano muito audacioso de ampliação. Hoje o programa de fomento Angus da empresa, chega a 200 mil matrizes e tem alguns anos de estrada.

Grande parte do foco da apresentação foi nos ganhos genéticos, no potencial de se multiplicar uma genética realmente superior, usando vacas muito produtivas para gerar oócitos. E como a fertilização é invitro, e se produz muitos embriões com apenas uma dose de semen, é possível investir em touros de altíssimo valor genético. Com isso, os ganhos genéticos seriam muito mais altos.

Eu acredito na genética como uma ferramenta poderosa e muito importante, mas o que mais me chamou a atenção foram outras coisas.

Primeiro, no evento estavam presentes diversos elos da cadeia. De donos e operadores de restaurantes, como Belarmino Iglesias, do Rubaiyat, Arri Coser, ex-Fogo de Chão e atual NB Steak, e até Peter Rodenbeck, que trouxe a rede Outback para o Brasil, e participou do primeiro evento que realizei, ainda estudante na Esalq. 

Confinadores de destaque como Andre Perrone, Wilson Brochmann e Victor Campanelli. Produtores de genética como Jacarezinho, que é uma das parceiras do projeto piloto. Além é claro das duas principais raças da atualidade no Brasil, em rebanho e venda de semen - Nelore e Angus.

É muito bom ver a cadeia toda reunida, de ponta a ponta, da genética ao churrasco, numa sala só, falando de futuro e de inovação.

E mais interessante de tudo, na minha opinião, foi uma visão mais global e gerencial do projeto. O objetivo do projeto é criar manuais de produção, indicadores de performance, e ter reuniões periódicas com o conselho técnico, que é composto por uma série de notáveis como Celso Boi, Bento Ferraz, Roberto Carvalheiro, Fernando Garcia e Pedro de Felício. E também reuniões de trocas de experiências entre os produtores, com comparação de resultados, indicadores e experiências. Me lembrei do trabalho que a Exagro faz com o benchmark de seus clientes. 

Eu acredito muito nesse modelo de troca de experiências e acompanhamento de indicadores chave. Em todos os lugares que eu vou, vejo as pessoas, os profissionais de alto resultado, de alta performance, medindo apenas algumas coisas, medindo de forma consistente e procurando melhorar todos os dias.

No evento, eu encontrei Helder Hofig, que faz um trabalho incrível de gerenciamento e de gestão de pessoas (foi das palestras mais bacanas do workshop sobre gestão de pessoas que fizemos ano passado). me lembrei também que a diferença de um McDonalds, de um Outback, está no fluxo, na eficiência de cada uma das operações que são feitas dentro e fora da loja.

Me lembrei também que a pecuária é um negócio de ciclo longo. Do dia que você resolve criar uma bezerra, que vai virar uma vaca, produzir um bezerro, que vai virar garrote, boi gordo, carcaça, peça de carne, até chegar no meu prato, assado, se passou um longo tempo. Se passaram muitas etapas. E não temos padronização, não temos uniformização, não temos boas práticas nessas etapas. E eu fico encucado, pois eu acredito que é possível encontrar boas práticas para tudo, ou pelo menos para quase tudo...

E nesse processo, com o convite do ex-presidente da CFM no Brasil, David Makin para tocar esse projeto, eu acredito que é mais um sinal de que o foco será em operação, em escala, e em boas práticas. Uma das coisas que eu mais acredito na CFM é o extenso trabalho que fazem para medir, avaliar e melhorar. Por exemplo, eles têm um manual de boas práticas de sanidade na fazenda. Quantas fazendas que você conhece tem um?

E me lembro de um artigo, há anos, do David sobre rastreabilidade, que era uma cutucada nos que achavam que era "impossível"...

Ele disse em um artigo, de 2003, publicado aqui no BeefPoint: "Não posso concordar que colocar brinco no bezerro antes do desmame e coletar suas informações periodicamente seja um desafio difícil de superar. A CFM já colocou brinco em 65 mil animais."

Uma boa reflexão para pensarmos sobre o quanto podemos avançar e o quanto queremos mesmo inovar. Não estou defendendo uma técnica ou uma ferramenta, mas questionando nosso conceito de "isso não dá para fazer"...

Eu desejo sucesso a essa empreitada, com tanta gente boa, com tanta gente que eu admiro e aprendo. E minha recomendação é que foquem no sistema, no fluxo de produção de ponta a ponta, medindo o que realmente importa, distribuindo essa informação, para que todos possam saber se estão bem (ou ruim) e possam melhorar, sempre.
fonte: Beefpoint

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