Caio Cigana caio.cigana@zerohora.com.br
Com a temporada prestes a começar, ainda não há consenso sobre a tendência para os negócios nos remates da primavera. Os prognósticos oscilam da euforia à expectativa de estabilidade, passando pelo otimismo moderado. De um lado, leiloeiros apostam em preços superiores ao ano passado e, mais animados ainda, os bancos anunciam o dobro do volume de crédito em comparação ao oferecido no último ciclo. Para produtores, no entanto, a maior probabilidade é de manutenção dos valores dos reprodutores, embora existam projeções de resultados superiores, mais por estratégias comerciais próprias do que aquecimento do mercado.
Para o presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Estado (Sindler), Jarbas Knorr, ao final da temporada os preços devem fechar entre 15% e 20% acima do ano passado, quando a média dos touros nos leilões – oficiais e particulares chancelados pelas associações de criadores – ficou em R$ 6,67 mil. O principal ponto a influenciar os valores, avalia, será a redução da oferta de reprodutores, reflexo do avanço da agricultura sobre as áreas da pecuária.
Visão um pouco diferente tem o colega Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates. O leiloeiro acredita em uma valorização dos touros de ao menos 5%, mas espera um aumento da oferta no circuito. Segundo Silva, consequência da iniciativa de muitos pecuaristas de também começarem a produzir genética nos últimos anos. Apesar da maior disponibilidade de animais e de uma possível estabilidade da demanda, a valorização seria puxada principalmente pelos reprodutores de maior qualidade.
– Touros que foram vendidos por R$ 8 mil, R$ 9 mil ano passado, sairão por até R$ 12 mil. Mas outros vão sair por R$ 5 mil – observa o leiloeiro.
Os proprietários têm um discurso moderado. Para Angelo Bastos Tellechea, proprietário da Cabanha Umbu, de Uruguaiana, que promove no próximo dia 26 (veja a lista completa na página 6) um dos primeiros remates de primavera, o mercado indica a manutenção dos das médias “em torno de R$ 6 mil”:
– Não há razão maior para euforia.
O sentimento de que as médias serão semelhantes às da primavera de 2012 é compartilhado por José Roberto Pires Weber, da Estância Santa Thereza, de Dom Pedrito, com remate agendado para o dia 25 de outubro. Um dos destaques, acredita o criador, pode ser a busca crescente por fêmeas.
– Nos remates de rústicos da Expointer deste ano, as fêmeas já tiveram grande procura e liquidez – diz Weber.
Adiantar calendário vira estratégia
Se o mercado tem cada vez mais concorrentes e o momento não é de euforia, algumas cabanhas buscam diferentes estratégias para se diferenciar e potencializar as vendas. Entre as ações está adiantar as datas dos remates. Por diferentes visões, foi o que fizeram as cabanhas Umbu, de Uruguaiana, e Guatambu, Alvorada e Caty, que se unem para leilão conjunto em Dom Pedrito.
O proprietário da Umbu, Angelo Bastos Tellechea, lembra que, tradicionalmente, o remate do criatório era realizado na primeira quinzena de outubro. Ano passado, foi dia 18. Agora, resolveu antecipar para setembro.
– Noto a preferência dos clientes por receber os touros antes. Assim, há mais tempo de aclimatação nas propriedades – diz Tellechea, referindo-se ao tempo que os reprodutores têm para se adaptar à nova morada até o início da temporada de acasalamento.
No caso do remate das cabanhas Guatambu, Alvorada e Caty, que chega à 41ª edição – e era normalmente realizado no último sábado de outubro – passou para o primeiro.
– É para tentar fugir do período de maior concentração de leilões – admite o proprietário da Guatambu, Valter José Pötter.
Oferta maior dos bancos para negócios na temporada
Se entre os produtores há comedimento ou otimismo moderado, nos bancos a expectativa de negócios é grande para os remates de primavera. Entre os principais agentes financeiros que atuam no crédito rural, o Banrisul, por exemplo, oferecerá R$ 150 milhões para a temporada, quase o dobro do ano passado – R$ 80 milhões. O Banco do Brasil (BB) anunciou R$ 100 milhões durante a Expointer. Em 2012, foram R$ 50 milhões.
– Esse aumento significativo de recursos se deve à demanda que estamos notando – diz o superintendente de crédito rural do Banrisul, Carlos Barbieri.
Além dos leilões de feiras e exposições, o banco estatal gaúcho estuda financiar remates que não fazem parte do circuito oficial, como os eventos de cabanhas.
– Ainda não definimos isso, mas poderia ser ainda para este ano. Como os recursos são provenientes da poupança rural, que tem a captação mais cara, os juros seriam um pouco maiores – diz Barbieri, explicando que as taxas ficariam entre dois e três pontos percentuais acima dos 5,5% cobrados nos remates oficiais até o momento.
No caso dos R$ 100 milhões anunciados pelo Banco do Brasil para a temporada, estão incluídos recursos para os programas ABC – que além da aquisição de animais preveem valores para integração lavoura–pecuária e melhoria de pastagens – e Pronamp, voltado a produtores de médio porte.
– Estamos sinalizando que não vão faltar recursos. Não tivemos estiagem e isso se reflete na pecuária, na qualidade do terneiros e da carne que estamos produzindo – diz João Paulo Comerlato, gerente do mercado de agronegócios da superintendência do BB no Estado, justificando o otimismo.
Segundo Comerlato, o banco também é consultado sobre a possibilidade de ofertar crédito para remates particulares mas, por enquanto, não há disponibilidade de recursos para essa finalidade.
ZERO HORA
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