Especialistas esperam aumento da demanda no mercado interno com o aquecimento da economia
A demanda externa por carne bovina deve continuar aquecida em 2019 e vir acompanhada de uma leve recuperação no mercado interno, projetam analistas. Os embarques devem crescer 20,0% em volume em 2018 e manter o ritmo de alta no ano que vem.
A perspectiva de aumento das exportações de carne bovina está amparada na recente reabilitação de cinco unidades de abate para exportação à Rússia – que barrou a entrada do produto brasileiro em dezembro do ano passado – e na expectativa de que a China autorize novas plantas para exportar ao país asiático.
“Os embarques devem crescer 20% em volume neste ano e acredito que esse patamar deve se repetir no ano que vem”, projetou o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, no Encontro de Analistas realizado em São Paulo, na sexta-feira, 23.
Em 2017, o Brasil exportou 1,5 milhão de toneladas de carne bovina, com receita de US$6,20 bilhões.
Conforme o CEO do Frigol, Luciano Pascon, há “muito espaço” para repetição do cenário de exportações deste ano em 2019. “Os embarques devem crescer pelo menos em 50 mil toneladas por mês no próximo ano.”
Para ele, o comportamento dos frigoríficos de ampliar as vendas no mercado externo ao longo de 2018, em uma estratégia para minimizar os impactos da menor demanda no mercado interno e aproveitar a cotação do dólar, deve se manter no ano que vem. “Nós ampliamos de 15% para 30% a participação das exportações na nossa receita neste ano”, exemplifica o executivo.
O frigorífico aumentou em 17% o volume de abate no acumulado do ano, sendo que nas linhas de maior valor agregado a produção aumentou 37%. Mas, ainda que o cenário seja positivo, há preocupação. O presidente do conselho do Centro de Conhecimento em Agronegócio (Pensa/USP), Decio Zylbersztajn, criticou os posicionamentos do novo governo em relação à política externa, a exemplo do atrito diplomático entre Brasil e Egito, após o presidente eleito Jair Bolsonaro manifestar a intenção de mudar a embaixada de Israel de Tel Aviv para Jerusalém. “São pequenas ações que poderiam ter sido evitadas”, disse, ao manifestar preocupação com as relações entre o Brasil e a China.
O diretor da Radar Investimentos, Leandro Bovo, lembra que a China responde hoje por metade das exportações de carne brasileira e que o País tem condições de ampliar a parceria. “A tendência é que isso seja ainda maior em 2019”, disse. “Às vezes, uma questão política pode gerar uma consequência na relação comercial, mas essa ainda não é uma preocupação enorme.”
Mercado interno
O CEO do Frigol avalia que a demanda deve crescer no mercado interno em 2019. “Se o novo governo conseguir realizar as reformas, vamos conseguir ver o mercado crescendo.”
Na avaliação do pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Sérgio De Zen, a expectativa é de um aumento de renda, mas que não deve se refletir em incremento expressivo no consumo. “Teremos um aumento moderado [na demanda], não dá para esperar milagre”, salienta. “O que pode acontecer é que o consumidor migre para carnes de maior valor agregado.”
Na avaliação de Torres, da Scot Consultoria, a demanda no mercado interno não chegou de fato a recuar, mas também não cresceu. “Com o aumento de produção de carne, o preço deveria ter desabado, o que não aconteceu.” Para 2019, ele projeta cotações de boi gordo sustentadas pela menor oferta de animais.
Fonte: Scot Consultoria
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