Os frigoríficos brasileiros iniciaram o ano com alta nos preços do boi gordo, que permanece em patamar recorde e demanda mais fraca no mercado doméstico e em importantes países importadores como Rússia e Venezuela, o que fez suas margens caírem ao menor patamar desde 2008.
Além disso, os frigoríficos, em especial os pequenos e médios, também convivem com dificuldades para obter crédito. Diante da combinação desses fatores negativos está em curso um movimento de redução ‘forçada’ da capacidade de abate, com fechamento de unidades, férias coletivas e demissões.
“Se a arroba do boi gordo continuar como está hoje no mercado físico, é suficiente para tirar muito frigorífico do mercado”, avalia o coordenador da área de pecuária da Agroconsult, Maurício Nogueira, salientando que já há casos de frigoríficos que apresentam margens negativas, em especial entre os que não exportam. Mesmo entre frigoríficos que acessam o mercado externo, há exemplos de margem no vermelho.
Negativas ou não, as margens estão em níveis baixíssimos. Levantamento realizado pela Agroconsult aponta que, em março, a margem bruta dos frigoríficos foi de 1,99%. Trata-se do pior nível desde julho de 2008, quando as margens ficaram negativas em 5,53%. O cálculo da consultoria para a margem bruta considera a diferença entre o preço do boi gordo no Estado de São Paulo – balizador dos preços no país – e da carne desossada no atacado paulista, principal mercado consumidor.
Para Nogueira, a compressão de margens reflete, de um lado, as cotações recordes do boi gordo. Do outro lado, está a fraca demanda, especialmente neste ano. Entre janeiro e março, o preço da carcaça bovina vendida no atacado paulista caiu 1,2%, de acordo com a Agroconsult. O preço dos cortes desossados caiu mais, 2%. Essa queda no atacado não foi repassada ao consumidor, que viu um aumento de 0,76% nos preços médios dos cortes no varejo.
De acordo com Nogueira, a oferta de boi deve continuar restrita na maior parte do ano, ainda que com melhoras pontuais, o que dificulta a vida dos frigoríficos.
Essa opinião é compartilhada pelo analista do Rabobank, Adolfo Fontes. “Houve uma redução da oferta de gado que puxou os preços e isso deve continuar daqui para frente”, diz, citando a necessidade de recompor o rebanho após anos de forte aumento dos abates.
No mercado interno, o preço da carne já está muito alto e o consumidor, que também lida com uma inflação elevada, vem optando por comer mais carne de frango. “Muitos relatórios mostram que no ano passado houve substituição para a frango. Não deve ser diferente neste ano”, projeta Fontes.
As exportações – mesmo que beneficiadas pela desvalorização do real – iniciaram o ano sofrendo os efeitos da queda dos preços do petróleo que atingiu alguns dos principais importadores do Brasil: Rússia, Venezuela, especialmente.
Líder nas importações da carne brasileira, Hong Kong até elevou as compras do produto – 1,46% em receita e 5,7% em volume -, mas isso não compensou a queda nos outros países.
Para os próximos meses, há alguma expectativa de melhora, sobretudo na Rússia. Ainda que seja difícil precisar o nível de preço que os russos aceitarão – a moeda russa também sofreu forte depreciação -, os estoques de carne bovina dos russos estão se esgotando e o país terá de ampliar suas compras.
Mesmo com alguma melhora, o cenário de margens pressionadas continua e terá consequências. Para analistas, a fase crítica tende a resultar em maior concentração de mercado, o que pode favorecer o interesse de investidores chineses e de empresários como José Batista Júnior, o Júnior Friboi.
“A tendência é que o mercado esteja mais concentrado quando esse ciclo acabar”, afirma o operador da mesa de futuros do BESI Brasil, Leandro Bovo. Essa avaliação é corroborada por Luciano Pascom, vice-presidente do Frigol. “Acho que vai haver um rearranjo de companhias e vamos ter menos empresas no fim do ano”. De certa maneira, isso está ocorrendo. Empresas como Frigol e Fialto reduziram os abates e, no caso da primeira, funcionários que pediram demissão não foram repostos, afirmou Pascom. Recentemente, dois frigoríficos pequenos de Mato Grosso do Sul fecharam as portes e, mesmo entres grandes, já houve casos de férias coletivas.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
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