Embarques de animais disparam no Estado, criando polêmica entre frigoríficos e pecuaristas
Os números da Superintendência do Porto de Rio Grande indicam que, ano passado, foram embarcadas – tudo para a Turquia – 85,3 mil cabeças, número recorde e quase o dobro de 2016. O movimento fez o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicadergs) pedir intervenção do governo gaúcho, em busca de controle das exportações. Após duas reuniões, ficou decidido que o Estado vai monitorar os embarques neste primeiro trimestre, mas sem se comprometer com medida.
O diretor-executivo do Sicadergs, Zilmar Moussalle, diz que a preocupação cresce devido à expectativa de aumento maior das exportações em 2018, de 280 mil a 350 mil cabeças do Estado. A estimativa, que teria como base número maior de empresas no ramo, é encarada com ceticismo por outros conhecedores do tema. Moussalle sustenta que, além de prejudicar os frigoríficos,
as exportações afetam outros setores – como o coureiro-calçadista, farmacêutico e graxarias, que dependem da matéria-prima da pecuária –, não geram empregos e não pagam impostos. Como a preferência é por animais jovens, a situação também diminuiria a oferta de terneiros para pecuaristas que se dedicam à terminação, sustenta o dirigente. A busca é por animais das raças angus, hereford e cruzas.
– Eles (os exportadores) levam a nata do gado do Estado, pagam mais, e o produtor quer que o frigorífico pague o mesmo pelo que ficou de sobra. Se a indústria não tiver o que abater, vai buscar carne em outros Estados e demitir – diz Moussalle, acrescentando que o setor gera hoje cerca de 14 mil postos de trabalho no Estado.
O presidente da Associação Brasileira de Angus, José Roberto Pires Weber, rebate. Para ele, deve continuar prevalecendo o livre mercado, e o fato de as exportadoras pagarem mais pelos animais tem servido como fator de reação de preços em momento de baixa.
– Quando houve o problema da Carne Fraca, os nossos frigoríficos importaram carne de lá (do centro do país) e depreciaram nosso produto. Não tomamos medida, nem pedimos intervenção – compara.
Segundo Weber, no ano passado, o mercado chegou a pagar R$ 5,80 pelo quilo vivo do terneiro e agora já se fala em R$ 6,50.
Negócios servem como incentivo para investir
O consultor na área de pecuária Fernando Velloso entende que as exportações não canibalizam os frigoríficos. Cita a Austrália como grande vendedora de carne e de bovinos vivos para outros países, assim como o Uruguai – que bateu recorde em exportação de ambos no ano passado.
– Se o criador produz um terneiro que tem boa colocação no mercado, vai investir mais em genética, adubação, ampliar sua escala. Gerando inclusive excedente para o processamento nacional – diz.
O superintendente do Ministério da Agricultura no RS, Bernardo Todeschini, indica ser pouco factível que a demanda por exportação se aproxime de
300 mil cabeças. Único destino dos embarques de gado gaúcho nos últimos dois anos, a Turquia tinha cota de importação de 500 mil animais da metade de 2017 ao final de 2018, diz Todeschini. Grande parte já foi comprada. As aquisições também não teriam sustentação a longo prazo, apenas por um período em que os turcos tentam recuperar o estoque de fêmeas.
Pressão por bem-estar animal
Outra fonte de pressão para as exportações de gado em pé vem de entidades de proteção dos direitos dos animais. O porto de Santos suspendeu há cerca de 10 dias os embarques, por determinação da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que administra o terminal.
A medida foi tomada após pressão do deputado federal Ricardo Izar (PP-SP), militante da causa. A alegação do parlamentar foi de que a operação submetia os animais a maus-tratos antes e depois do embarque. A decisão afetou o grupo Minerva, maior exportador do país, que teria embarque programado para o fim do mês. São Paulo é o terceiro maior
exportador de gado vivo, atrás do Pará e do Rio Grande do Sul.
exportador de gado vivo, atrás do Pará e do Rio Grande do Sul.
O consultor Fernando Velloso considera salutar a discussão sobre bem-estar, entende que, com o tempo, as práticas serão aperfeiçoadas, mas vê exagero. Lembra que submeter os animais a maus-tratos seria contraproducente.
– Se os animais não forem transportados com os devidos cuidados no trajeto, chegam ao destino pesando menos. Isso é antieconômico – observa.
fonte: ZH
Um comentário:
A resolução do problema é muito simples, basta que os frigoríficos se tornem competitivos e paguem o mesmo (ou até mais) por esses mesmos animais quando eles são terminados aqui no estado. Na prática, os frigoríficos usam de práticas da oferta e da procura nos meses de retirada de gado das pastagens de inverno ou ao final do ciclo de engorda em campos nativos, o que encurrala o produtor que se vê obrigado a vender pelo menor preço. Agora os frigoríficos estão "ameaçados"??? Por favor, onde está a coerência? Valorizem esses mesmos produtos de excepcional qualidade quando eles estão disponíveis e não usem de práticas abusivas apenas porque tem mais oferta em certas épocas do ano.
Lus Fabiano Santos da Costa
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