Vendas curam tudo. Salve a exportação de terneiros!
Foto: Divulgação/Assessoria
Por Fernando Furtado VellosoAssessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha
Acredito muito nessa expressão do marketing (desconheço o autor e o Google não soube me responder). Quando os negócios estão ocorrendo e os produtos sendo demandados, até algumas falhas de gestão e de falta de produtividade são contornadas. Porém, quando as vendas param, não há boa gestão e qualidade total que resistam. As vendas estão para os negócios como o sangue circulante sendo bombeado com força e sem interrupção, para a manutenção da vida. Não é diferente na pecuária.
Pois bem, em um momento muito crítico da pecuária brasileira e, em especial, da pecuária gaúcha que vivemos e conhecemos mais, é retomada com boa força a exportação de terneiros do RS para a Turquia. Em um período tão deprimido de preços para todas as categorias animais (boi gordo, reposição, gado de cria) o “navio” iniciou compras na faixa de R$ 5,80/kg para terneiros inteiros, praticamente 15 a 20% de sobrepreço ao boi gordo. Essa cotação está acima da média das vendas de terneiros na temporada de outono (desmame) e bastante superior aos negócios praticados para gado de reposição até a recente retomada de exportações de gado vivo no RS. A presença no Sul de raças europeias, preços de gado atrativos e cambio favorável fizeram a combinação para que as exportações de gado vivo voltassem à ativa. Esse fato foi muito importante para manter o pecuarista com confiança na cria, realizando investimento em reprodutores e melhoramento genético. Na largada da temporada de touros no Sul, o fato teve feliz sincronia com a nossa necessidade de alguma sinalização real e positiva no mercado.
A nossa indústria frigorífica (e até algumas federações de produtores) vem, há anos, batendo firme no discurso contrário à exportação de bovinos no Brasil, com um discurso já batido (e saturado): “estamos exportando divisas, matéria-prima que deveria ser processada no País para gerar mais riquezas”. A mesma indústria da Carne Fraca, Batista Brothers e tantos outros escândalos que derreteram o nosso mercado, sem se preocupar se o produtor teria canal de venda para o seu produto.
A exportação de bovinos vivos movimenta mais de 5 milhões de bovinos anualmente em todo o mundo, sendo equivalente a 2,5 vezes o abate do RS. Essa atividade existe por motivos religiosos, culturais ou até mesmo por questões puramente econômicas. A Austrália é um dos protagonistas, sendo o líder em exportações marítimas. Esse mesmo país é um dos maiores exportadores de carne do mundo e para mercados de alto valor. Logo, dizer que a exportação de boi vivo é uma atividade de países subdesenvolvidos ou que é algo incompatível com o desenvolvimento do mercado da carne de qualidade é desconhecimento ou falta de honestidade intelectual. Como dizia o finado Leonel Brizola: os “interésses” são muitos.
A exportação de bovinos no Brasil ainda atende aos mercados do “segundo grupo” em termos de qualidade e preços praticados, mas o setor vem se preparando e trabalhando para acessar mercados mais especializados e de valor agregado (terneiras e novilhas europeias para reprodução, matrizes leiteiras, reprodutores, etc.). Esse avanço será muito positivo para os produtores do Sul do Brasil, pois nos oportunizará mais um canal de comercialização e trará mais uma força geradora de demanda e formadora de preço a nosso produto. Com o gado valorizado, investiremos mais em produção, intensificação dos sistemas, melhoramento genético, sanidade dos rebanhos, e tudo mais que for necessário para produzir mais e melhor. O pecuarista responde às demandas do mercado e investe em sua atividade, mas precisa da confiança de que o produto será absorvido e com valor justo. Com demanda forte, a velha discussão de preços perde o seu sentido.
Somos o que vivemos, lemos e também o que escrevemos. Aproveite tantos meios possíveis de informação para formar opinião baseada em boas e honestas informações. Em tantas conversas e encontros com amigos por nosso estado agradeço a sugestão do tocaio Fernando Petruzzi (Rédea Remates) para redigir este artigo e provocar esta discussão.
As vendas curam tudo
A nossa pecuária vinha doente e fragilizada. A retomada das exportações de terneiros no RS foi o primeiro medicamento para nos ajudar a levantar. Como dizia um senhor francês muito experiente com quem trabalhei com exportação de boi: “Fernando, at the end of the day (no fim do dia): o importante é vender”.
* Publicado na coluna Do Pasto ao Prato, Revista AG (Novembro, 2017)
Nenhum comentário:
Postar um comentário