terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Aftosa e leite estão no radar do novo secretário da Agricultura

Ernani Polo fala sobre prioridades à frente da pasta que irá assumir a partir de janeiro


Aftosa e leite estão no radar do novo secretário da Agricultura Arquivo pessoal/Arquivo pessoal
Nascido em Ijuí, Polo foi criado em Santo Augusto. Como deputado, presidiu a Comissão de Agricultura da Assembleia LegislativaFoto: Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Criado no meio rural, o deputado estadual Ernani Polo (PP), escolhido para assumir a Secretaria da Agricultura no governo de José Ivo Sartori (PMDB), não dissocia a sua história de vida da atividade. Nascido em Ijuí, cresceu em Santo Augusto, no Noroeste, onde a família mantém até hoje propriedade de 120 hectares dedicada ao cultivo de grãos e à pecuária de leite.
— Toda minha história de trabalho é na agricultura — afirma Polo.
O traquejo político também vem de família: o pai, Alvorindo, foi prefeito de Santo Augusto por duas vezes, e a mãe, Iracer, vice. Primos e tios também passaram pela Câmara de Vereadores, onde ele começou a carreira. Casado com a advogada Alessandra, é pai de Maria Eduarda, nove anos, e Eduardo, três anos. Confira trechos da entrevista concedida a ZH.
Quais serão as prioridades da secretaria?
Sanidade é uma. Fortalecimento do setor de agroindústrias é outra prioridade importante. O trabalho integrado e diálogo permanente com os setores de produção serão uma constante. Buscando entendimento, tentando construir o processo ideal ou mais próximo disso. A gente sabe que não terá solução para todos problemas, mas conversando, você pode avançar. A grande função no comando da agricultura é o envolvimento das cadeias produtivas, discutindo, dialogando, fazendo interlocução com o governo federal, entidades privadas, parcerias. Esse é o caminho, principalmente com o desafio que se tem em função da dificuldade (financeira) do Estado.
O senhor trabalha com meta de retirar a vacina contra a febre aftosa?
Quero avançar na discussão. Na verdade, já tem um grupo de trabalho formado por Secretaria da Agricultura, Ministério da Agricultura, Fundesa, Fetag, Farsul discutindo isso. Temos de aprofundar o debate, com viés técnico, sem interferência e decisão política. A decisão política é promover a aprofundar o debate. Tem de se fazer uma avaliação criteriosa, para poder avançar, porque isso nos dará outro patamar.
Mas o objetivo é a retirada da vacina?
Lá na frente, quando tiver maduro, quando se tiver buscado pelo menos o consenso. Talvez daqui a dois anos, três anos, talvez antes. Depende de como avançar a discussão. Hoje, gastamos, pelas informações que tive, R$ 80 milhões por ano em vacina. Daqui a pouco se utiliza isso como um instrumento de apoio. O resultado não é só na pecuária, é no leite, cadeia que está crescendo e passou por problemas. Acho temos de virar a página, fazer agenda positiva. Tem também impacto nos suínos. Hoje, Santa Catarina exporta para o Japão, Chile, Estados Unidos, que são mercados que nós nem sentamos para conversar. No momento que tivermos essa condição e esse status sanitário (livre sem vacinação) abrem-se novas portas.
Para retirada da vacina há necessidade direta de reforço de fiscalização, sobretudo na Fronteira, o que exige mais gente. Há ainda a rastreabilidade, que causa polêmica... 
Esse é outro ponto que teremos de avançar, tentar construir. Sei que é um assunto que foi discutido e não avançou. Teremos de sentar à mesa e tentar construir uma alternativa. O caminho é esse, temos de avançar. A forma, o jeito como vamos fazer, não sei. Não tenho regra pronta.
O atual governo apresentou projeto de lei que tornava obrigatória a rastreabilidade. Houve grande resistência e a proposta foi retirada. Qual modelo o senhor apresentará?
Isso tem de ser discutido. A ideia é avançar, construir alternativa. Quero é retomar a discussão. É bom para o setor, e é necessária.
O senhor pretende chamar mais gente do concurso da secretaria feito em 2013 — há cadastro reserva de 503 pessoas?
Não tenho como afirmar, porque vou chegar lá e tomar pé da situação. Quero ter o maior contato, a maior relação possível com o servidor, porque precisamos ser aliados neste processo. Todos temos o mesmo objetivo e os servidores cumprem um papel importante. O fortalecimento do setor produtivo, principalmente do agroindustrial, precisa ser valorizado, estimulado até para que o Estado realmente retome no futuro uma condição econômica melhor. A economia está muito ligada ao setor primário e isso passa pelo processo de agroindustrialização.
Como impedir que as fraudes do leite sigam ocorrendo, prejudicando o setor?
A fiscalização é fundamental de ser feita, mantida, ampliada. A grande maioria das pessoas que trabalho no setor é séria. As fraudes precisam ser coibidas porque esse é um alimento que vai dos bebês até uma pessoa de idade. A notícia acaba levando à mente das pessoas uma imagem de todo o setor. Isso prejudica uma cadeia importante para o Estado.
Tratar o problema abertamente não é a melhor maneira?
Já aconteceu e teve mais algumas ocorrências recentemente, mexeu, fez com que posições e decisões que não eram tomadas pudessem ser adotadas em função disso. Mas a ideia é construir uma agenda positiva. Mantendo o controle, a fiscalização. Para potencializar e vender a coisa boa do setor que tem inserção e representatividade significativa no Estado. Produção de leite é quase um violão, para tocar direito tem de estar bem afinado.
O Estado criou o Fundoleite e o Instituto Gaúcho do Leite, que tiveram resistência de Farsul e Sindilat. Como vê essa questão?
Entendo que talvez alguns ajustes, não saberia quais, precisem ser feitos. É um processo que não tem alinhamento. Os problemas fora são tantos que dentro do setor nós precisamos estar sintonizados. Se não tivermos posicionamentos convergentes, fica muito mais difícil de enfrentar os problemas que estão fora. Há necessidade talvez de ambos os lados cederem. Alguma coisa precisa ser feita, porque tem esse ruído.
O futuro governo fala em agilizar licenças ambientais. O que quer dizer isso? E que leitura o senhor faz da resistência ao nome de Ana Pellini para o Meio Ambiente?
Entendo que quem está no meio ambiente, sem dúvida, tem de ter cuidado na preservação. Mas tem de buscar isso dentro de um limite que não inviabilize investimentos, seja no setor agrícola ou em outros. Não por culpa do órgão em si, mas pela falta de infraestrutura. A Ana (Pellini), quando esteve na Fepam (entre 2007 e 2009) dinamizou, acho que é isso que precisa. Não é atropelar o processo. Mas ter essa margem de flexibilidade. Tem outros Estado com modelos mais ágeis e que dão uma resposta mais rápida ao empreendedor.

Nenhum comentário: